Termina o segundo dia do evento de inovação e tecnologia que acontece no Rio de Janeiro de 26 a 29 de Abril no Rio de Janeiro, a Rio2C. Na última quarta-feira dia 27 de Abril, o Rio2C contou com painéis sobre a relevância dos eSports no Brasil falando como esse nicho ainda pode crescer, sobre o impacto dos games como poderosa ferramenta social nas favelas, sobre os planos futuros do Youtube Gaming no Brasil e mais.

E-SPORTS: A NOVA PAIXÃO NACIONAL

O painel contou com a presença de Nicolle Merhy (Cherrygumms), que é CEO da Black Dragons é uma das principais personalidades dos esports no Brasil, Leandro Valentim, Ex-Head de Games e eSports da Globo, Roberta Coelho, CEO do MIBR e Carlos Estigarribia, Diretor de Desenvolvimento de Negócios na área de games.

O painel trouxe dados sobre o desafio do Brasil em reconhecer o cenário que cada vez cresce mais, mas ainda está longe de atingir seu potencial.

"O que diferencia eSports de outros nichos de games é o foco em COMUNIDADES, eSports vai muito além do ato de jogar videogames", explica Roberta Coelho sobre como os eSports explodiram em popularidade pelo apelo emocional não apenas com a mídia em si, mas com o envolvimento que os fãs têm com os times, a torcida e até mesmo o chat.

Leandro explica que diferente de assistir um jogo de futebol na TV em casa, o ato de acompanhar eSports é ativo, não passivo. As pessoas assistem interagindo o tempo todo com outros torcedores no chat e isso é algo que muda o paradigma do torcedor em casa, tornando o envolvimento emocional muito poderoso e engajante.

"O poder dos eSports é tão grande que o próprio COI acredita ser questão de tempo até eSports chegarem às Olimpiadas", explica Roberta.

Ainda assim Nicolle, CEO da Black Dragons, acredita que hoje o mercado tradicional já entende muito melhor que o gamer não é mais "aquele cara que fica sozinho no quarto escuro comendo biscoito", mas que essa ainda é uma barreira que os times enfrentam e que a responsabilidade de educar o mercado sobre esse novo paradigma que evolui tão rápido é de quem está dentro dele. Já conseguimos levar o cenário de esports para um espaço que ele não entrava, precisamos de mais esforços para quebrar as barreiras que ainda faltam”.

Sobre o futuro dos eSports, Nicole acredita que vai haver cada vez mais uma mudança do foco dos PCs para o Mobile, e que apesar de termos uma base dos eSports muito consolidada nos PCs, cerca de 70% dos gamers atualmente estão no mobile.

Leandro acredita que os esportes tradicionais terão que se reinventar para acompanhar os esportes eletrônicos, e que é questão de tempo até times de futebol como Corinthians e Flamengo copiarem o modelo dos eSports e passarem a contratar produtores para entregar conteúdo sobre seus jogadores em tempo real, ou os próprios jogadores dedicarem parte do seu tempo para produzir conteúdo nas diferentes plataformas.

TRANSFORMAÇÕES, O GAME ALÉM DO GAME

O painel sobre o impacto social que os games podem ter na vida das pessoas, principalmente nas favelas, contou com a presença de Gui Barbosa, diretor de uma organização autônoma focada em games e negócios web3, Paulo Espanha, presidente do Instituto RioGamer, Ricardo Chantilly, diretor gera dal AfroGames e Thaís Dias Xavier, Desenvolvedora de jogos digitais e analogicos.

Existem uma série de projetos que estão mudando a vida das pessoas para melhor, utilizando a mídia que mais atrai jovens hoje em dia, que são os videogames. A Afrogames é uma delas, como ​​um centro de formação de atletas de E-sports em favelas, o projeto visa dar oportunidades para quem não vê outros caminhos.

"A educação formal não vai resgatar as crianças que ficaram por 2 anos fora das escolas na pandemia", explica Ricardo ao lamentar o fato de que muitas crianças sem escola acabaram entrando para o tráfico nos últimos anos por ser a única oportunidade que vislumbraram no meio onde viviam. Para criar novas oportunidades,a Afrogames em parceria com outras organizações passou a dar  aulas de web3 e blockchain para jovens da favela, e observaram que muitos garotos que estavam no crime, naturalmente saíram do crime por vontade própria ao vislumbrar uma outra oportunidade que os atraíam, mostrando só estavam no crime pois não viam outro caminho para suas vidas.

Gui Barbosa também apresentou o projeto BAYZ, que fornece gratuitamente aulas, tutoriais e guias sobre os principais games do novo modelo "play-to-earn", de jogos como Axie Infinity, Thetan Arena, Worker Town, Golden Bros que utilizam de tecnologia NFT e blockchain para permitir que jogadores ganhem dinheiro jogando.

"O jogador deixa de pagar pra jogar jogos, e passa a ser remunerado por jogar games, algo muito novo que também está mudando a vida das pessoas.", explica Gui Barbosa que acredita que esse novo modelo pode também ser uma oportunidade para melhorar a vida dessas pessoas.

Thaís, hoje desenvolvedora de jogos, trouxe seu relato sobre o poder transformador dos games como uma das jovens formadas nos cursos oferecidos pelos projetos sociais da AfroGames. Ao apresentar seu novo jogo, ela conta que já recebeu prêmios em dinheiro por vencer competições em Game Jams e que hoje trabalha com isso graças às oportunidades que encontrou neste meio. "O projeto trazer essas pessoas da periferia para os games é algo muito positivo, você tira a pessoa da linha da desesperança", diz Thaís.

YOUTUBE GAMING: UM PANORAMA DO MERCADO BRASILEIRO

O Youtube Gaming Brasil também marcou presença na última palestra sobre games que finalizou o segundo dia da Rio2C. Douglas Rodrigues, gerente de parcerias do Youtube Gaming Brasil, apresentou um panorama completo sobre a vertical de games do Youtube e falou um pouco sobre seus próximos passos.

O Youtube Gaming é muito mais do que os games, é um ecossistema baseado nas histórias. É muito mais do que freefire, é a história do Nobru." exemplifica Douglas ao explicar que o Youtube Gaming vai muito além das gameplays, é sobre a história dos criadores por trás delas, são as histórias criadas pelos jogadores dentro dos games.

"Dos 10 maiores criadores de conteúdo da plataforma em 2021, 5 são criadores de games e dois dos outros tem ao menos um canal secundário de games". Esses dados mostram como a vertical de games é extremamente importante para a plataforma e acabou ganhando uma relevância muito grande dentro do Youtube.

A busca por informações dentro do YouTube Gaming é muito importante para a indústria e a descoberta de jogos em geral. "65% dos jogadores buscam jogos no YouTube antes de comprar um jogo", explica. E os criadores estão no centro destes números, já que é principalmente em volta deles, e não das empresas, que a audiência costuma gravitar.  

"Quando um jogo é lançado e você busca pelo nome dele no Youtube, normalmente não é a empresa que fez o jogo que aparece na busca com as postagens oficiais, e sim os criadores dando o ponto de vista deles sobre os games (Gameplays, reacts, etc)."

A comunidade do Youtube Gaming está se reinventando, hoje a plataforma identifica diferentes categorias de vídeos em ascensão como:

  • RP (roleplay): São histórias criadas usando games, quase como um seriado, mas sem a limitação de grandes estúdios entre outras coisas.

  • Outras Mídias: Inserção de conteúdo vindo de séries, como "Squid Game" que foi um tema muito popular em vídeos de minecraft, freefire, entre outros.

  • Gaming e Música: Uma Interseção muito forte dentro da vertical de games, tem o exemplo do show de Travis Scott em Fornite, que no jogo teve uma audiência de 20 milhões, mas o vídeo no YouTube deu 150 milhões de views. Outro exemplo é a Fanbabe e o KDA. Muitas vezes os gamers não se vêem representados por outros artistas de música que não são gamers, então quando há esta interseção com o cenário, vemos uma audiência muito significativa.

  • Games com Esportes: Esportes da vida real, se conectando com games.

Douglas explica que o foco da plataforma atualmente é permitir que os criadores possam ter muitos formatos e possibilidades para criar: Shorts, VOD, Lives, esses são os 3 pilares.

Isso é extremamente importante pois foi a partir da pluralidade de formatos é que surgiram as game orgs como a LOUD, permitindo que elas influenciam toda uma indústria dentro e fora dos games.

Hoje os criadores utilizam esses formatos para atender as diferentes demandas de consumo de suas audiências:

  • Shorts para um conteúdo mais rápido sobre os games, muitas vezes de comédia.

  • Vídeo on Demand (VOD) para contar uma história

  • Lives para se aproximar e criar vínculos mais íntimos com a audiência mais próxima.

O Youtube também está investindo uma série de novas ferramentas para melhorar a experiência dos criadores como:

  • Shorts Remix: A possibilidade de criar shorts com áudios de outros vídeos do Youtube

  • Shorts Funds: Uma nova fonte de monetização, focada no formato de Shorts.

  • Gifted Memberships: A possibilidade de um usuário dar de presente o status de "membro pago" para outro usuário, um novo jeito de reconhecer a audiência similar aos "gift subs" da Twitch.

  • Melhorias nas Lives: Novas formas de achar conteúdo ao vivo e melhorias no chat das lives.

  • Live Shopping: Compra de produtos durante as transmissões ao vivo.

Em entrevista exclusiva para o The Enemy, Douglas contou que o Youtube como plataforma não faz distinção ou priorização de um formato específico (Lives, Shorts, VODs), o foco deles para médio e longo prazo é criar ferramentas competitivas para que os usuários que não usam o Youtube para criar nesses formatos, em especial Lives e Shorts, migrem seu conteúdo para o Youtube.

Sobre os Shorts, na vertical de gaming isso ainda é um grande desafio pois existem etapas extras para o criador que envolvem mais que filmar (já em formato vertical) e editar. Muitas vezes é necessário capturar uma gameplay, incluir na imagem, transformar aquele material para o formato vertical, entre outros processos. Tudo isso estaria sendo considerado para que o Youtube possa criar novas funcionalidades que atendam a necessidade dos criadores, mas nada é garantido, é um processo em andamento.

Douglas também contou ao The Enemy que o Youtube Gaming entende que o formato de Hard News, ou notícia, também é um formato de conteúdo muito popular para os criadores de games, e que apesar de ter uma audiência consistente, é também uma audiência bastante nichada e que este tipo de conteúdo dificilmente "estoura e fura a bolha". Conta também que dentro do Youtube Gaming atualmente não existem projetos específicos para Hardnews e que diferente das categorias de vídeos citadas anteriormente, o Youtube Gaming não tem uma categoria específica para notícias dentro da vertical Games.