No meio da eterna disputa entre fãs de Marvel e DC Comics no cinema, há um argumento fácil para atacar os filmes da Casa das Ideias: sobra humor e falta seriedade. Essa linha de raciocínio nos levou a reclamações estranhas, como a de que Guardiões da Galáxia Vol. 2 deveria ter menos piadas - o equivalente a pedir que um filme de terror tenha menos sustos ou um filme de ação tenha menos explosões e colisões.

O resultado do que aconteceria se os filmes de James Gunn tivessem menos piadas é Guardians of the Galaxy: The Telltale Series, uma imitação pálida e desconfortável do estilo que consagrou este grupo da Marvel nas telonas. Eu não me diverti em nenhum momento, e quando isso acontece em um jogo dos Guardiões da Galáxia, temos um problema.

Em seu episódio de estreia, “Na Fossa” (“Tangled Up in Blue”), o jogo tenta, com muita força, recapturar o espírito que encantou os fãs da equipe nos cinemas, desde o menu, que surge ao som de “Livin’ Thing”, faixa da Electric Light Orchestra repetida à exaustão no primeiro capítulo, e que remete muito à importante trilha sonora dos filmes.

Em seguida, começamos o capítulo à melhor maneira dos Guardiões: uma briga entre a equipe. O grupo discute entre si enquanto está prestes a enfrentar ninguém menos do que Thanos, e o desfecho da batalha arma uma premissa interessante para a história.

O modo como ela é conduzida, entretanto, é decepcionante. Guardiões 2 provou que, enquanto você tem diálogos hilários, o desenvolvimento da trama pode ficar em segundo plano.

É justamente nos diálogos, o que deveria ser um dos pontos fortes da Telltale Games, que o jogo peca mais. Peter Quill (Scott Porter), o membro do grupo que você controla no decorrer do episódio, perdeu todo o humor ácido em troca de escolhas de conversa que ficam no básico padrão “ser bonzinho ou não”.

No elenco de apoio, a coisa também não melhora. Drax (Brandon Paul Eells) até mantém sua característica de levar tudo na forma literal, mas o roteiro não ousa ir às situações ridículas das HQs ou dos filmes. Gamora (Emily O'Brien) mantém o bom-senso que se espera dela, Groot (Adam Harrington) é jogado para escanteio e Rocket (Nolan North), sempre ranzinza, é o único que se aproxima da versão que conhecemos.

Tudo isso é piorado pela parte técnica, que a Telltale se recusa a aprimorar mesmo com tantas reclamações de público e crítica. As animações faciais são fracas, virando um Disney Infinity com expressões confusas dos personagens - Quill sempre parece estar prestes a chorar, mesmo quando deveria rir.

As cenas de ação também convencem pouco, em jogadas de câmera e quick time events sem imaginação. Para coroar os problemas, experimentamos quedas nas taxas de quadro enquanto jogávamos, justamente em sequências de luta.

O mais estranho é que a Telltale já provou ter qualidade em tudo o que o título dos Guardiões peca. Já tivemos o vislumbre de uma ótima e divertida saga espacial em Tales from the Borderlands, enquanto o game episódico do Batman explorou boas possibilidades de como pode ser uma sequência de combate envolvendo super-heróis.

A Telltale precisará melhorar muito o nível nos capítulos subsequentes para que o primeiro jogo da Marvel pela empresa não seja esquecível. Por ora, o estúdio apenas provou o que acontece quando se tira o humor dos Guardiões: eles se tornam a equipe genérica que, no passado, fazia parte do escalão C da Casa das Ideias.

Guardians of the Galaxy: The Telltale Series está disponível para PlayStation 4, Xbox One, PC (Steam, Microsoft Store), iOS e Android. O jogo foi testado em um PlayStation 4. Clique no nome das plataformas para conferir o preço na versão digital.

Nota do crítico