Dizem por aí que os sonhos são o que nos mantém vivos. É por eles que nos motivamos, acordamos cedo todos os dias e aguentamos qualquer percalço incansavelmente, na busca da realização. No caso de bizinha, ex-estrela do Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) feminino, que agora está de mudança para o VALORANT, podemos dizer que tudo isso é completamente verdadeiro. Ao The Enemy, a jogadora profissional do MIBR revelou o que a motivou a mudar de jogo e quais são seus próximos passos em sua carreira.

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Como muitos já imaginam, bizinha afirmou que não foi fácil tomar essa decisão. Ela pensou muito não só em si mesma, mas também nas suas companheiras da line-up de CS:GO. A conclusão que ela chegou foi que, estar no time sem aquela mesma vontade de outros tempos, seria mais prejudicial a ela própria e suas teammates, do que deixar a equipe.

"Eu comparei os prós e contras e percebi que mesmo ainda amando o CS, aquela chama de 'algo novo' não existia mais. Parecia que em todos os anos eu estava fazendo exatamente a mesma coisa, enquanto os meus sonhos amadureceram, mudaram e ficaram mais distantes. Por exemplo, quando eu tinha 18 anos de idade, eu sonhava em vencer um mundial feminino e imaginava que se isso acontecesse, minha vida estaria feita e eu estaria no hall de lendas do CS brasileiro. Mas a verdade é que as pessoas não sabem nem quem venceu o último mundial feminino. Eu percebi que as expectativas dos meus sonhos não eram reais e mesmo tornando-o realidade, eu poderia me frustrar no fim das contas."

Esses sentimentos não são algo novo para a pro player. Segundo ela, eles surgiram especialmente no período em que ela pediu para ir ao banco de reservas da FURIA: "Naquela época eu já queria fazer algo diferente e inclusive cogitei ir para o VALORANT, mas o medo de encontrar algo muito precário como era o início do CS:GO feminino, me impediu de explorar essa opção. Fora o fato de eu não saber se realmente gostaria tanto assim do jogo. Eram muitas incertezas, quando o MIBR chegou com uma proposta mais concreta e que me fez enxergar um propósito a mais, então foi este caminho que optei por seguir".

Houveram até mesmo momentos em que bizinha cogitou, mesmo que brevemente, o cenário misto de CS:GO. Mas de acordo com a atleta, as chances nesse sentido foram muito poucas.

"Lembro apenas de duas chances: uma para fazer teste em um time masculino da Série A e outra para entrar numa academy, que depois esfriou e não falaram mais nada", relembrou bizinha. "No caso do teste, eu acabei recebendo a proposta da FURIA ao mesmo tempo, então como era algo muito mais certo, diferente de um teste, que é uma possibilidade, em uma função que nem era a minha principal, eu escolhi a FURIA", explicou.

Até mesmo no VALORANT, bizinha enxerga que é mais fácil line-ups mistas surgirem do que no CS:GO. Ao menos, esta é a primeira impressão que ela teve…

"O CS:GO tem uma estrutura interna que dificulta muito essa questão de time misto. É algo que vem lá do CS 1.6. Lembro que quando joguei Crossfire, eu tive um time misto, pois era uma ideia muito mais aceita pelos garotos de lá, até por conta da Mystique que era capitã no profissional. A aceitação das mulheres no CF era muito maior por tudo que ela fez, enquanto que no CS quebrar esse tabu parece quase impossível. No VALORANT eu não tenho certeza, mas por ser a mistura de players de vários jogos, creio que a ideia de time misto seja menos difícil de vir a acontecer."

MIBR/Reprodução

As incertezas que rondam a cena feminina de CS:GO, brasileira e até mundial, também contribuíram para a tomada de decisão. Enquanto a Riot Games anuncia cada vez mais novidades para o Game Changers - circuito feminino oficial do VALORANT -, no CS:GO as grandes competições são cada vez mais raras. O início do FPS da Riot Games é muito mais promissor do que bizinha imaginava.

"Hoje o CS feminino tem um futuro muito incerto. Quando olhamos para esses novos mundiais que surgiram, tudo bem, eles vão acontecer, mas e depois? Não fazemos ideia do que acontecerá. Fora os outros mundiais que sumiram do mapa e ninguém mais fala nada e também as jogadoras internacionais que migraram. São estrelas que eu me inspirava indo para outro lugar. Acho muito difícil não enxergarmos mais futuro no VALORANT feminino do que no CS feminino. Especialmente se pensarmos que no VALORANT está tudo no começo e já tem várias equipes femininas com gaming house, office, salário, estrutura… Enquanto neste período do CS nós estávamos jogando campeonato pra ganhar um team speak…

Inclusive, uma dessas estrelas que mudou de game foi Showliana, sua ex-companheira de equipe e também capitã. Atualmente ela é a única jogadora brasileira que atua fora do Brasil, com uma line-up internacional, na Dignitas.

"Me inspiro muito na showliana", cravou bizinha. "Eu já acompanhava a carreira dela no CS e depois entrei no time dela com apenas 18 anos, foi aí que pude ver de perto como ela lidava com tudo, dentro e fora de jogo, e o cuidado com a carreira dela… Hoje ela está no VALORANT, dizendo que tomou uma ótima decisão e, realmente, ela está muito bem encaminhada. Claro, isso não foi crucial para eu tomar minha decisão, mas fez parte de um conjunto", completou.

A decisão de causar uma reviravolta em sua carreira e mudar de game, de fato, foi tomada apenas no final de 2021, após mais reflexões…

"Eu ainda amo o CS e sou grata por tudo que ele me proporcionou. Mas ultimamente ele se tornou muito mais aquela coisa de somente trabalho. É muito difícil eu me divertir nele hoje em dia, enquanto o VALORANT tem me proporcionado uma sensação muito maior não só de diversão, mas principalmente de alegria no aprendizado. E eu sou uma pessoa que amo novidades e aprender, pois aprendendo me sinto produtiva e produtiva me sinto viva", contou bizinha.

Mas será que as coisas poderiam ser diferentes? E se a cena feminina estivesse no seu auge, caminhando cada vez mais com as próprias pernas? Essa questão é difícil até mesmo para a bizinha chegar a uma conclusão.

"Essa é uma pergunta que eu realmente não consigo responder precisamente. Talvez se o cenário feminino estivesse da forma como eu gostaria, existiria a chance do meu sonho ainda estar lá. Mas não sei ao certo… Até porque, sou muito mais ligada ao que sinto dentro de mim do que as coisas externas. Eu não jogo por dinheiro e coisas externas, mas sim porque eu amo aquilo e me faz sentir bem. A partir do momento que eu passei a me sentir bem em outro jogo e no CS eu sentia a sensação de mesmice, criou-se uma insatisfação. Pro jogador profissional, a zona de conforto é a pior coisa do mundo e temos sempre que estar nos renovando e evoluindo, e eu amo a sensação de aprender. Quando vi que aprender no VALORANT me motivava mais do que no CS, foi quando entendi o que precisava ser feito."

A decisão foi tomada e a bizinha agora está no VALORANT. É definitivo. Agora, a preocupação do momento é recuperar o tempo perdido, já que a cena feminina do FPS da Riot Games já está bem estruturada e conta com grandes nomes, como a Team Liquid, esbanjando talento e se apresentando como o time a ser batido.

"Esses dias mesmo eu estava pensando em como fazer para alcançar pessoas que estão na minha frente. Mas a verdade é que eu já passei por isso no CS:GO, com meninas que competiam desde 2012/2013, enquanto eu voltei a jogar apenas em 2016. Depois de muita determinação diária, consegui passar boa parte dessas meninas. Agora vou fazer o mesmo, que é correr atrás desse atraso, pois sei como fazer isso. O mesmo caminho que eu percorri no CS, farei no VALORANT e eu não tenho medo disso, pois consigo admitir minhas falhas e erros, ao mesmo tempo em que confio em mim para resolver tudo isso. Pode até levar tempo, mas o tempo é meu inimigo e vou correr contra ele, jogando 24h por dia se preciso, e vou chegar lá", disse extremamente confiante.

A line-up feminina de VALORANT do MIBR ainda parece incerta. Bizinha não deu muitas pistas durante o bate-papo, mas disse que o vídeo postado por ela, nesta sexta-feira (29), tem algumas referências. O pouco que ela falou sobre as novas companheiras é que todos podem esperar um elenco "promissor".

"Sei que temos que passar por muita coisa, nos adaptar a várias situações, mas enxergo que esse time é muito capaz de evoluir. O foco agora é o dia a dia, a evolução e a determinação, sempre sonhando alto, mas com os pés no chão", falou bizinha.

A ideia por trás desta nova equipe será treinar online e se reunir presencialmente próximo a datas importantes de campeonatos. Ainda assim, bizinha também sonha com um office no futuro: "É algo que eu nunca tive e gostaria muito de ter. Acredito que desta forma, estando todas juntas e vivendo intensamente a mesma coisa, a evolução é muito mais rápida".

Até lá, fica a sensação das "novidades em breve" e também a curiosidade para descobrir se a melhor jogadora da história do CS:GO nacional, conseguirá emplacar os mesmos feitos em uma nova modalidade.