Tenho um relacionamento de longa data com League of Legends. Ele não foi meu primeiro jogo, mas foi um dos que mais me prenderam, me proporcionou momentos incríveis, pessoas sensacionais, experiências de vida e oportunidades gigantescas.

Pode parecer supérfluo dizer que devo muito a esse jogo e que ele me abriu portas que eu sequer sabia que existiam na minha vida, mas é verdade. Lembro de, desde sempre, desejar um anime ou uma série sobre ele.

Quão legal seria assistir os personagens que estão na telinha do seu jogo diariamente em uma aventura cinematográfica? Assistir a Caitlyn ganhar vida — e ter seus próprios pensamentos, para além das frases prontas que costumamos ouvir. Seria demais.

A Riot Games, nos últimos tempos, tem investido pesado em trazer o universo de seus jogos — especialmente League of Legends — para além das telas do computador. Expandir o tão icônico jogo mostra a mentalidade da empresa por trás do sucesso que ele se tornou.

Histórias em quadrinhos, jogos independentes com selo da Riot e com base no universo do game estão entre as mídias de expansão, além da série animada Arcane, que foi lançada na Netflix neste sábado (06).

Do jogo à animação

arcane

(Um pequeno aviso: esse texto pode conter spoilers, siga por sua conta e risco)

O que você poderia pensar sobre uma série de League of Legends precisa ser esquecido a partir daqui. Arcane traz um tom maduro e sério ao jogo, investindo pesado na história de alguns dos campeões e de algumas regiões de Runeterra.

Uma das coisas que sempre me agradou muito em LoL foi a quantidade de conteúdo disponível sobre tudo o que diz respeito a ele. Você pode saber detalhes da vida de cada campeão se quiser, basta encontrar a história referente a ele no site oficial.

Passado, presente e futuro compilados em algumas palavras que podem te transportar imediatamente para o mundo desse personagem. Arcane reuniu algumas das histórias dos personagens — e deu um sentido mais aprofundado e maduro para elas.

Relacionamento entre irmãs

jinx e vi

Começamos o primeiro episódio conhecendo uma turma de crianças, da qual já podemos ver dois rostinhos familiares entre eles, Vi e Jinx, duas irmãs órfãs que foram adotadas por Vander, o dono do bar A Última Gota e uma espécie de chefe da Subferia.

Os primeiros três episódios vão focar bastante na vida das irmãs que, por um acontecimento trágico, acabam criando uma rivalidade entre si. 

É incrível assistir o amadurecimento de ambas as personagens e mesmo do relacionamento das duas: ver Vi transbordar de amor pela irmã e defendê-la a todo custo para depois abandoná-la e passar a rejeitar a ideia de sequer pensar nela.

E Jinx — que na verdade se chama Powder — vai de uma inocente menina da Subferia a, literalmente, um gatilho desenfreado.

Regiões de Valoran

A história se passa entre a cidade de Piltover e Subferia — lugares tão diferentes em cores, ideais e pessoas que fica claro a crítica de classes que a série também quer passar.

E aqui podemos fazer uma ponte com diversos filmes e séries da atualidade como, por exemplo, Jogos Vorazes, onde a Capital de Panem controla todos os 12 Distritos — que são, cada um deles, responsáveis por fornecer algo a ela e de onde vem as pessoas menos abastadas.

A Subferia é a parte escura e sombria que a Cidade do Progresso quer esconder e manter calada. Não sei porque a série se refere a este lugar como Subferia sendo que — claramente — é Zaun.

A descrição de Zaun diz que ele é “um grande distrito subterrâneo aos pés de cânions profundos e vales que cortam Piltover. A pouca luz que chega lá é filtrada pelas fumaças que saem dos emaranhados de canos corroídos e refletem do vidro manchado de sua arquitetura industrial”.

Talvez exista um motivo para o nome Zaun não ter sido mencionado na série, mas não pude deixar de notar essa pequena curiosidade.

Rostos conhecidos

Além de Jinx e Vi, personagens queridos e familiares também dão as caras na série, como Viktor, Ekko, Caitlyn, Jayce e até mesmo Heimerdinger — Professor Heimerdinger, na verdade.

A animação é tão bem feita e bem trabalhada que os personagens mostram o clássico do jogo com um toque a mais, que certamente foi dado pela equipe que fez a série e, diga-se de passagem, a fez muito bem.

Além disso, a história da série é bem contada e pode ser facilmente entendida por quem não conhece League of Legends. E é isso que a Riot também gostaria: que as pessoas não enxerguem Arcane somente como um produto advindo do jogo League of Legends, mas como algo independente com uma trama capaz de superar expectativas de quaisquer pessoas — conhecendo ou não o game.

É claro que é imensamente mais divertido assistir a ela conhecendo o mundo de League of Legends e até mesmo já tendo jogado com alguns dos campeões que aparecem por lá, como Viktor e Jayce, por exemplo, já que na série você descobre de onde suas armas vieram.

Um presente e tanto para os fãs

Arcane mantém perguntas elaboradas no ar e dá aos espectadores a chance de respondê-las por si só. Levanta questões e pautas importantes para discussão e entrega um show de estilo e música boa para todos.

As referências — para os amantes de League of Legends — vão deixar você com gostinho de quero mais e fazer com que você desligue a Netflix após os episódios e vá direto para o site oficial do jogo saber e entender mais da história de todos os personagens.

Entregar uma história tão profunda e madura como essa é um exemplo do comprometimento da Riot Games em fazer com que seu jogo cresça para além dos computadores, como ela já tem feito com maestria. Mas Arcane leva League of Legends a um lugar nunca antes explorado pela Riot com seus jogos e que, talvez, mostre um futuro brilhante para eles.

Ainda faltam alguns episódios para serem lançados e meu coração está ansioso por eles, mas já posso falar que Arcane superou todas as minhas expectativas em relação a uma série animada do jogo e me deixou com um incrível sorriso no rosto após terminar os episódios disponíveis. A Julia de 11 anos atrás jamais imaginaria que isso seria algo que ela comemoraria um dia — mesmo que ela desejasse muito.

A série é, como a própria Riot Games diz, uma carta de amor aos fãs. Uma que eu li com muito carinho e mal posso esperar para o próximo capítulo.