Quando Metal Gear Solid V: Ground Zeroes foi anunciado em 2012 por Hideo Kojima, ninguém sabia muito bem qual seria o resultado. Ainda mais depois que o japonês explicou que o título seria um prólogo para Metal Gear Solid V: The Phantom Pain. Uma introdução às novas mecânicas de jogo e à Fox Engine.

Porém, a decisão da Konami foi lançar este capítulo introdutório como um jogo separado, pelo menos um ano antes da chegada de The Phantom Pain - ainda não há data oficial, mas a previsão é que o game chegue em 2015. Hideo Kojima conseguiu inserir novidades interessantes neste prólogo, mas nada que não valesse esperar para fazer um lançamento conjunto.

Ground Zeroes começa onde Metal Gear Solid: Peace Walker, de 2010, termina. A missão é resgatar Paz Ortega Andrade e Chico Valenciano, dois personagens do episódio anterior, em uma base estadunidense em Cuba. E é exatamente isso que Big Boss (ou Naked Snake, para os íntimos) faz, sem desvios no caminho.

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Em missões de infiltração, é normal que os objetivos mudem de acordo com circunstâncias inesperadas. Mas isso não é cogitado em Ground Zeroes. Seus objetivos são ir até um prisioneiro, levá-lo embora, ir até outro e fazer o mesmo, e depois chamar um helicóptero para sair do local. A linearidade surpreende negativamente em uma série tão cheia de reviravoltas como a de Hideo Kojima.

Justiça seja feita, a Omega Base é um cenário interessante, diferente do costumeiro na franquia. Em vez de corredores elaborados, o local é uma espécie de mundo aberto cheio de segredos. Prisioneiros cujo resgate é opcional, distintivos da XOF espalhados cuidadosamente pelos cantos, tudo pede para ser explorado.

Novidades infiltradas

Kojima afirmou que Ground Zeroes seria uma espécie de introdução às novas mecânicas de The Phantom Pain e ao uso da Fox Engine. Realmente, houve mudanças significativas na jogabilidade. O radar, elemento frequente da série, não fica mais na tela, mas foi substituído por um binóculo com sensor de calor. Se o jogador focalizar um soldado, seus movimentos passam a ser detectados. Assim, é possível ver se alguém se aproxima.

Os guardas identificados pelo binóculo são marcados no mapa do iDroid (dispositivo bem avançado para a época, levando em conta que o game se passa em 1975) que detalha a planta da Omega Base. Ele pode ser consultado a qualquer momento, mas abri-lo não pausa a jogatina. É preciso estar bem escondido para não ser surpreendido por um soldado no meio de uma consulta ao mapa.

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Fãs mais antigos da série podem se irritar com o uso do binóculo, já que ele não permite planejar meticulosamente a infiltração. Para usar o acessório de maneira mais eficaz, é preciso estar em um ponto alto, com boa visão. Mas nada impede que um inimigo esteja atrás de uma parede e não seja detectado. Isso exige muito mais cautela nos movimentos e atenção ao ambiente - e vai aumentar as chances de Snake ser avistado.

Outra mudança é o modo reflexo, que consiste em alguns segundos em câmera lenta assim que um guarda vê o protagonista. Assim, é possível atirar antes que ele avise os companheiros. Isso evita cenas maiores de combate - como o foco do jogo é a furtividade, os momentos com armas de fogo não têm tanta graça, além de a pontuação final ser reduzida conforme o número de inimigos mortos.

A inteligência artificial tem altos e baixos no game. Em alguns momentos, surpreende o realismo com que os soldados foram dispostos. Eles param para tossir, conversar com os companheiros e até olham atrás dos ombros de vez em quando. Avisam a central de comando pelo rádio sempre que percebem algo errado. Caso a central perceba que esse guarda parou de responder as mensagens, manda alguém para averiguar o que houve. A preocupação atingiu até coisas mínimas. Se o jogador quebra uma câmera de vigilância, os guardas recebem o pedido de checar por que o sinal foi cortado, por exemplo.

Se esse pensamento em rede é interessante, nos momentos de ação os guardas não têm nada de especial. Quando Big Boss é visto, eles correm de um lado para o outro sem objetivo aparente, ou passam por encruzilhadas sem olhar para as adjacências. Fica ainda mais fácil enganá-los quando não há sinal de alerta. Ainda mais depois de The Last of Us, é fácil perceber a falta de realismo quando um guarda não ouve absolutamente nenhum dos grunhidos dos prisioneiros que o protagonista carrega.

Mundo aberto, mas limitado

Com o aumento da área de jogabilidade, as possibilidades se multiplicam. Para entrar em uma área restrita, o jogador pode se esconder no bagageiro de um caminhão. Mas também pode rastejar por canos de drenagem, descobertos após uma conversa com um prisioneiro. As torres de vigia ao redor da base são um problema. Porém, é possível escalá-las e eliminar o guarda silenciosamente ou, simplesmente, explodir o local com um pouco de C4.

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Um dos aspectos mais divertidos de Ground Zeroes é a gama de brincadeiras que a Omega Base oferece aos mais fanfarrões. Snake pode roubar um veículo e dirigir pela base despercebido - desde que respeite um certo limite de velocidade. O jogador que estiver entediado, no entanto, pode brincar de atropelar guardas com ele. E o game não se leva a sério neste aspecto, o que é ótimo: ele registra seus recordes, como o maior tempo dirigindo empinado em duas rodas, ou a maior distância que um inimigo voou após uma explosão.

Entretanto, por mais que o cenário proporcione diversão, ela não é eterna; nem ao menos longa. As missões paralelas oferecidas pelo game voltam à Omega Base e proporcionam outras abordagens: eliminar agentes, invadir o local com um helicóptero, entre outras. Mas depois de certo ponto o cenário fica desgastado e suas possibilidades, menos atrativas.

É um pouco similar ao que Bilbo diz em A Sociedade do Anel: "Eu me sinto fino. Esticado como... manteiga espalhada por um pedaço muito grande de pão." Para fazer o game durar ao máximo, o jogador assume o risco de começar a detestar o cenário que, antes, parecia tão incrível. Ground Zeroes deve ser encarado como o que realmente é: uma demo de luxo, um aperitivo de The Phantom Pain. Como jogo, deixa a desejar. Se fosse lançado alguns meses antes do prato principal - e de graça - cumpriria perfeitamente o papel de abrir o apetite do público.

Metal Gear Solid V: Ground Zeroes está disponível para PlayStation 3, PlayStation 4, Xbox 360 e Xbox One.

Nota do crítico