Com gráficos cartunescos e um cenário cyberpunk, Bleeding Edge é o novo brawler online da Ninja Theory, que mistura sua experiência de hack and slash com o ambiente online, uma grande novidade para a desenvolvedora.

O resultado é, de certa forma, o mais lógico possível: o gameplay é bastante fluido e divertido, mas faltam elementos para que o ecossistema de multiplayer faça mais sentido e permita vôos mais altos.

Uma gangue de desajustados

Review Bleeding Edge
Reprodução/Microsoft

Ao iniciar pela primeira vez o game, o jogador assiste ao trailer de lançamento, que conta um pouco da história do universo de Bleeding Edge: em um futuro de tecnologias extremamente avançadas, algumas pessoas começam a alterar a forma física de seus corpos com componentes eletrônicos.

Em meio a debates sobre essas modificações serem ou não legalizadas, o fato é de que boa parte da população pensa nelas como forma de entretenimento. Assim, surgem espécies de Clube da Luta onde esses ciborgues podem mostrar todas suas habilidades em um combate mortal.

Assim é fundada a gangue conhecida como Bleeding Edge, que ainda possui alguns ideais políticos levemente explicados na descrição de seus personagens. Com onze integrantes no total, o grupo é composto, em sua maioria, de pessoas que encontraram algum tipo de dificuldade na vida e recorreram às modificações corporais como uma forma de superar os obstáculos.

Além do trailer de lançamento, as únicas gotas de enredo que Bleeding Edge fornece está no menu de customização dos personagens. Lá, o jogador pode encontrar a história de cada um dos integrantes do grupo, entendendo melhor de onde vieram os lutadores que estão no campo de batalha.

O pano de fundo dos personagem é bastante interessante, e deixando problematizações com estereótipos para lá, alguns dos textos que contam sobre suas vidas são excelentes; destaque para a história de Maeve, que flerta com tons poéticos.

O campo de batalha

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Reprodução/Microsoft

Apesar de já ter traçado várias comparações com Overwatch, Bleeding Edge tem combate que se aproxima muito mais de MOBAs como League of Legends. O foco do jogo está nos confrontos corpo a corpo e, muitas vezes, no alcance dos golpes de cada personagem; a distância entre os jogadores e a decisão de quando iniciar uma luta são fatores essenciais para o sucesso.

Os 11 heróis são divididos em três classes: os responsáveis por infringir maior dano, os curandeiros de suporte e os tanques. Para ser um pouco mais didático, Bleeding Edge ainda deixa claro quais são os personagens mais fáceis ou difíceis de serem utilizados nos combates.

As partidas são sempre confrontos de 4 contra 4, e são divididas em dois modos de jogo: Captura de Energia, onde os jogadores devem coletar células de energia e entregá-las em pontos específicos do mapa; e Domínio de Objetivo, que como o próprio nome já diz, pede que os lutadores conquistem locais estratégicos do cenário.

Esses dois formatos permitem que Bleeding Edge não seja apenas um game de combate puro e ensandecido, mas também um brawler onde a estratégia de seu time é essencial para a vitória; as táticas, inclusive, provavelmente ditarão o ritmo dos combates e definirão qual equipe conseguirá mais abates.

A parte legal disso tudo é que, mesmo assim, ainda é bastante divertido exibir todas suas habilidades de luta para cima dos adversários. Como de se esperar da Ninja Theory, os personagens possuem golpes bastante prazerosos de se aplicar e o combate é sempre fluido, independente do campeão escolhido pelo jogador. Isso é embalado pela excelente trilha sonora, que mistura tons de rock com eletrônico e se encaixa perfeitamente com a energia do jogo.

Onze heróis bastante variados

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Bleeding Edge oferece cinco lutadores que tem dano como foco, três suportes e três tanques - vale lembrar que a classe de suportes receberá o golfinho Mekko em breve. Sem dúvida alguma, todos eles possuem suas características únicas e gameplay bastante distinto.

Cada herói possui um ataque básico, três habilidades especiais, que são recarregadas com o tempo, e um “ultimate”. Normalmente, há também alguma habilidade passiva. Além disso, todos possuem uma forma alternativa, que permite movimentações mais rápidas mas não é capaz de aplicar golpes.

A grande competência do estúdio está em não repetir a usabilidade dessas skills: Daemon e Maeve, por exemplo, são capazes de ficarem invisíveis em combate, mas essa habilidade é usada de forma totalmente diferente em cada um deles. Enquanto a furtividade de Daemon encaixa melhor com um estilo agressivo, Maeve normalmente a usa para fugir de lutas desfavoráveis.

A mesma dinâmica se repete para Cass e Gizmo, atiradoras cujos ataques básicos são à distância, mas que possuem funções bastante diferentes em combate.

Dito isso, é quase frustrante que Bleeding Edge seja tão divertido mas tenha tão poucos personagens. Confrontos “espelhados”, com os dois times usando heróis iguais, são rotineiros, tirando um pouco da plasticidade do game.

Ainda assim, Bleeding Edge tenta se aprofundar com uma mecânica de builds. Cada lutador possui vinte modificações disponíveis para alterar sua dinâmica no campo de batalha. O jogador pode escolher três dessas habilidades passivas para customizar seu personagem, refrescando um pouco o seu gameplay.

Os mods possuem bastante impacto na jogabilidade. Durante minhas partidas, encontrei em Buttercup minha personagem preferida, mas sua mobilidade em comparação a outros heróis é bastante lenta.

Para minha salvação, Buttercup possui uma particularidade interessante: um de seus golpes afeta inimigos próximos, deixando seus movimentos mais lentos. Usei um mod que aumentava os efeitos dessa habilidade, e o combinei com outro que agilizava a troca entre as formas de combate e de movimentação rápida. Os resultados, devo dizer, foram bastante divertidos.

Sentindo falta de alguma coisa?

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Ainda que seja muito legal de se jogar, Bleeding Edge falha em nuances que são praticamente obrigatórias para games cujo foco é o online. Falando de maneira simples, falta bastante conteúdo para o jogo.

São apenas dois modos de partida, com um matchmaking aparentemente aleatório e que nem sempre é eficiente: várias vezes estive em partidas onde companheiros ou adversários deixavam o campo de batalha sem motivo aparente.

Sem qualquer sombra de uma fila ranqueada, é difícil sentir-se recompensado por uma boa partida, já que não há sistema de elos ou patentes. A única progressão do jogo está nos mods, que requerem algum esforço para serem desbloqueados.

O aspecto que mais combina com o modelo padrão de jogos online é a presença de cosméticos para os personagens: cada um dos 11 lutadores possui duas skins alternativas, que são desbloqueadas com dinheiro in-game acumulado durante as partidas.

Infelizmente, até nisso Bleeding Edge não alcança uma boa profundidade. As skins são apenas paletas de cores diferentes para cada campeão, sem nenhuma modificação física em suas aparências. Em compensação, os cosméticos de hoverboard são bem mais criativos - mas estão longe de ser destaque durante o gameplay.

Todos esse fatores causam uma certa crise de identidade no game: ele quer oferecer uma experiência hack and slash que convença pela diversão, ou quer manter uma comunidade de jogadores ativa durante vários anos? Em qualquer uma das alternativas, falta bastante sustância para que o jogo da Ninja Theory consiga conquistar um grande público.

Caso o objetivo seja a experiência de combate, seria de bom tom acrescentar mais elementos de enredo, dando ainda mais detalhes sobre o universo de Bleeding Edge. Se o foco for no multiplayer, como tudo indica que é, o estúdio pode se espelhar em games de sucesso no mundo dos eSports.

Com poucos personagens e sem sistema de progressão mais engajante, Bleeding Edge passa pouco espírito competitivo e quase nenhuma motivação para seguir jogando. Até mesmo suas conquistas (apenas dez) são bastante simples de conquistar.

São nesses aspectos que fica claro o DNA da Ninja Theory dentro de Bleeding Edge: o estúdio nunca havia se aventurado em jogos completamente online, e logo em sua primeira vez desbravando esse terreno, a sua equipe de desenvolvimento foi extremamente reduzida - Bleeding Edge possuía um time que variava entre 15 e 25 pessoas.

Fica a esperança de que o game receba bastante conteúdo após seu lançamento. Presente no catálogo do Xbox Game Pass e com o selo de uma boa desenvolvedora, é bem capaz de que Bleeding Edge ganhe uma sobrevida considerável, que talvez motive o estúdio a engrossar o caldo do jogo. O potencial está lá, mas a Ninja Theory precisa aprender mais sobre as nuances de como aproveitá-lo.

  • Lançamento

    24.03.2020

  • Publicadora

    Xbox Game Studios

  • Desenvolvedora

    Ninja Theory

  • Censura

    12 anos

  • Gênero

    Multiplayer

  • Plataformas

    Xbox One PC

Nota do crítico