Após processos, denúncias, declarações controversas e protestos, o CEO da Activision Blizzard, Bobby Kotick, divulgou uma carta aberta prometendo não só medidas para combater o assédio e discriminação dentro da companhia, como terá seu salário reduzido até que elas sejam implementadas.

"[...] eu pedi para nosso Conselho de Administração para reduzir minha compensação total até ele determinar que atingimos os objetivos transformativos em relação a gênero e outros compromissos descritos [...]", escreveu Kotick ao fim da carta. "Especificamente, pedi à Diretoria para reduzir meu pagamento para a menor quantia possível que a lei da Califórnia permite para pessoas que recebem um salário, que neste ano é US$ 62.500 [anual]. Para deixar claro, esta é uma redução em minha compensação total, não só meu salário. Estou pedindo para não receber nenhum bônus ou receber qualquer ação da empresa durante este período."

A questão do salário e bônus de Kotick tem sido um assunto delicado há muitos anos, com até os próprios acionistas da empresa questionando seus pagamentos — só neste ano ele recebeu US$ 155 milhões — e outros questionando o valor em meio a cortes de funcionários e condições precárias de alguns dos trabalhadores por salários baixos.

Call of Duty: Vanguard
Activision/Divulgação

No início da carta, o executivo reforça que a empresa fará mudanças quanto às estruturas que levaram a uma cultura de abuso, assédio e discriminação principalmente contra mulheres que trabalhavam na companhia.

"Algumas semanas atrás, eu reiterei nosso compromisso em virar a companhia mais acolhedora e inclusiva de nossa indústria", diz a carta. "Hoje, quero atualizar vocês quanto ao progresso inicial e passos adicionais importantes que estamos tomando para avançar esse compromisso com maior impacto, transparência e urgência."

"Meu objetivo — e o objetivo de nossa Diretoria, toda a nossa equipe corporativa sênior, nossos líderes de negócios e suas equipes — é garantir que vocês tenham os recursos, a cultura e o compromisso com a liderança que precisarem para suceder em nossa aspiração coletiva de ser um ambiente de trabalho modelo em toda a indústria."

"Ser convidativo e inclusivo, no contexto de nosso ambiente de trabalho, é clara. Ainda iremos debater ideias de forma passional, contar com ceticismo saudável quando apropriado, e exigir excelência e rigor em todas as nossas ambições — mas sempre iremos tratar uns aos outros com dignidade e respeito. E apesar das diferenças, vozes serão ouvidas, perspectivas aceitas, e contribuições valorizadas", declarou Kotick.

Em sua carta, o CEO listou cinco tópicos que indicam a mudança da estrutura interna da empresa:

1- Uma política de "tolerância zero" contra casos de assédio em toda a companhia, declarando que funcionários que cometerem assédio ou ameaçarem retaliação contra quem denunciar casos serão demitidos imediatamente, e que todas as denúncias serão investigadas e analisadas para garantir a proteção dos empregados que sofrerem qualquer abuso.

2- Aumentar a porcentagem de mulheres e pessoas não-binárias em 50% e investir US$ 250 milhões nos próximos 10 anos em "iniciativas que expandirão oportunidades em games e tecnologia para comunidades com menos representatividade". Cursos avançados também serão oferecidos para membros dessas comunidades para colocá-los em mais posições de liderança dentro da empresa.

3- O fim da obrigatoriedade da política de arbitragem forçada em casos de assédio, que impediam ações legais contra a companhia ao limitar os direitos dos funcionários de resolver os assuntos publicamente.

4- Maior transparência quanto à igualdade salarial entre homens e mulheres

5- Manter atualizações constantes quanto a essas mudanças.

"Eu gostaria verdadeiramente que nenhum funcionário tenha sofrido uma experiência no trabalho que levou a danos, humilhação ou pior — e aos que foram afetados, eu peço desculpas sinceras", escreveu Kotick. "Vocês têm a minha palavra de que vamos fazer o possível para honrar nossos valores e criar um ambiente de trabalho que cada membro desta equipe merece."

"Estou grato pelo quanto as pessoas se importam com esta companhia, e aprecio que muitos empregados do passado e do presente tenham se pronunciado com suas ideias, preocupações, críticas e sugestões. Suas experiências, compartilhadas tão corajosamente, servem como a razão e lembrete de porque é tão importante para nós sermos melhores. E seremos."

O grupo ABK Workers Alliance, que procura defender os interesses dos trabalhadores da companhia, celebrou a promessa de aumento de inclusividade e do fim da arbitragem forçada, mas reforçou que a empresa tem muitos outros problemas a resolver.

"Embora hoje seja uma grande vitória para nós, continuamos vigilantes e reforçando outras práticas da indústria que precisam mudar. Ainda seguimos firmes na exigência de que a investigação seja feita por uma entidade sem viés, o que a WilmerHale [firma de advocacia ligada a quebra de movimentos sindicais] não é."

"Continuamos a pedir para que mais seja revelado sobre outras práticas da indústria, como o crunch, que pode ser particularmente danosa à saúde de desenvolvedores, especialmente a de pessoas com deficiências ou doenças crônicas."

"Continuamos a manter nosso apoio incondicional a nossos colegas em toda a indústria que também exigem mudanças. @BetterUbisoft ainda tem demandas que não foram resolvidas. Juntos seremos a mudança."