Se você se interessa por jogos de construção e sobrevivência com elementos extremamente simplificados, Fortnite não é o jogo para você.

Disponível atualmente em acesso antecipado, Fortnite é um jogo grátis que vai chegar para PlayStation 4, PC Xbox One no ano que vem e me conquistou com seus gráficos bonitos, seus personagens simpáticos - me lembrando uma mistura de Plants vs. Zombies, Borderlands e Orcs Must Die 2 - e uma receita simples pra garantir meu interesse: construção e sobrevivência com elementos de defesa de torre.

Fortnite é uma aventura pós-apocalíptica com diversas missões para proteger os sobreviventes das hordas dos temíveis Husks. Como quem começa uma partida de Battlegrounds, seu objetivo ao entrar em cada missão é: coletar recursos, aniquilar os adversários e sobreviver - ou melhor, proteger sua “torre” até o fim do cronômetro.

Além da história linear, existem missões, objetivos escondidos e surpresas em cada mapa, transformando cada um deles em uma busca única por outros sobreviventes, informações sobre a história e atividades nada comuns, como proteger um balão meteorológico ou até mesmo encontrar fitas de gravação que narram uma história de intriga e mistério.

Os quase seis anos de desenvolvimento fizeram muito bem ao jogo: as mecânicas apresentadas são muito divertidas e bem executadas, porém, apesar de todo esse pacote de conteúdo extenso e incrível, talvez colocar tantos atrativos diferentes seja o que transformou certas coisas bastante confusas e não muito intuitivas.

Vamos começar pelo tutorial, que na verdade te apresenta a primeira camada do jogo. A cobertura do que é ensinado no tutorial é bastante superficial e, mesmo após se familiarizar com a jogabilidade, a interface final ainda não é amigável. Se você nunca jogou uma gama de jogos específicos (afinal, Fortnite possui um compilado de mecânicas similares às presentes em outros games), vai experimentar um pouco de dificuldade para entender exatamente o que cada coisa das milhares presentes no jogo podem fazer.

Defensores? Esquadrão de Sobreviventes? O que são? De onde vêm? Do que se alimentam? Essas perguntas você não verá no tutorial - e os indicativos dentro do jogo também não são muito explicativos. “Mas Julia, você queria facilidades?” - não, na realidade eu gosto de desafios, mas eu gostaria muito de ter um indicativo mais preciso de como funcionam as coisas e o que elas acarretam no meu gameplay, sem ficar clicando aleatoriamente nas cartas que ganhei no jogo para observar algum resultado.

Fora essa interface confusa (em que, honestamente, o design também poderia ter sido mais claro) e mecânicas mal explicadas, o jogo acertou em cheio em todo o resto, se tornando um dos meus passatempos preferidos para jogar com os amigos - sério, o multiplayer desse jogo transforma a experiência em algo mil vezes mais sensacional.

Com personagens únicos, classes e identidade distinta para cada herói do jogo, o gameplay não fica enjoativo e é possível decidir no que você deseja focar em cada missão. Quer coletar recursos? Gosta de atirar nos inimigos? Você pode escolher seu estilo de jogo e algum herói irá se encaixar a ele. Eu, por exemplo, jogo shurikens e me divirto com a classe ninja.

Sobre o sistema de construção, tive de jogar com os pés pois bati palmas pra cada canto, curvatura de parede e customização de escadas presente no jogo - tenho certeza que não sou a única a sofrer tanto com mecânicas de construção simplificadas. Mesmo com minhas extensas horas em outros jogos - até mesmo batalhando hordas e hordas de monstros em Terraria - fui surpreendida com uma experiência totalmente nova, além de que a cada missão, o jogo te obriga a prestar atenção no que você está construindo, como está construindo e qual material está utilizando.

Os Husks, zumbis diferentões do mundo descolado de Fortnite, têm comportamentos diferentes, te obrigando a sempre sair do planejamento básico para se adaptar aos novos perigos das hordas. Esqueletos jogadores de beisebol, “bruxas” que arremessam fogo em sua base e até mesmo um monstro enorme que lembra muito o Charger de Left 4 Dead, fazem com que os construtores precisem estar de olho em quais armadilhas instalar e como reforçar as paredes e barricadas. Aqui não existe arroz com feijão. Toda rodada é um comportamento diferente.

Sobre as mecânicas de combate, está do jeito que eu particularmente adoro: sem firulas, animações bem feitas, diversificação nos efeitos de armas e balanceamento entre elas. É extremamente satisfatório acertar um headshot com um rifle sniper ou acabar destruindo um adversário com um golpe de espada. O sistema de armas e criação delas também segue um estilo diversificado, sem ser exagerado. Com um modelo bastante intuitivo de “consiga a receita, pegue os materiais e por fim crie seu item”, o jogo fornece algumas maneiras de adquirir diferentes armas dos mais diversos níveis sem precisar abrir sua carteira.

Algo que me chamou a atenção, na questão de obtenção de conteúdo, é que o jogo tem um sistema de compras muito parecido com os de outros games (alô, Overwatch!), mas não chega a ser algo totalmente no sistema de “gacha” - que cobra por itens aleatórios - pois há maneiras de adquirir as Pinãtas (o “baú premium”) dentro do próprio jogo de forma gratuita ao fazer quests e completar objetivos.

As Pinãtas possuem diferentes qualidades entre si: vermelha (comum), roxa (adquirida com moedas do jogo) e amarelas (adquiridas com moedas de fundador) - e em todas elas, ao quebrá-las existe a chance de transformá-las em Pinãtas de prata e se sua sorte seguir firme, Pinãtas de ouro. Fazendo alguns testes básicos (que na verdade deveriam ser desconsiderados pelo meu azar constante na abertura de baús e pacotes em geral) percebi que é possível sim adquirir os conteúdos lendários/épicos nas Pinãtas comuns, mas a chance é significativamente menor, isso pode acabar criando uma parede entre os jogadores que decidirem apenas pelos conteúdos 'de graça' e aqueles que se renderem às microtransações no jogo.

Além de todas as mecânicas que citei acima, Fortnite se torna ainda mais completo por inserir conteúdos de apoio como o sistema de coleções, onde você utiliza seus itens para completar um àlbum que te dá premiações como pontos de habilidades e até mesmo Pinãtas, um sistema de habilidades em que você pode decidir para qual caminho deseja evoluir seu grupo de heróis e sobreviventes e um menu especial para acompanhar as missões principais e os objetivos secundários.

Em uma visão geral, Fortnite é um jogo excelente e seu potencial é ainda maior quando jogado em grupo. Apesar de não possuir mecâncias específicas para o multiplayer, há um balanceamento de dificuldade de acordo com os jogadores presentes e o sistema online é divertido para conhecer outros jogadores que possam completar seu grupo de sobreviventes com classe diferentes das suas. Caso prefira ser o lobo solitário, não tem problema: você irá se divertir tanto quanto através da construção de sua própria base e a missão solitária de ser o comandante do mundo de Fortnite.

Fortnite está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC (Epic Games). O jogo foi testado em um PC. Clique no nome das plataformas para conferir o preço na versão digital.

Nota do crítico