O terceiro dia da Rio2C trouxe painéis de games relevantes para o Brasil. O foco sai um pouco dos eSports e se volta para a indústria tradicional de games com o painel sobre games brasileiros. Tivemos também o diretor geral da Ubisoft na América Latina falando sobre o futuro do entretenimento e as oportunidades que a empresa ainda vê na tecnologia blockchain e NFT.

Confira o que rolou:

GAMES BRASILEIROS: ULTRAPASSANDO FRONTEIRAS

O painel contou com a presença de Carolina Caravana, VP da Abragames, Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais, Filipe Pereira, Game Designer e criador do jogo Árida: Backland's Awakening, e Rafael Sbarai, Head de produto e operações do Cartola Express na Globo.

A apresentação se focou na capacidade de empresas brasileiras de games de se inserirem no mercado internacional, e na brasilidade diferencial dos nossos games.

Os palestrantes explicam que na produção brasileira de games há uma preocupação de tornar nosso mercado exportador da brasilidade. "Estamos tentando entender como a cultura que é popular do Brasil pro mundo pode ser utilizada nos games sem parecer piegas, pra aumentar a disseminação da nossa cultura mundo afora. Os games fazem parte dessa estratégia com certeza.", explica Carolina.

Carolina explica também que produtos culturais como a música, cinema, literatura faz com que o país ganhe importância no mercado internacional, e os jogos com certeza fazem muito parte desta estratégia. Um bom exemplo é o de como a DLC Senna Sempre para o game Horizon Chase Turbo coloca o Brasil em protagonismo com a qualidade do produto e a popularidade do ídolo Ayrton Senna no Japão e mundo afora.

É mencionado na apresentação alguns dados conhecidos como do Brasil ser o 11º mercado de games do mundo, consumimos aqui em torno de 3 bilhões de dólares todo ano em games.

Carolina então diz que a única coisa que falta para o Brasil deixar de ser principalmente um mercado consumidor para se tornar igualmente um mercado exportador de games é: investimento.

"Principalmente depois da pandemia, ficou claro pra quem não era da área, que essa é uma área muito forte, muito estável e em crescimento", disse Carolina fazendo coro com o que a CEO da Black Dragons disse no painel sobre eSports do dia anterior.

Carolina também cita que o mercado nacional de games está em um foco internacional, não apenas para público consumidor, mas também para o público produtor e fala como as empresas mundo afora estão de olho nos nossos estúdios e desenvolvedores citando o investimento da Epic Games na brasileira Aquiris. 

"O mundo está querendo contratar o Brasil, está querendo comprar jogos Brasileiros, está querendo ajudar a exportar jogos Brasileiros, então várias publicadoras chegam aqui no Brasil querendo saber quais são os jogos novos e em busca da criatividade do Brasil, isso tudo porque o trabalho é bem feito".

Felipe então explica que não é apenas de mais investimento que o Brasil precisa para extrair melhor o potencial que temos, mas também melhorar a organização de nosso ecossistema como um todo. Pela natureza da extensão do nosso país, Felipe percebe que as diferentes regiões não se comunicam tanto quanto poderiam e detalha "nós precisamos de um CNPJ do sul para fazer parte da associação de games do Sul, pois não tem uma no nordeste".

Outro ponto levantado foi o de que o foco internacional no Brasil não traz apenas benefícios, traz também desafios para os estúdios brasileiros com empresas de fora contratando um número significativo de nossos talentos com ofertas de salários que ainda são irreais para a nossa realidade. "Pra mim, como líder de time é muito difícil toda semana um funcionário meu chegar falando que recebeu uma proposta 3, 4 vezes maior de fora para poder trabalhar. Não tem como competir com essa galera", disse Felipe.

A apresentação termina falando que temos uma defasagem no Brasil de profissionais em tecnologia em torno de 110.000, e que as empresas têm uma dificuldade de manter talentos que já estejam desenvolvidos ao ponto de serem considerados como sênior.

Felipe explica que a forma que temos de manter esses profissionais no Brasil é encontrar pessoas que possam ter uma conexão muito forte com a direção que a empresa está tomando e a visão de futuro e completa: "o amor pelo que faz é o que mantém os principais talentos aqui. E isso fortalece o ecossistema de games no Brasil".

Para mais detalhes sobre o papel do Brasil na indústria AAA nos consoles, confira a entrevista de Carolina Caravana, VP da Abragames ao The Enemy em nosso instagram.

FUTURO DO ENTRETENIMENTO

O painel sobre como as novas tecnologias e a transformação digital trouxeram novas dinâmicas ao entretenimento contou com a presença de Bertrand Chaverot, Diretor Geral da Ubisoft na América Latina, Sylvie Forbin, Diretora geral adjunta do Setor de Direitos Autorais e Indústrias Criativas na França, Marcelo Castello Branco, atual CEO da União Brasileira de Compositores e Iafa Britz, Sócia e Produtora da Migdal Filmes, conhecida pela trilogia de “Minha Mãe é Uma Peça”.

O painel começa falando sobre como a COVID-19 impactou as diferentes indústrias criativas e sobre como as mudanças que ocorreram vão afetar as produções no futuro.

Para o cinema, Sylvie acredita que a predominância do consumo online que aconteceu durante a pandemia veio para ficar e podemos observar isso com vários serviços de streaming disponibilizando superproduções do cinema semanas depois de sua estréia na telona.

Apesar dessa mudança é observado que, com a retomada do cinema, muitos serviços de streaming de filmes viram uma queda grande de assinantes, o que indica que ambos vão coexistir de uma forma muito mais paralela em relevância do que era antes da pandemia. 

Isso irá forçar estúdios e gravadoras a reavaliarem até mesmo os contratos com seus artistas, que notoriamente ganham royalties pela bilheteria dos filmes, mas nem tanto com os serviços de streaming, situação que originou o processo de Scarlett Johansson contra a Disney por causa da exibição de seu filme no Disney+.

Para a música, Marcelo Castello Branco explica como ela era a protagonista no século passado e agora com a ascensão de outras mídias a música perdeu um pouco do protagonismo mas ganhou um potencial ilimitado pois está em todas as produções seja de filmes, videogames ou qualquer outra produção audiovisual.

Para o futuro, Marcelo exalta sob aplausos, uma importância "que vai além da moldura legal de existente em cada país" que é a de remunerar de maneira justa a cada um dos setores, sejam os envolvidos na criação daquela música, os que estão distribuindo e os criadores que utilizam a música em suas produções audiovisuais.

Quando se trata de games, Bertrand Chaverot, Diretor Geral da Ubisoft na América Latina, fala de convergência, tecnologia, marcas e inevitavelmente sobre NFT.

Bertrand explica que o presente e o futuro é a convergência das mídias: internet, televisão, música, cinema, e que já vemos os games em todas essas mídias atualmente. Um bom exemplo é o dos eSports na televisão e música nos games "já pagamos muito para a Anitta estar em Just Dance", Bertrand brinca e diz que convergência é essencial, que as empresas têm que pensar em tudo que podem fazer juntos para criar inovação.

O segundo ponto levantado por Bertrand para o futuro é a tecnologia. Para ele, duas coisas vão mudar tudo no futuro dos videogames, uma delas é o cloud gaming se tornando gradativamente melhor e mais acessível aos jogadores, colocando na mão das pessoas cada vez hardwares melhores que podem ser explorados pelos games.

A outra coisa que vai mudar tudo nos videogames para Bertrand é que eles vão fazer mundos virtuais cada vez mais reais com a utilização do que ele chama de "Voxel 3.0", que é como uma molécula virtual cheio de propriedades, e tudo no mundo vai ser construído a partir desses mini-voxels. Exemplificando, os pequenos voxels, ou "moléculas" de madeira ou couro carregam suas características próprias como poder pegar fogo, o tempo que leva para escurecer e virar carvão, o poder de flutuação na água e tudo mais o que é inerente às propriedades que esses materiais carregam na vida real.
Com isso, os desenvolvedores vão poder construir tudo no mundo, desde as roupas dos personagens, à vegetação, as montanhas, casas… e os materiais e a interação química entre eles vai se comportar dentro dos mundos virtuais como você esperaria que elas se comportassem na vida real.

Bertrand também cita que a Geração Z é um público exigente e inteligente, e que não apenas buscam games só para passar um tempo se entretendo, o jogo precisa agregar algum valor a quem está jogando, e que até em termos de marketing, não basta as empresas fazerem ações que parecem puramente comerciais, tem que ter uma paixão legítima.

Isso se estende também à utilização de novas tecnologias como blockchain e NFT, que apesar de amplamente descartada pelos jogadores, continua sendo muito acreditada pelos executivos da indústria que parecem ter idéias e visões para o futuro diferentes do público consumidor.

”Tentamos colocar NFT nos jogos da Ubisoft e levamos uma bronca das comunidades de jogadores. Mas acreditamos que esta tecnologia ainda vai dar essa liberdade criativa dentro do nosso metaverso, que são os jogos de amanhã, para criar e monetizar as pessoas que têm talento”.