Lançado em 2009, o título original da série Borderlands conquistou uma legião de fãs com seu senso de humor irreverente, jogabilidade frenética e pelo pioneirismo no subgênero que viria a ser conhecido como shooter-looter: jogos de tiro que combinam elementos de RPG com uma enxurrada de armamentos diferentes que podem ser conquistados pelo jogador.

Passada uma década, no entanto, essas características marcantes da franquia já deixaram de ser novidades há um tempo considerável - hoje não faltam opções para o jogador que está em busca do que a série Borderlands oferece em termos de jogabilidade. No caso específico dos shlooters, aliás, o ano de 2019 tem sido particularmente agitado, com escolhas que vão de games antigos que seguem na ativa, como Destiny 2 e Warframe, a novos entrantes na disputa, como Anthem e The Division 2.

Ainda assim, ao invés de tentar atualizar ou reimaginar a série Borderlands para diferenciá-la de outras franquia e chamar a atenção de novos jogadores, a Gearbox Software parece ter resolvido ir na direção oposta: Borderlands 3 é exatamente mais do mesmo. Mas isso não é necessariamente algo ruim.  

Anunciado oficialmente durante a PAX East deste ano, Borderlands 3 ganhou suas primeiras imagens de gameplay nesta quarta-feira (01), durante um evento especial da Gearbox em Los Angeles, nos Estados Unidos. Durante o evento, tivemos a oportunidade de jogar Borderlands 3 por cerca de 90 minutos, tempo suficiente para notar quais as novidades introduzidas e o que segue sendo a mesma coisa no novo jogo da franquia.

Borderlands 3 Gameplay
Gearbox Software/Reprodução

Como esperado, Borderlands 3 traz quatro novos personagens jogáveis, Vault Hunters convocados por Lilith, comandante do grupo Crimson Raiders, para investigar e combater o culto religioso Children of the Vault - grupo liderado pelos gêmeos Troy e Tyreen que tem o objetivo de abrir novos Vaults para conquistar seus poderes.

Durante a demo, pudemos ver mais detalhes da poderosa siren Amara e de Zane, personagens que misturam características de um soldado e assassino. FL4K e Moze, dupla que completa o quarteto de personagens jogáveis, ainda não foram oficialmente detalhados.

A primeira grande novidade de Borderlands 3 é que cada um dos quatro Vault Hunters terá três habilidades especiais disponíveis, ao invés de uma única habilidade principal, como em jogos anteriores. No caso da personagem Amara, com a qual jogamos durante o demo, as habilidades são Phaseslam, um golpe que dá dano elemental em área; Phasecast, uma projeção astral que funciona como uma espécie de “Hadouken”, e Phasegrap, habilidade dá dano e paralisa um inimigo em uma posição fixa.

Com exceção de Zane, que pode equipar duas habilidades especiais simultaneamente, cada Vault Hunter só poderá selecionar uma habilidade por vez. Através do menu de habilidades, no entanto, é possível selecionar outro especial a qualquer momento, desde que o jogador tenha “comprado” a habilidade com os skill points ganhos a cada novo nível conquistado.

Borderlands 3 Gameplay
Gearbox Software/Reprodução

Na prática, as três habilidades especiais dão mais variedade a cada um dos quatro personagens jogáveis e permitem que cada jogador desenvolva um estilo de gameplay diferente com os vault hunters. Segundo a Gearbox, a ideia é que essa variância permita também que mais de um jogador utilize o mesmo personagem no modo multiplayer, mas joguem com estilos completamente diferentes, abrindo mais possibilidades para o modo cooperativo.

Apesar da mudança com as habilidades especiais, as árvores de habilidades dos personagens continuam bastante similares ao sistema dos jogos anteriores, com skills diversas que aumentam a proficiência do personagem em combate - seja através de mais pontos de vida, dano de armas, dano elemental, velocidade de recarga, quantidade de balas que podem ser carregadas, ou outras habilidades mais específicas de combate.

O combate, aliás, é a área mais familiar para qualquer jogador egresso de algum título da série Borderlands. Pouca coisa mudou na ação de Borderlands 3 em relação aos jogos anteriores - com a notável exceção da nova mecânica de slide, que dá mais agilidade aos embates corpo-a-corpo. Basta ter jogado ao menos um dos games anteriores da franquia para se sentir em casa com mesmo estilo frenético e nonsense de Borderlands.

Mas isso não significa que algumas novidades não estejam presentes

Borderlands 3 Gameplay
Gearbox Software/Reprodução

A primeira delas é um novo tipo de dano elemental, a radiação. O dano substitui o antigo e confuso slag de Borderlands 2, mas desempenha um efeito semelhante: amplificando outros danos elementais e dando dano extra por segundo em inimigos. Os danos explosivo, corrosivo, de fogo, elétrico e o dano de gelo - introduzido originalmente em Borderlands: The Pre-Sequel - também estão presentes e funcionam com a mesma lógica de jogos anteriores - o que inclui inimigos vulneráveis e resistentes a diferentes tipos de dano.

Borderlands 3 também conta com um novo sistema de modo de “tiro alternativo” para a maioria de suas armas, que promete ampliar a capacidade de combate do jogador consideravelmente. O sistema é divertido e conta com algumas armas bastante simples - como, por exemplo, um modo de tiro semi-automático e outro completamente automático - e outras bem mais elaboradas - como diferentes danos elementais em uma mesma arma ou armas que possuem um modo de tiro normal e um lança-granadas acoplado. Ah, as armas com perninhas são reais e são tão divertidas quanto parecem.

Ao infinito e além

Como indicado no trailer de anúncio do jogo, Borderlands 3 será o primeiro jogo da série que levará o jogador para fora do sistema de Pandora, planeta que é o centro da ação de todos os jogos da franquia até agora - ainda que Borderlands: The Pre-Sequel se passe em Elpis, lua de Pandora.

Borderlands 3 Gameplay
Gearbox Software/Reprodução

Poucos detalhes foram dados sobre os planetas que estarão disponíveis além de Pandora, mas já é sabido que um deles será Promethea - planeta-natal de Roland e uma das bases de operação da corporação Atlas. Durante nossa sessão de gameplay com o jogo, pudemos atravessar algumas missões no planeta, que oferece um visual urbano bem diferente de Pandora e vive uma guerra de “aquisição hostil” entre as corporações Atlas e Maliwan.

O campo de batalha serve como cenário para a introdução de um dos novos NPCs do jogo, a guerreira Lorelei, além de dois outros rostos conhecidos da série: Zer0, um dos personagens jogáveis de Borderlands 2, e Rhys, protagonista de Tales of the Borderlands. Além deles, outros personagens conhecidos como a siren Maya, Sir Hammerlock, Ellie, Tiny Tina, Mad Moxxi e Marcus Kincade já foram confirmados como NPCs em Borderlands 3.

Para viajar entre os sistemas, o jogador contará com a nave Sanctuary III, um “hub central” que funciona de forma semelhante à Normandy, de Mass Effect, permitindo que o jogador encontre múltiplos NPCs e mantenha até um “quarto” pessoal na nave, onde pode guardar e expor suas armas preferidas em molduras.

Fim do loot ninja - se você quiser

Borderlands 3 Gameplay
Gearbox Software/Reprodução

Além dos pequenos ajustes no combate, as principais mudanças na jogabilidade de Borderlands 3 estão em seu modo multiplayer. O jogo conta com uma nova opção de co-op online apelidada de “loot instancing”, que tem como objetivo deixar o jogo mais “justo” para os jogadores.

Neste modo, todo o loot que aparecer durante as partidas será individualizado para participante da sessão - o que impede a ação dos “loot ninjas”, jogadores que correm para pegar todos os loots antes de seus colegas. Com o loot instancing ativo, cada jogador contará com sua própria cópia de todo o loot que aparece no jogo, que não é afetada pela ação de outros jogadores.

Há também uma opção que balanceia o HP e dano de inimigos de acordo com o nível de cada jogador, permitindo que dois jogadores de níveis diferentes atravessem uma mesma fase ao mesmo tempo, enfrentando inimigos balanceados para seu próprio nível. As duas opções, no entanto, podem ser desabilitadas no “modo clássico” do jogo, que permite o roubo de loot e inimigos desbalanceados.

Outra mudança considerável é que Borderlands 3 agora permite que o jogador seja revivido por NPCs caso caia em combate, o que dá mais uma opção de sobrevida ao jogador além do clássico “second wind”.

Borderlands 3 Gameplay
Gearbox Software/Reprodução

Déjà vu, mas não muito

Com a revelação oficial do gameplay de Borderlands 3, fica claro que a Gearbox optou pelo caminho seguro de entregar exatamente o que fãs da série gostariam: mais caos, mais loot, mais ação absurda e mais do humor já característico da franquia. Se alguém esperou sete anos por um Borderlands diferente dos antecessores, esse não é seu jogo.

A sensação de déjà vu, no entanto, é acompanhada por algumas pequenas mudanças de gameplay e novas mecânicas que dão um suspiro de renovação ao jogo, e fazem dele uma experiência diferente o suficiente para não parecer uma simples expansão de Borderlands 2.

Para os que esperavam mais, vale ressaltar que a Gearbox ainda tem planos de revelar mais detalhes sobre o jogo até seu lançamento - incluindo participações na E3 2019 e na Gamescom, o que sugere que detalhes de novos conteúdos ainda não revelados para o futuro, incluindo planos para DLCs, ainda podem vir por aí.

Por ora, no entanto, Borderlands 3 permanece sendo um “retorno para casa” para fãs da série, oferecendo exatamente o que seus antecessores ofereciam, mas com maior escopo e ambição.

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Borderlands 3