Quase um ano atrás, foi anunciado o novo jogo de FPS da Riot Games, o VALORANT. Quase imediatamente, jogadores de diversos outros jogos começaram a migrar e estudar o FPS recém-lançado, já mirando um novo cenário competitivo no qual teriam a chance de seguir carreira. Felizmente, o trajeto não foi diferente no cenário feminino: Jogadoras de games como Fortnite, Rainbow Six: Siege, CS:GO e Overwatch começaram a dedicar suas horas de treino buscando melhores oportunidades no VALORANT.

E, felizmente, o competitivo não deixou a desejar.

Imagem: Riot Games

O início do cenário de VALORANT feminino

A ascensão, comparada a outros Esports, foi extremamente rápida. Enquanto no League of Legends as jogadoras penavam para ter um campeonato trimestral, no VALORANT falam constantemente sobre não ter tempo para treinar devido a diversos campeonatos femininos que estão acontecendo. Só nesse último mês foram três: A primeira edição do Protocolo Gêneses, pela Gamers Club, a WFC Masters pela Call Esports, e o Sakuras Ascent, pela Sakuras Esports. E já temos novos campeonatos acontecendo: as qualificatórias do GIRL PWR, promovido pela Gaming Culture, começaram ontem. 

Além disso, em uma ação inovadora no cenário feminino de esports, a Riot Games lançou duas iniciativas incríveis que estão colaborando não só para que as jogadoras, em particular, possam evoluir, mas também para que as grandes organizações de Esports tenham interesse em contratar e treinar elencos femininos.

A primeira delas, que veio à público em Janeiro deste ano, anuncia uma decisão que afeta diretamente a participação de times femininos no VALORANT Champions Tour: Todas as organizações poderão possuir dois times jogando o campeonato, desde que um desses times seja feminino, e o outro, masculino. A princípio, essa pode parecer uma decisão um tanto boba por parte da Riot, mas ela traz um recado muito mais profundo para as organizações: em vez de apenas uma chance de ganhar o campeonato, possuindo uma line feminina você possui duas. E, como as organizações sempre procuram vencer os torneios, essa decisão pode realmente levá-las a investir em lines femininas.

Imagem: Riot Games/Gamers Club

 

Pouco depois, em Fevereiro, foi anunciado o Riot Game Changers, um projeto criado pela desenvolvedora com o intuito de valorizar e impulsionar o cenário feminino de VALORANT oferecendo, no total, R$460 mil em premiações, distribuídas por diversos campeonatos femininos realizados tanto pela comunidade quanto pelo circuito oficial da Riot Games, chancelado pela Gamers Club. No total, serão cerca de 20 campeonatos exclusivamente femininos apoiados e patrocinados pela Riot. 

Girl Gamer Festival, disputado em São Paulo

Foto: Reprodução/The Clutch

Ter quatro campeonatos femininos acontecendo em um período de um mês, para muitas mulheres que batalham há anos para conseguir seu lugar ao sol no meio dos Esports, é como um sonho. Finalmente elas podem sentir que existe uma demanda justa para a sua dedicação, depois de todo esse tempo elas podem se sentir valorizadas e queridas pela comunidade e pela própria desenvolvedora do jogo, e as coisas até agora estão caminhando muito bem. Diante desse cenário extremamente positivo, podemos nos questionar: quais serão os próximos passos?

O futuro do VALORANT feminino

Embora todas essas iniciativas estejam trazendo um rumo absurdamente positivo para a comunidade feminina de VALORANT, ainda é difícil, para muitas dessas organizações, conseguir patrocínios de empresas para fornecer uma boa premiação para os times que participam de seus campeonatos. É o que aconteceu, por exemplo, com a Call Esports, que lançou seu campeonato com uma premiação de 300 reais e causou um rebuliço na comunidade.

Para quem observa de fora, talvez pareça um absurdo oferecer 300 reais como premiação em um torneio feminino quando outras organizações ofereceram, anteriormente, R$15 mil, mas eu devo dizer que não é. O cenário competitivo feminino é majoritariamente sustentado por trabalho voluntário. Organizações como a Strigi Manse, a Call Esports e a Sakuras Esports realizam campeonatos sem oferecer qualquer tipo de valor financeiro para a equipe organizadora, e todo o dinheiro recebido em financiamentos coletivos ou de outras fontes vão exclusivamente para a premiação dos torneios.

Elenco feminino da Gamelanders, que foi campeão do Protovolo Gêneses e também do Sakuras Ascent

Imagem: Gamelanders

Naquele dia, a Call não ofereceu 300 reais por mesquinharia ou para desvalorizar o cenário feminino. Ofereceram esse valor porque era o que eles possuíam para oferecer. É muito difícil para uma organização pequena conseguir patrocínios que envolvam dinheiro para conceder como premiação. Grande parte das empresas procura oferecer produtos ou, muitas vezes, apenas a divulgação como forma de apoio aos campeonatos. Se buscamos a profissionalização e o investimento das organizações nos cenários femininos, precisamos de mais que isso.

O Game Changers está previsto para acontecer, atualmente, apenas até o final do ano de 2021. Não sabemos se a Riot possui interesse em prosseguir com o programa para 2022 da mesma forma que é hoje, e embora seja um baita apoio para a comunidade, precisamos que ele não seja o único. Frequentemente vemos novas empresas de games abraçando a ideia de que mulheres são importantes, que elas podem sim jogar, etc. Precisamos, a partir de agora, ver esse apreço pela comunidade feminina sendo aplicado financeiramente a ela, ou o futuro promissor do VALORANT feminino pode estar em risco.

Os organizadores de campeonatos não podem sempre contar com a ajuda da comunidade, como aconteceu no caso da Call Esports, que arrecadou R$19 mil em premiação, ou com o apoio do Game Changers, que abraça somente um campeonato da comunidade por mês. Os números de audiência em campeonatos femininos estão melhores que nunca: A Call Esports conseguiu um pico de cerca de seis mil pessoas assistindo a final do último Women’s Community Festival, que aconteceu entre a Gamelanders Purple e a INTZ Angels. A Sakuras Esports, transmitindo no mesmo horário das semifinais do CBLOL, chegou a 1,7 mil espectadores nas semifinais do Sakuras Ascent, além de contar com 48 times inscritos para o campeonato. 

Sabemos que existe interesse das jogadoras em competir, e da comunidade em assistir. Os projetos que criam torneios independentes estão se dedicando cada vez mais a trazer profissionais de alto nível para fornecer uma experiência de primeira linha tanto para as jogadoras quanto para a comunidade, mesmo trabalhando de forma voluntária. A única coisa que falta para que o cenário feminino deslanche de vez é a confiança e o investimento das grandes empresas.

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Juliana "Moondded" Alonso entusiasta de Esports desde 2013. Fundou a Sakuras Esports, em 2018, e depois disso não parou mais de falar e lutar pelo cenário feminino e pelas mulheres nos Esports. Você pode acompanhar mais sobre ela em @moondded nas redes sociais.