Engana-se quem pensa que apenas FURIA, Imperial e MIBR são o Brasil no PGL Major Antwerp 2022 de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO). A 9z também contra com o brasileiro zakk, treinador da equipe, que inclusive é vice-campeão de Major pela Immortals. Em entrevista exclusiva ao The Enemy, ele contou mais sobre a classificação para o torneio mais importante do ano, revelou bastidores, falou sobre sua relação com a torcida brasileira e também expectativas para a disputa na Bélgica.

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A caminhada antes do RMR

"Histórico". Foi assim que zakk resumiu a classificação da 9z para o Major. De fato, é impossível não concordar com o treinador, já que esta foi a primeira vez que argentinos, uruguaios e chilenos chegaram tão longe. 15 de abril de 2022 é realmente uma data para ficar marcada na história do CS sul-americano.

Fazer essa história, no entanto, não foi nada fácil… Para Zakk, o início dessa caminhada não foi o começo do RMR das Américas, e sim em 2020, quando ele entrou para a 9z conhecendo apenas bit e xand do elenco, sendo que o próprio xand logo mudou seu rumo e foi para o VALORANT.

Dentro do time, zakk tinha apenas bit como seu homem de confiança. Mas no final das contas, era exatamente dele que o coach precisava.

"Passar experiência para jogadores mais novos não é fácil, até porque nem sempre o cara que é muito experiente é didático também. Por isso, ter o bit do meu lado desde o começo foi incrível. Aprendi muito com ele dentro do servidor e fora. Foi vendo como ele explicava o ponto de vista dele, que hoje eu sei explicar muito melhor o meu para os jogadores. Ele me ajudou demais nisso e nós guiamos essa equipe muito bem. Fomos uma grande dupla!", relembrou zakk.

Foto: Reprodução

Nesta caminhada até o RMR, o treinador da 9z destacou mais dois momentos de grande importância para que a classificação fosse possível. Um deles foi o título da FiReLEAGUE, no final de 2021, o qual ele diz ser "um divisor de águas para a equipe", pois foi ali que os jogadores começaram a acreditar mais em si. O outro foi o período que a 9z passou fora da América do Sul, se aprimorando.

"Com certeza nossas experiências internacionais foram decisivas. Sem elas, se tivéssemos apenas jogando no SA e fossemos direto pro RMR, nós não classificaríamos nunca, de jeito nenhum", cravou. "O treino aqui fora é muito mais pegado, mais sério, mais intenso… Do primeiro ao trigésimo round, toda situação é levada a sério e com isso a gente aprende sem parar. Fora a questão de estrutura, pois com a gente pelo menos, acontecia muito de cair internet e perder um mapa ou até um dia de treino, enquanto aqui nada disso rolou. Foi tudo ótimo e conseguimos nos manter muito focados", explicou o porquê.

O RMR das Américas

No RMR, zakk acredita que o formato do campeonato ajudou bastante a 9z. Com uma série por dia, ele e max conseguiam estudar o próximo adversário e se preparar muito bem: "Foi até tranquilo se preparar, com exceção do último dia, em que a gente estava jogando, enquanto a paiN nos assistia. Confesso que nessa hora me deu um pouco de medo. Nós saímos muito cansados do jogo contra a EG, mas deu tudo certo e foi histórico". 

Este fator foi crucial para a classificação, mas além disso teve o discurso motivacional do treinador, um tanto quanto… diferente….

"Tenho que admitir que o discurso que usei com eles foi mentira. Depois do 0-2, lá na practice room, eu disse que já tinha passado por aquilo com a Immortals, que ficamos 0-2, nos classificamos e fomos para a final do Major. A verdade é que não aconteceu bem assim, mas eles achavam que sim. Acho que não lembravam…", contou dando risadas. "Quando a gente classificou, o david lembrou disso e falou 'olha, foi igual a Immortals' e eu apenas respondi 'aham, isso aí!'”, completou dando mais risadas.

Porém, é claro, não só de "mentiras do bem" foi feito o discurso do brasileiro…

"Eu também contei que na nossa época da Immortals, nós brigávamos muito e que na 9z éramos muito mais unidos. Eram épocas diferentes né, então antigamente nós jogávamos cerca de oito mapas no treino e conversávamos muito pouco. Hoje em dia a gente joga um pouco menos de mapas, mas conversa muito sobre eles, sobre erros, reações… Claro que antigamente tinha tática e tudo mais, mas muita coisa era resolvida na mira. Já atualmente acho que é muito mais sobre reação e estar na mesma página. Conversar pode ser estressante, pois são várias opiniões diferentes, mas sem conversa, é impossível chegar nesse ideal de hoje."

Enfim, a classificação veio após tanto esforço. Para quem não lembra, a 9z começou o RMR com uma campanha de 0-2 e depois venceu cinco MD3 seguidas. Como zakk bem falou, histórico. Não à toa, a comemoração foi ainda maior.

"A conquista foi muito mais forte para eles do que eu imaginava que seria. Todos choraram muito na hora e eu acho que a forma como aconteceu também contribuiu muito para isso. Lembro também que o Luken estava sob muito estresse naquele campeonato e ele veio conversar comigo, falando que estava com um cansaço mental gigantesco e que não sabia como continuaria jogando daquela maneira. Quando conseguimos a classificação, eu o abracei e perguntei: 'valeu a pena?', foi aí que ele desmontou de chorar de vez. Foi uma cena muito bonita de se ver e que faz valer todo o nosso esforço", disse zakk.

Foto: João Ferreira/PGL

Relação com a torcida brasileira

Por estar em um elenco sem nenhum outro brasileiro, zakk pode passar despercebido pela torcida do seu país muitas vezes. Ainda assim, este não é o motivo que ele enxerga como principal para esta relação não ser tão próxima quanto ele gostaria. Em sua visão, há muito mais envolvido, e ele explica:

"Eu recebo mensagens de brasileiros sim, mas atualmente o apoio da galera da Argentina acaba sendo muito maior. Acho que o problema é que a galera do Brasil ainda tem muito preconceito com os argentinos por causa do MM, e eu entendo isso completamente, até porque jogo CS desde o BETA e já joguei muito MM com argentino me chamando de macaco. Eu realmente entendo… Mas também é preciso entender que não dá para generalizar, até porque no meu time, se um deles chamar alguém de macaco ou qualquer coisa com conotação racista, eu mato ele!", explicou zakk.

"Os caras aqui são realmente muito gente boa, estão na luta pelo sonho, então é por isso que eu queria muito que a torcida brasileira percebesse que a América do Sul precisa se unir. Isso seria benéfico para todo mundo", seguiu com o raciocínio.

Para zakk, a relação com os brasileiro até melhorou um pouco depois que Gaules apoiou a 9z no fim do jogo. Mas ele não espera isso sempre e acha completamente normal que os criadores de conteúdo brasileiros tenham uma tendência maior pelos atletas e times do seu país.

"O Gaules e o FalleN são os maiores formadores de opinião do nosso cenário. Na minha opinião o Gaules até mais, pois ele está o tempo todo ali streamando e falando. No final do nosso último jogo eu vi que ele tendeu um pouco pro nosso lado, foi bem legal… Mas durante o resto do campeonato, é óbvio que o bt0 e o liminha estavam falando mais com as outras equipes. Mas isso não tem problema nenhum, que fique claro. Esse é o show. Deixa o show seguir!"

Foto: João Ferreira/PGL

O PGL Major Antwerp 2022

A estreia da 9z em seu primeiro Major está marcada para a próxima segunda-feira, 9 de maio, às 10h45. O adversário será a ENCE e, curiosamente, foi algo que zakk e sua equipe comemoraram.

"Eu amei ter pego a ENCE de primeira por dois motivos. O Primeiro é porque nosso time tem essa coisa de se doar muito mais contra adversários gigantes como esse, tanto em treino quanto em jogo. Isso é até um ponto fraco nosso, mas que se tornará um ponto forte no Major porque só terão oponentes assim. Além disso, o ENCE é o time que nós mais assistimos na 9z, muito antes de sabermos que enfrentaremos eles na estreia do Major. Todo dia a gente assistia pelo menos uma DEMO deles, o que é até engraçado… Então acredito que será um bom jogo!

Ao mesmo tempo que a 9z sabe muito sobre a ENCE, o time europeu é visto por eles como um dos dois mais perigosos da primeira etapa.

"Os resultados da ENCE falam por si só. Eles estão vindo numa crescente bem grande e acho que são até candidatos para chegar na final. Tem também a G2, que é um time experiente e conta com uma line-up insana com NiKo, m0NESY… Para mim, esses dois são os absolutos favoritos do Challengers Stage. Já os outros vejo bem nivelados e sinceramente acho que tudo pode acontecer. Até os caras da Mongólia podem surpreender", opinou zakk.

Sobre as expectativas, o treinador conta que não tem mais nenhuma especificamente.

"Nosso objetivo era chegar até aqui, então já está cumprido. O que acontecer daqui pra frente é lucro", comentou. "Estamos aqui para aprender muito, se divertir e aproveitar o momento e as partidas como se fossem as últimas… Até porque é algo incrível, chegamos no Major! Pode até ser que a gente seja estompado, mas estamos nos preparando muito forte, cerca de 9 a 10 horas por dia, que é o que eu acredito que seja o máximo possível, porque depois disso já não dá mais certo. Vamos dar nosso máximo!", continuou.

Foto: João Ferreira/PGL

No encerramento da entrevista, ele terminou com um agradecimento inusitado: "Eu queria agradecer a todos os times que estão treinando com a gente. Estamos treinando só contra time Tier 1, tipo a FaZe, então apesar de ser um bootcamp curto está sendo incrível!".

O PGL Major Antwerp 2022 acontece entre 9 e 22 de maio, na Bélgica, Antuérpia, com a presença de 24 equipes em busca do título mais cobiçado do CS:GO e também da maior parte da premiação total de US$ 1 milhão - mais de R$ 5 milhões.