Reprodução: Platinum Games
Review: Bayonetta 3 é o melhor jogo da série
Espetáculo de ação de combate, título serve um final épico e eletrizante à altura da trilogia
A bruxa mais irreverente e sexy dos games está de volta no que é, sem sombra de dúvida, a aventura mais épica e emocionante da série até hoje.
Bayonetta 3 oferece uma constelação eletrizante de sequências de ação, soluções criativas e muita diversão contagiante, sendo um prato farto para aqueles que esperaram pacientemente por oito anos.
No terceiro e melhor jogo da série, a Platinum Games continua servindo criatividade, ação e humor com hack and slash de ponta e experimentação com diferentes gêneros de games.
O diferencial desta vez, porém, é que o gameplay está mais variado e divertido do que nunca, oferecendo nuances e escolhas ao jogador em uma experiência que passa longe da monotonia.
Em Bayonetta 3, a bruxa trilha uma jornada íntima e conflituosa, em que as forças e limitações de seu lado humano são postas à prova. Com uma viagem ao redor do mundo, a série abre o leque de possibilidades para um futuro com três mulheres maravilhosas — cada uma com o próprio estilo de combate, gameplay e empoderamento, que empolga e contagia.
Bayonetta
Mais expressiva, atrevida e fabulosa do que nunca, Bayonetta pousa no seu primeiro jogo criado, de fato, para o Nintendo Switch deixando borboletas e glitter a cada passo. Trazendo cor e irreverência aos pandemônios mais catastróficos que já vimos na franquia, a bruxa esbanja poder com um arsenal farto de armas e demônios.
Uma das mudanças mais consideráveis no combate, que é o aspecto que mais brilha em Bayonetta 3, é o modo Demon Slave. Ao longo da jornada, Bayonetta recruta diferentes criaturas demoníacas, as quais podem ser invocadas assim que a barra de magia da bruxa estiver cheia.
Criaturas das mais assombrosas e bizarras, que vão de uma aranha a um trem, esses demônios são capazes de transformar o campo de batalha em um combate de titãs – ou, se assim preferir, em um cenário em que seu monstrengo esmaga um conjunto de pequenos inimigos indefesos sem dó nem piedade.
O modo Demon Slave veio trazer mais dinamismo e rapidez às batalhas, uma adição muito satisfatória e bem-vinda. Por exemplo, invocar seu demônio no momento exato em que um ataque inimigo acerta o jogador resulta em um golpe especial do summon, algo que adiciona ainda mais possibilidades à vasta lista de combos.
Recorrer com frequência ao elenco de seres monstruosos torna, sim, os pequenos embates mais fáceis, mas também permite que o jogador alcance mais rapidamente as batalhas mais desafiadoras, como as de chefe, se assim preferir.
Cada demônio de Bayonetta também é protagonista de sequências épicas e criativas de ação, como uma corrida sob um horizonte de prédios. Esses momentos são tão épicos que é difícil não ser completamente tomado pela adrenalina eletrizante.
Com certeza, os demônios são agentes de grande parte dos momentos memoráveis do game. Sendo assim, fica até difícil escolher um favorito. O meu, provavelmente, é a aranha Phantasmaraneae.
Outro elemento que adiciona considerável dinamismo aos combates de Bayonetta 3 é o amplo leque de novas armas à disposição da bruxa.
Cada demônio recrutado é acompanhado de uma nova arma com diferentes atributos e aplicações. Sabendo que ainda é possível equipar duas ao mesmo tempo, o jogador pode selecionar as armas que mais combinam com o próprio estilo de jogo e alterá-las para criar o ritmo de combate que desejar.
Por exemplo, me diverti alternando entre a agilidade do yo-yo chicote de Phantasmaraneae com o porrete lento e poderoso de Madama Butterfly, finalizando meus combos aéreos com um impacto forte no chão.
Armada com seu arsenal mais variado e poderoso até hoje, Bayonetta atravessa o mundo enfrentando acontecimentos épicos em grande escala e derrubando seres monstruosos de biomatéria. Assim como nos jogos anteriores, as batalhas de chefe continuam criativas e desafiadoras, demandando diferentes habilidades do jogador.
Uma exceção é a primeira batalha de chefe, que, com certeza, é a que mais deixou a desejar. Estranhamente, o chefão recorre com uma frequência alta demais a um ataque de jato que facilmente pode ser evitado caso o jogador fique parado em determinado ponto do campo de batalha. Além disso, o monstro só pode ser atacado à distância, e, por isso, foi triste ter que matá-lo basicamente à base do tiro, sem outras opções.
Viola
Fora Bayonetta, o jogador tem a possibilidade de controlar outras duas personagens. Aquela com quem alternamos no trajeto principal é Viola — e, nossa, é difícil não se apaixonar por ela.
Esbanjando carisma, humor e charme punk rock, a jovem bruxa conquista o jogador rapidamente na jornada pelas Chaos Gears. Ainda mais com a música de batalha dela, que consegue ser mais contagiante que a de Bayonetta.
Viola possui menos demônios, armas e menos destreza que Bayonetta. Ainda assim, brilhantemente, a adição da personagem proporciona não apenas novo gameplay, como altera completamente a forma como o jogador encara os inimigos.
Diferente da bruxona, que ativa o Witch Time com uma esquiva perfeita, a garota de cabelo colorido só consegue paralisar o tempo ao se defender com sua katana no momento exato, um recurso ativado com o botão R, ao invés do ZR.
Desta forma, o parry é responsável por proporcionar uma dinâmica diferente de batalha: ao invés de esmagar botões e avançar agressivamente, passa a ser necessário jogar na defensiva e esperar o momento certo para criar uma abertura.
No fim, Viola representa um novo e bem-vindo sopro de vida e variedade à fórmula hack-and-slash da série.
A naturalidade da transição é facilitada por um desafio de Defeat them All, posicionado logo no início do primeiro capítulo de Viola, em que o jogador só infringe dano durante o Witch Time, de forma a treinar a execução do parry. Inclusive, essa é uma função recorrente dos desafios de Defeat them All, que, desta vez, são mais variados e interessantes.
Jeanne
Outra novidade de Bayonetta 3 são as sequências de plataforma com rolagem lateral protagonizadas por Jeanne, a terceira bruxa que controlamos no game.
Aqui, a proposta é inusitada e completamente diferente do restante da experiência: avançando furtivamente por uma fortaleza inimiga, o jogador deve abater e esconder inimigos detrás de portas e dutos de ventilação, abrir portas e encarar chefões para avançar pelo complexo.
Por trás das portas, a bruxa pode encontrar colecionáveis, itens de vida e diferentes armas para auxiliar no avanço. Os armamentos se fazem essenciais, principalmente, nas batalhas de chefe que, brincando com a perspectiva 2D, forçam o jogador a dominar os cenários plataforma para esquivar dos ataques — imagine os confrontos de Subspace Emissary, modo história de Super Smash Bros. Brawl, e saberá do que estou falando.
Em suma, os trechos com Jeanne são uma espécie de Metal Gear Solid-encontra-Bayonetta em cenários plataforma — e, ainda por cima, cada capítulo é aberto com uma cena especial no maior estilo Cowboy Bebop.
Não à toa, essa mistura inusitada é tão divertida e satisfatória que foi notável a ausência de mais capítulos com Jeanne. Caso o plano da Platinum seja mesmo lançar um jogo da bruxa de cabelo platinado, como indica a dubladora Hellena Taylor, seria muito interessante ver mais dessa proposta.
Mais refinamento cairia bem
Por mais que a Platinum tenha acertado em cheio no combate e ritmo dinâmico de Bayonetta 3, é impossível ignorar alguns detalhes que carecem de refinamento. Tratam-se de fatores de envelopagem, como modelos humanos grotescos no fundo de cutscenes (cuja feiura fica ainda mais gritante diante dos detalhes investidos nos personagens principais) e um overworld com elementos em resolução chocantemente baixa.
Em específico, a área que serve de hub entre realidades, a ilha de Thule, é onde mais se percebe o trabalho um tanto desleixado e, aparentemente, incompleto com os cenários. Por mais que o plano de fundo, à distância, tenha alta resolução, elementos mais próximos da protagonista, como árvores, cachoeiras e névoas (que em certo ponto deixaram um contorno serrilhado ao redor de Bayonetta), chamam atenção pela carência de refinamento.
Em contraponto, durante os testes, Bayonetta 3 teve uma performance otimizada e fluída no Switch, com poucas e curtas telas de carregamento, transição entre cenas e gameplay quase ininterrupta e poucos bugs gráficos e de câmera.
Além disso, Thule foi a área mais divertida de se explorar, contendo grande extensão, diversos níveis, segredos e atividades que recompensam os jogadores mais curiosos.
É claro que, sabendo que se trata de um jogo que passou ao menos cinco anos em desenvolvimento, esperava-se maior refinamento estético, mesmo dentro das limitações gráficas do Switch. Ainda assim, diante da boa performance do jogo em ambos os modos portátil e dock, e a qualidade do gameplay, o baixo refinamento de certos trechos em pouco impacta a experiência final.
A Platinum recheou o jogo com mudanças de qualidade de vida, como menu de fácil navegação no mapa de seleção de capítulos, acesso rápido ao bar de Rodin e árvore de progressão. Entretanto, é notória a ausência de alguns recursos básicos que tornariam o combate ainda mais agradável, como botão de acesso rápido à cura e a possibilidade de alternar a mira focada entre inimigos.
Outra questão que Bayonetta ainda tem a melhorar é o olhar masculino, que ainda sexualiza demasiadamente as protagonistas. Nesse sentido, de pouco adianta a adição do modo “Naive Angel”, que censura a nudez, bebidas alcoólicas e cigarros, pois a câmera continua a mergulhar nas partes íntimas das personagens femininas.
A boa notícia é que os closes questionáveis estão, sim, bem mais esporádicos. Desta forma, o desconforto da experiência é consideravelmente menos expressivo em relação ao primeiro jogo, por exemplo.
Há um determinado trecho, porém, em que a sexualização é gritantemente exagerada, distorcendo o verdadeiro potencial de Madama Butterfly e da própria Bayonetta.
Do céu ao inferno e ao caos
As mais de 18 horas necessárias para terminar a história principal de Bayonetta 3 foram regadas por uma trilha sonora orquestrada dramática e enérgica, muita diversão e euforia. Ao terminar a campanha, ainda fui agraciada por uma seleção de conteúdos pós-jogo e conquistas, que dão potencial a ao menos mais uma dezena de horas de jogatina. O sentimento que fica é que a espera de oito anos para a chegada do título foi, sim, recompensada.
Bayonetta 3 é uma experiência formada por surpresas constantes, adições de qualidade de vida, ação dinâmica e eletrizante e uma história épica. Por mais que careça de refinamento, o resultado final é um espetáculo obrigatório para os fãs da série.
Embora ainda exista certo olhar masculino imprimido no game, ser mulher e poder jogar com Bayonetta, Viola e Jeanne, personagens tão poderosas e divertidas, representa uma alegria enorme.
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- Lançamento
28.10.2022
- Publicadora
Nintendo
- Desenvolvedora
Platinum Games
- Censura
14 anos
- Gênero
Hack 'n' slash
- Testado em
Nintendo Switch
- Plataformas
Nintendo Switch