Após uma série de acusações de racismo, misoginia, homofobia e discurso de ódio contra o grupo XMG (antigo Xbox Mil Grau) promovidas por uma mobilização de usuários do Twitter ao longo desta semana, o YouTube confirmou nesta sexta-feira (05) que removeu conteúdos do canal por violações das diretrizes da plataforma.

[Atualização 14h14] Pouco depois da publicação da matéria, o YouTube divulgou em suas redes sociais a suspensão permanente do canal XMG de seu programa de parcerias, após diversas denúncias de usuários. O Programa de Parcerias do YouTube é o meio pelo qual os criadores de conteúdo podem receber dinheiro com seus canais.

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Em nota enviada ao The Enemy, a empresa afirmou que "repudia veementemente todas as formas de preconceito" e que as remoções foram feitas por conta do sistema de denúncias da plataforma.

"Trabalhamos constantemente para elaborar e agir de acordo com nossas políticas, dando aos usuários os recursos necessários para sinalizarem conteúdos que julguem violar essas regras", afirmou um porta-voz da companhia.

"Por esse sistema, tomamos conhecimento do conteúdo do Canal Xbox Mil Grau, que teve conteúdos removidos por violação de nossas diretrizes e ação do YouTube conforme nossas políticas de avisos”.

A nota, no entanto, não esclarece quando ou quais foram os conteúdos removidos ou se a remoção de conteúdos resultará na suspensão do canal – até o fechamento desta nota, o canal XMG continuava ativo. The Enemy enviou novos questionamentos à plataforma e atualizará a nota quando obtiver respostas.

Na tarde desta quinta-feira (04), Ricardo Regiseditor de vídeo e ex-integrante do canal Nautilus, compartilhou um compilado de imagens de transmissões do XMG atráves do Twitter que mostram conteúdos de cunho racista, transfóbico e misógino. Junto à postagem, o Regis levantou a hashtag #YoutubeApoiaRacista e pediu que usuários da rede social denunciassem os conteúdos junto à plataforma.

Por conta de legendas em inglês colocadas nos vídeos, os apelos chegaram a influenciadores e jornalistas internacionais, incluindo Jason Schreier, jornalista especializado em jogos da Bloomberg, e Mark Hamill, o Luke Skywalker de Star Wars.

Em reação às acusações dos dias anteriores, membros do canal XMG já haviam tornado a maior parte dos seus vídeos privados na plataforma, mas seguem fazendo transmissões ao vivo através do YouTube – e recebendo doações de seguidores através do sistema Super Chat.

A mobilização de usuários do Twitter contra conteúdos do grupo XMG ganhou força no último sábado (30), após Henrique Martins, streamer e administrador do canal, compartilhou uma imagem que associa uma foto dos protestos antirracistas que acontecem nos Estados Unidos, motivados pela morte de George Floyd, homem afro-americano asfixiado por um policial branco durante uma ação da polícia da cidade de Minneapolis, na última sexta-feira (29), à uma foto de Bob Behnken e Doug Hurley, astronautas brancos da missão Demo-2, da SpaceX, lançada no sábado.

Reprodução/Twitter

Junto à imagem, a postagem traz os dizeres “o que pessoas negras estão fazendo hoje” e “o que pessoas brancas estão fazendo hoje”. “Vai dar choro ou não?”, questionou Martins no conteúdo publicado.Veja abaixo. [Vale ressaltar: adicionamos uma tarja preta à imagem pois o nome de usuário de Martins pode ser considerado um spoiler de The Last of Us: Parte II].

Por conta da postagem, o perfil de Martins chegou a ser temporariamente suspenso do Twitter, mas foi liberado na sequência. The Enemy entrou em contato com a assessoria de imprensa do Twitter, que enviou links para as regras e políticas da rede social, mas não um posicionamento sobre o tweet em questão.

Na sua política contra propagação de ódio, o Twitter estabelece que é proibido "direcionar a alguém declarações ou tratamentos repetidos ou outros conteúdos com intenção de desumanizar, degradar ou reforçar estereótipos negativos ou prejudiciais sobre uma categoria protegida". A conta de Martins no Twitter (@xcapim360) está atualmente indisponível.

A imagem compartilhada no final de semana gerou revolta entre usuários do Twitter, que passaram a exigir um posicionamento da Microsoft e da Twitch – onde o grupo também fazia transmissões ao vivo. Na segunda-feira (01), a Microsoft Brasil soltou uma nota pública sobre o tema, negando relações com o grupo.

Respeito, diversidade e inclusão são parte dos nossos valores fundamentais e nós não toleramos comportamentos que violem esses princípios em nossos serviços. Não temos uma relação formal com esse grupo e não apoiamos suas visões”, afirmou a empresa em um comunicado similar enviado ao The Enemy no mesmo dia.

A ação da empresa foi considerada insuficiente pela comunidade, que seguiu exigindo uma atitude mais efetiva contra o grupo – que sempre usou a marca “Xbox” abertamente e nunca foi questionado pela companhia, mesmo com o histórico de discurso de ódio de membros do canal.

Após o movimentação, Eric Arraché, fundador do site Critical Hits, entrou em contato com Phil Spencer, chefe da divisão Xbox na Microsoft, para relatar o ocorrido.

A mobilização deu resultado na noite da terça-feira (02), quando a conta brasileira do Xbox no Twitter afirmou que a empresa exigiria, junto às empresas de redes sociais, a remoção da marca "Xbox" das contas do canal.

"O conteúdo da conta Mil Grau não reflete nossos valores fundamentais de respeito, diversidade e inclusão. Nós já exigimos a remoção imediata da nossa marca dos seus canais, por meio das empresas de redes sociais", escreveu a empresa na nota.

Além da remoção da marca "Xbox", o canal do grupo na Twitch também foi oficialmente banido na quarta-feira, 03 de junho. O grupo, vale lembrar, tinha selo de verificação na plataforma.

O banimento veio um dia após a plataforma ter sido criticada por usuários do Twitter após divulgar um pronunciamento genérico sobre o tema, instruindo usuários a denunciarem "casos de racismo à nossa equipe de moderação para que possamos agir o mais rápido possível".

Até esta sexta-feira (05), no entanto, a Twitch Brasil não havia se pronuninciado oficialmente sobre o caso. Também não há uma confirmação oficial se o banimento do canal XMG é permanente ou temporário.

The Enemy entrou novamente em contato com a Twitch no final desta quinta-feira pedindo esclarecimentos sobre o caso, e atualizará a nota assim que receber um posicionamento oficial.

[Atualização 2 18h30] Nesta quinta-feira (04), o grupo Mil Grau divulgou uma nota oficial na qual afirma que "a XMG jamais cometeu atos de racismo ou discriminação" e que "pelo contrário, sempre tratamos e convidamos espectadores para nossas transmissões e jogatinas sem nos preocupar com cor, crença, gênero ou classe social. Algo inclusive raramente visto no mundo dos streamers."

"Entretanto, como descrito no perfil do nosso canal, que é recomendado para +18, fazemos brincadeiras e piadas conhecidas como 'humor negro', feitas também por vários humoristas pelo mundo", continua a nota. "Prezamos pela igualdade de tratamento e principalmente pela liberdade de expressão".

A nota reforça ainda que o post no perfil pessoal de Martins do dia 30 de maio seria um meme "compartilhado fora do país", postado "no intuito apenas de polemizar. "Além disso, clips editados e fora de contexto foram jogados na internet unicamente para prejudicá-lo e prejudicar o canal", continua a nota.

O canal intera ainda que "estamos estudando a melhor forma de agir nesse momento delicado e agradecemos todo o suporte". A nota completa pode ser lida aqui[Fim da atualização]