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Por que o western é tão pouco explorado nos games?

Sucesso de Red Dead intimida ao invés de estimular concorrentes

Por Pablo Raphael 16.05.2020 10H00

Quando uma produtora faz muito sucesso com um gênero ou temática, outros estúdios rapidamente tentam replicar a fórmula de uma maneira ou outra, buscando conquistar um pedaço daquele novo filão. É um movimento natural da indústria: Street Fighter II fez isso com os jogos de luta. Medal of Honor, com os jogos de Segunda Guerra. PUBG e aa atual onda dos Battle Royale.

Curiosamente, Red Dead Redemption não teve o mesmo impacto. Lançado dez anos atrás, o jogo é um dos poucos a explorar o Western, ou como a gente chama por aqui, Faroeste. Em maio de 2010, Red Dead se valeu de toda a expertise da Rockstar em criar jogos de ação em mundo aberto e a levou para os últimos dias do Velho Oeste.

Mesmo GTA, franquia irmã e muito maior de Red Dead, foi bastante copiado por outras produtoras. Mesmo que nenhum tenha se igualado aos jogos da Rockstar, vários estúdios criaram suas próprias interpretações do gênero de "ação e contravenção em mundo aberto". Saints Row nasceu como uma cópia de GTA. Aos poucos, ganhou identidade própria e seu estilo debochado e exagerado rendeu um séquito fiel de fãs.

Sunset Riders/Reprodução

Games ambientados no Velho Oeste já existiam antes de Red Dead Redemption, é claro: Sunset Riders e Mad Dog McCree marcaram época nos arcades, que por sinal, tinham uma boa oferta de shooters com essa ambientação. Desperados levou a ambientação para os jogos de estratégia. Alone in the Dark 3 combina Western e Lovecraft num ótimo adventure de terror. A franquia Wild Arms foi a leitura J-RPG do gênero.

Mesmo Red Dead não nasceu pelas mãos da Rockstar: a franquia começou em Red Dead Revolver, originalmente um jogo da Capcom. O game foi desenvolvido pela Angel Studios, produtora de San Diego, nos EUA, que trabalhará com a Capcom no port de Resident Evil 2 para Nintendo 64. Revolver seria uma sequência espiritual para Gun.Smoke, jogo de tiro arcade da publisher japonesa. O estúdio californiano foi adquirido pela Take-Two em 2002, e se tornou a Rockstar San Diego. A empresa adquiriu os direitos de Red Dead Revolver, que estava no meio de uma produção conturbada, e lançou o jogo dois anos depois.

Jogos com certa inspiração no Faroeste vira e mexe aparecem: Red Steel 2, para Wii, mistura samurais e pistoleiros futuristas em um típico conto do Velho Oeste. Fallout New Vegas leva os elementos clássicos do gênero para o deserto de Nevada pós-apocalipse nuclear.

Ubisoft/Divulgação

Talvez quem mais tenha tentado firmar um nome no gênero foi a Ubisoft, com a franquia Call of Juarez. Dos quatro jogos da série de tiro, três são ambientados no Oeste: o primeiro Call of Juarez, Bound in Blood e o arcade Gunslinger. Só The Cartel, de 2011, seguiu outra linha e foi para as guerras do tráfico nas ruas contemporâneas. Ambientados na fronteira entre os Estados Unidos e o México, os jogos trazem tudo o que se espera dos "spaghetti westerns", com muita ação, duelos, perseguições em diligências e conflitos com nativos-americanos.

Teve quem tentou do jeito errado: Wild West Online, jogo multiplayer de Faroeste, é tão problemático que foi removido pela distribuidora do Steam, onde amargou críticas negativas da comunidade.

Foi preciso a própria Rockstar para superar o primeiro Red Dead Redemption - ainda que muitos fãs prefiram o jogo de 2010. Red Dead Redemption 2 pode não ter agradado a todos pelo ritmo lento da narrativa ou a falta de personalidade de Arthur Morgan, mas é inegável que o game trouxe um mundo aberto repleto de atividades e com incrível atenção aos detalhes, que passa aquela sensação de que o jogador está "imerso no Velho Oeste". Meio como a primeira temporada de Westworld, da HBO, mas sem os robôs.

Crédito: The Enemy/Divulgação

Red Dead Redemption 2 vendeu mais de 29 milhões de cópias desde o lançamento. Em grande parte pela grife Rockstar, sem dúvida, mas será que a falta de opções para quem é fã do gênero também ajudou? Os dois Red Dead Recemption exploram um subgênero do Western, o fim do Oeste, em grandes jogos de mundo aberto. Não cobrem todas as possibilidades que o Velho Oeste oferece.

Há um revival do gênero no cinema e na TV nos últimos anos, que poderia se refletir nos games: O Regresso, de 2015, deu um Oscar de melhor ator à Leonardo DiCaprio e sua ambientação é perfeita para um jogo de sobrevivência, tão em voga nos últimos anos. O Faroeste mais clichê, como as atrações da 1ª temporada de Westworld, ou a série fictícia Bounty Hunter, de Era Uma Vez em Hollywood (e que vai se tornar uma série de verdade) também tem seu charme, se bem utilizado.

Desperados III/Reprodução

Esse retorno ao gênero começa a acontecer nos games, com alguns títulos promissores: Desperados III sai em junho para PC, PlayStation 4 e Xbox One, marcando a volta da cultuada franquia de estratégia, sumida desde o derivado Helldorado, lançado em 2007. Outra boa aposta é West of Dead, da Raw Fury, jogo de tiro visto de cima com temática de faroeste e terror, explorando fantasmas e espiritos da mitologia nativo-americana. West of Dead está previsto para este ano, com versões para PC, PS4, Switch e Xbox One.

Sem dúvida era mais fácil experimentar em gêneros pouco usuais quando produzir jogos não era tão caro como na era dos games HD (e Ultra HD). E com poucas referências, qualquer produção maior será comparada com Red Dead, o que acaba intimidando mais do que estimulando outros estúdios. Quem vai querer entrar num duelo com a Rockstar?