Um dos maiores eventos de tecnologia e telecomunicações do mundo, o Mobile World Congress (MWC) teve sua edição de 2020 oficialmente cancelada.

Em uma nota publicada nesta quarta-feira (12) no site da GSM Association, associação responsável pelo evento, John Hoffman, CEO da organização, tornou oficial a decisão de suspender o evento após dias de expectativa por parte de empresas e visitantes – incertos se a edição deste ano aconteceria ou não.

Com o devido respeito ao ambiente seguro e saudável de Barcelona e do país anfitrião, a GSMA cancelou o MWC Barcelona 2020 porque a preocupação global com o surto de Coronavírus, a preocupação com viagens e outras circunstâncias, impossibilita a realização do evento”, escreveu Hoffman na nota.

A decisão da GSMA foi antecedida por uma série de baixas entre expositores que tinham participação confirmada no evento até então. Na lista de desistências, empresas como LG, Sony, Intel, Nvidia, Ericsson, Amazon e Facebook resolveram suspender ou reduzir substancialmente nos dias anteriores ao anúncio da GSMA – todas citando o surto de Coronavírus como motivação.

Realizado desde 2006 em Barcelona, na Espanha, o MWC se tornou um dos mais importantes pontos de encontro entre fabricantes de smartphones, operadoras de telecomunicações, prestadoras de serviço e outras empresas do setor advindas de todos os cantos do mundo.

Não é surpresa, portanto, que o cancelamento sem precedentes terá um impacto considerável na indústria – tanto no anúncio de produtos quanto nos negócios que seriam fechados durante o evento. Ainda assim, o impacto promete ser consideravelmente maior para uns do que para outros.

Quem são os efetados?

Lluis Gene/AFP

Dos mais de dois mil expositores do agora finado MWC 2020, dois grupos devem ser especialmente afetados pelo seu cancelamento: de um lado, as fabricantes de smartphones; de outro, as empresas chinesas de tecnologia como um todo. O problema, é claro, vem dobrado para aquelas que pertencem aos dois grupos.

Para fabricantes de smartphones, o MWC é um momento tradicionalmente importante do calendário de tecnologia porque funciona como um chamariz para consumidores de todo o mundo. Em um mercado cada vez mais disputado e marcado pelo aumento do tempo médio que pessoas ficam com seus smartphones, a oportunidade de revelar um novo produto em um momento em que todo mundo está atento ao assunto é essencial.

Quando levamos também em consideração que 2020 marca um ano de início de transição entre as tecnologias 4G e 5G, a expectativa era de que uma boa quantidade de smartphones habilitados para a nova geração de conectividade móveis fossem revelados. Com o cancelamento, no entanto, o anúncio destes dispositivos deverá ser pulverizado por suas fabricantes em eventos paralelos ou através de divulgações mais simples, que certamente terão um alcance mais limitado quando comparado àquele oferecido pela MWC

Já para as chinesas, o cancelamento do MWC 2020 se mostra uma grande frustração. Sem levar em consideração os gastos de expositores com estandes de um evento que não vai acontecer, o buraco no calendário de convenções se torna uma oportunidade perdida para empresas chinesas que buscavam fechar negócios com companhias ou consumidores europeus – em especial em um momento em que China e Estados Unidos seguem em pé de guerra por conta de disputas comerciais.

Não à toa, Huawei, Xiaomi e Oppo, gigantes chinesas de tecnologia, estiveram entre as empresas que reforçaram que participaram do evento até os 45 do segundo tempo. Até mesmo a ZTE, uma das primeiras a se posicionar sobre a questão do Coronavírus no MWC, optou por cancelar eventos pontuais, mas seguir participando da edição deste ano.

A estratégia foi oposta à de outras fabricantes asiáticas como a LG e a Sony ou mesmo de empresas norte-americanas e europeias, como a Intel, Amazon, Facebook e Ericssom, que já haviam desistido do MWC antes mesmo de seu cancelamento citando preocupações com o surto.

E o futuro?

Lluis Gene/AFP

Por mais que o cancelamento do MWC certamente tenha acarretado em alguns prejuízos para as empresas que participariam da exibição, consumidores não devem sentir um grande impacto.

Ao mesmo tempo que cancelavam sua presença antes mesmo do evento ser descontinuado, companhias já divulgaram planos alternativos para seus anúncios de produtos – a LG, por exemplo, vai pulverizar anúncios por outros eventos, enquanto a Sony vai fazer uma espécie de “Direct” para revelar seus dispositivos que seriam apresentados no MWC.

Rumores, inclusive, apontam que algumas empresas se preparam para apresentar produtos em Barcelona mesmo, buscando locais alternativos na cidade espanhola para aproveitar o embalo do MWC.Outra possibilidade proposta é que o MWC se tornasse um evento online.

Todas estas alternativas ao MWC, é claro, indicam que a GSM Association, organizadora do evento, é quem deve terminar o ano mais preocupada do que começou. Sem uma edição neste ano, a associação arrisca que empresas parcerias comecem a questionar a importância da exposição anual.

De forma semelhante ao que vem acontecendo com a E3, expositores de longa data podem optar por não voltarem a participar da convenção em edições futuras, avaliando impactos positivos e negativos do cancelamento do MWC 2020 para redirecionar estratégias a partir do ano que vem.

Em todas as mensagens veiculadas sobre o episódio, a GSM Association já deu sinais de estar preocupada com a possibilidade de um êxodo de empresas no futuro, reforçando que a edição de 2021 acontecerá normalmente. Entre junho e julho, os planos continuam de pé para a mini convenção MWC Shanghai, na China. Não é certo, no entanto, se esses planos também virão abaixo.