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Opinião: Até que foi bom Resident Evil Village perder o GOTY

No oitavo jogo, Capcom deu indícios de que repetirá erros do passado

Por Diego Lima 10.12.2021 19H56

Poucas franquias do tamanho de Resident Evil oscilam com tanta frequência. Nunca sabemos o que a Capcom pretende fazer com esse universo, o que pode gerar gratas surpresas (como Resident Evil 7) ou desastres notórios (como Resident Evil 6). Inclusive, por onde será que andam Leon e Sherry?

Resident Evil Village, continuação direta do jogo que revitalizou a franquia, repetiu alguns dos acertos do próprio antecessor, como pode ser constatado por meio dos trechos no Castelo Dimitrescu e na Casa Beneviento. Contudo, deslizes graves são cometidos na reta final da história.

A jornada de Ethan começa da melhor maneira possível. Mia, esposa do protagonista, é assassinada a sangue frio por uma versão misteriosa de Chris Redfield, que aparece alguns anos mais velho e agindo de maneira bem diferente em relação ao comportamento dele nos jogos anteriores. Sozinho, o personagem principal precisa descobrir como tudo virou de cabeça para baixo tão rapidamente. Será que existe algo maior por trás daquelas cenas terríveis?!

Suspense, uma aparente traição, criaturas inéditas e um covil de vilões geneticamente modificados marcam os primeiros minutos do oitavo jogo numerado da série. Tudo no começo de Resident Evil Village deixa o jogador fascinado e desconfortável. Ethan Winters, novamente, está em uma das piores situações já apresentadas em um Resident Evil, mas ele precisa se virar como puder.

O mapa de Village é muito maior, ou pelo menos muito mais aberto, do que os de todos os outros jogos da série. Há muito conteúdo opcional, como chefes secretos e cavernas escondidas cujos tesouros, quando roubados, despertam inimigos que estão por perto. Essa constante sensação de descoberta é maravilhosa, assim como a grande diversidade de ambientes e caminhos.

Não faltam motivos para elogiar o oitavo jogo da série principal, de verdade. Entretanto, a segunda metade da jogatina tende a despertar um alerta nos jogadores que conhecem a trajetória da franquia. Afinal, é a partir de Salvatore Moreau que vemos surgir muito mais trechos de ação alucinada do que de terror, de fato.

Bom, a luta contra Moreau, na verdade, só é extremamente cansativa. Aquele trecho das plataformas, por exemplo, em que Ethan precisa criar pontes temporárias para atravessar a água, é deprimente.

Agora, toda a passagem pela Fábrica e a luta contra Heisenberg transmitem uma sensação bastante divergente da de trechos anteriores.

Não estamos mais explorando florestas ou casas com criaturas orgânicas assustadoras — estamos enfrentando grandes máquinas poderosas em um cenário todo industrial. O contexto pode não parecer importante, mas ver todo aquele maquinário me fez sentir um certo tédio. Aquilo se encaixaria em qualquer jogo. Não era como os assustadores e elegantes corredores do castelo, as amplas "ruas" do vilarejo cheias de monstros ou a macabra Casa Beneviento. Ethan estava em um cenário de... Guardiões da Galáxia? Star Wars? Literalmente qualquer coisa, menos Resident Evil.

Até ali, muitos jogadores talvez estivessem pensando: "bom, não tem como piorar, né?" Mas a verdade é que sempre tem.

O que é aquela batalha contra o Heisenberg? De fato, um vilão com poderes semelhantes aos do Magneto não teria como ser derrotado por um humano comum armado, mas... Sério que precisava virar Transformers? E depois daquilo eles ainda colocam o Chris lutando contra hordas de monstros cheio de munição para gastar?

Pode parecer uma preocupação excessiva — e rezo para que seja o caso —, mas o fato de que a Capcom se sentiu livre para seguir por esse caminho é um tanto assustador. Depois do sucesso de Resident Evil 4, por exemplo, vimos a empresa apostar em aumentar ainda mais a ação: os resultados foram Resident Evil 5 e Resident Evil 6. Se é isso que devemos esperar de um eventual Resident Evil 9, o futuro parece bem triste, mais uma vez.

Talvez a reação da crítica a Resident Evil Village faça com que a Capcom se sinta menos disposta a investir tanto na ação. O jogo foi indicado a Melhor Jogo do Ano no TGA, é verdade, mas Resident Evil 2 Remake também foi, então, tudo bem. O problema seria Village ter vencido. Aí, a empresa poderia ter chegado à conclusão equivocada de que aqueles momentos finais eram geniais.

Aliás, curiosamente, quando olhamos para o passado recente da Capcom, o Metacritic indica, nitidamente, uma preferência da crítica, de maneira mais ampla, por experiências voltadas ao terror. Resident Evil 2 Remake tem a maior média numérica dos últimos quatro jogos da série, seguido por Resident Evil 7, Resident Evil Village e Resident Evil 3 Remake (que também focava mais na ação do que no terror, infelizmente).

Novamente, não temos a menor ideia do que a Capcom fará com Resident Evil, mas a situação poderia ser pior. Nos resta torcer para que o nono jogo seja tão bom quanto os outros dois da atual trilogia — que, apesar de alguns problemas, é maravilhosa.