O Galaxy Fold foi o primeiro smartphone dobrável a ser vendido no Brasil, e esse pioneirismo teve um preço salgado: R$ 12.999. Com um lançamento conturbado, a Samsung pagou por ter lançado o Fold tão rápido no mercado internacional. No entanto, a empresa aprendeu com os erros e os feedbacks dos testadores, e agora está colhendo os louros de ter um celular que abre como um livro e se transforma praticamente em um tablet.

Mas deixando a inovação um pouco de lado, o Galaxy Fold é um smartphone que pode ser usado na "vida real"? Depois de passar alguns dias usando o modelo como meu celular principal, tenho um veredito.

O que vem na caixa?

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Joyce Macedo/Divulgação

Como estamos falando de um smartphone que custa quase o preço de um Celta, poucas pessoas terão a chance de abrir a caixa de um Galaxy Fold. Para matar essa curiosidade, vamos passar rapidamente pelo conteúdo desse quebra-cabeça — são três embalagens, uma dentro da outra, até chegar ao aparelho.

  • Carregador de tomada de 15W
  • Cabo USB-C
  • Fone de ouvido sem fio Galaxy Buds
  • Capinha protetora para o Fold
  • Extrator de SIM Card
  • Muita papelada de manual e afins

Mas o que mais chama atenção aqui é um plástico com uma série de recomendações ensinando como cuidar do aparelho. São elas:

  • Não pressionar a tela com objetos afiados e duros, como canetas ou unhas, e não colocar muita força no toque.
  • Quando dobrar o dispositivo, não colocar nenhum objeto no meio, incluindo cartões, moedas ou chaves.
  • O aparelho não é resistente à água ou poeira. Não o deixe exposto a líquidos ou pequenas partículas.
  • Não cole nenhum adesivo, como stickers ou películas, na tela principal e nem remova a película protetora que já vem nela.
  • O dispositivo contém ímãs e deve ficar a uma "distância segura" de cartões de crédito ou implantes médicos afetados pelo magnetismo.

Design e usabilidade

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Joyce Macedo/Reprodução

É praticamente impossível passar desapercebido ao andar por aí com o aparelho. Quando usar o Galaxy Fold na rua, quem não quiser te roubar, vai querer ser seu amigo. Brincadeiras de gosto duvidoso à parte, este é um smartphone que chama atenção, afinal não é todo dia que alguém desdobra um celular que se transforma em um pequeno tablet.

Quando está fechado, o aparelho tem 15.7 mm de espessura, 16 cm de altura e 6.2 cm de largura. Para efeito de comparação, o iPhone 11 Pro Max, que já é considerado um trambolho, tem 8.1 mm de espessura.

O dobrável não é leve, mas seus 276 gramas não se mostram tão incômodos durante a rotina de uso. O acabamento do aparelho é muito bem feito, com vidro na parte frontal e traseira, e alumínio nas laterais. A parte problemática da tela principal no primeiro modelo do Fold foi corrigida e não vemos "sobra" na película, que parece bem escondidinha nas bordas.

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A dobradiça de metal traz o nome da Samsung e desaparece quando o aparelho é aberto. No Brasil, ele chegou apenas na cor preta, então o contraste entre a parte traseira e frontal quando o aparelho está aberto é um pouco menor do que em modelos prateados, por exemplo.

A localização do leitor de impressões digitais, que fica na lateral direita logo abaixo dos botões de controle, não é prática, e é difícil de encontrar quando o aparelho está fechado, porque ficamos batendo na outra metade dobrada. Porém, apesar do local não ser ideal, quando você consegue encontrar direitinho, ele faz a leitura biométrica rapidamente.

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Jogar aqui também é uma experiência incrível, mas o áudio fica um pouco prejudicado devido à localização dos alto-falantes estéreo, que estão nas bordas superior e inferior do telefone. Ou seja, eles acabam sendo cobertos pelas mãos quando viramos na horizontal para a jogatina. Fora isso, a qualidade do áudio é ótima, com sons nítidos e sem distorção.

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Agora, adivinha quem não deu as caras por aqui? Isso mesmo, o conector de 3.5 mm para fone de ouvido. Mas vale lembrar que ele já vem com um fone wireless na caixa, o Galaxy Buds. E o pior de tudo: o Galaxy Fold não tem resistência à água e poeira.

Telas

Quando dobrado, o Galaxy Fold mostra uma pequena tela retangular Super AMOLED de 4,6" e resolução HD+ com bordas gigantes na parte frontal. Digitar nesta tela é uma missão cruel até para quem tem dedos pequeninos, mas ela funciona bem para fazer e receber chamadas, ler notificações, rolar o feed do Instagram e fazer selfies sem ativar o modo desdobrado e chamar a atenção de todos. O problema mesmo é que ela fica facilmente cheia de marcas de dedos.

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Ao abrir o dispositivo, nos deparamos com uma bela tela AMOLED dinâmico de 7,3" e resolução de 2152 x 1536, mas a densidade de pixels não é das mais altas encontradas por aí: 362ppi. Também vale lembrar que a tela é feita de um plástico mais resistente, porém não resistente o suficiente para lidar com unhas grandes. Não tive nenhum problema durante os testes, pois minha unha não é tão grande e eu tomei muito cuidado para evitar marcas e perfurações.

Quando falamos de Samsung, é difícil ficar decepcionado com as telas da fabricante, e aqui não é diferente. O display do Fold conta com cores brilhantes, nítidas, com pretos profundos e é ótimo para consumir conteúdo em vídeo. Um aviso: rolar o feed do Instagram em locais públicos não é nada discreto com essa tela que deixa as fotos imensas.

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Mas o que todo mundo quer saber mesmo é sobre o vinco no meio da tela. Sim, ele existe, mas não incomoda durante o uso. A marca fica mais perceptível quando a tela está exibindo uma cor única, sem detalhes. Além disso, também dá para sentir a dobradiça se você passar o dedo na região. Mas, no fim das contas, você esquece totalmente dele depois de certo tempo de uso - afinal, já nos acostumamos até com o notch, não é mesmo?

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E por falar no notch, o desta tela fica no canto superior direito e abriga a câmera frontal e alguns sensores. Como as notificações de status de bateria, hora e afins ficam na mesma linha do notch, muitos apps criam uma faixa preta e ignoram esse pequeno espaço superior.

Recursos (e problemas) exclusivos

Durante nossos testes, o Fold estava rodando o Android 9.0 Pie com a One UI 1.5 adaptada para a tela dobrável.

Um recurso muito bacana relacionado às duas telas é o "continuidade de apps", que permite transitar entre a tela interna e externa sem perder o conteúdo que estava vendo. Basicamente, o sistema adapta o app para o tamanho da tela em uso, mas alguns deles, como o Uber, exigem que o usuário feche e abra novamente o app, sem perder os dados da corrida. Os desenvolvedores interessados em adaptar os seus apps já têm acesso fácil a essas ferramentas.

Outro recurso que ajuda muito a aproveitar toda essa tela do Fold é o Janela Multi-Ativa, que permite colocar até três apps diferentes divididos no display. Para isso, é só arrastar a lateral direita da tela para abrir o menu de apps e arrastar o desejado. Mas não espere espaço de sobra para todos eles, já que as coisas podem ficar bem apertadinhas na tela dividida.

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O que deu ruim mesmo na experiência de uso foi o Instagram, mais especificamente os stories. Isso porque o aplicativo não está otimizado para a tela do Fold, então acaba cortando a parte superior das histórias publicadas. Mas vale destacar que o problema está com o app e não com a Samsung.

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Desempenho

Estamos falando de um smartphone com 12 GB de RAM e 512 GB de armazenamento interno, então o mínimo esperado é um desempenho excelente e totalmente sem engasgos. E é exatamente isso o que temos no Galaxy Fold: muita fluidez e uma navegação tranquila entre apps. Em suma, a experiência é muito parecida com o que temos no Galaxy Note 10.

No entanto, se focarmos no fato de que estamos falando de um smartphone de R$ 12.999, podemos dizer que o hardware está "ultrapassado". Isso porque o processamento é feito pelo Snapdragon 855, que também está no Galaxy S10 e já deixou de ser o que há de mais novo no portfólio da Qualcomm desde o lançamento do Snapdragon 865. Ainda assim, é impossível falar mal do desempenho do Fold em jogos, vídeos, multitarefa e afins.

Câmeras

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Aqui a coisa fica um pouquinho confusa, pois o Galaxy Fold tem um total de seis câmeras:

  • Três câmeras traseiras: 12 MP f/1.5-f/2.4 (Abertura Dupla) + 16 MP (f/2.2) + 12 MP (f/2.4)
  • Duas câmeras frontais internas: 10 MP (f/2.2) + 8 MP (f/1.9)
  • Frontal externa (aparelho fechado): 10 MP (f/2.2)

O conjunto da traseira é o mesmo já visto no Galaxy S10+, o que significa que ele faz um excelente trabalho e é bem versátil, já que temos lentes grande angular, telefoto e uma com abertura híbrida. No quesito usabilidade, é obviamente mais prático usar a telinha externa para tirar fotos mais rápidas, mas para ver mais detalhes é preciso passar a vergonha de abrir a tela gigante.

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As fotos em ambientes externos e bem iluminados são muito nítidas, com ótimo contraste, e não exigem muito do usuário para saírem prontas para serem compartilhadas. Em ambientes menos iluminados, a nitidez cai um pouco, conforme esperado, mas o Fold também conta com o modo noturno para situações mais extremas. Já os adeptos de vídeos podem gravar até 4K a 60 fps.

Na parte de selfies, dá para fazer imagens rápidas sem precisar abrir o aparelho, ou usar o Fold desdobrado para optar entre fotos com a grande angular ou padrão. Ambas possuem boa nitidez.

Selfie em câmera externa

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Joyce Macedo/Divulgação

Bateria

A bateria de 4.380 mAh foi uma grata surpresa. É fácil pensar que duas telas e tanta tecnologia embutida iriam consumir uma quantidade absurda de energia por segundo, mas isso não acontece com o Galaxy Fold.

A Samsung optou por colocar dois módulos, um em cada parte do aparelho, para somar o valor total citado anteriormente. Durante os meus testes, com uso de Wi-Fi durante boa parte do tempo e WhatsApp Web, ele chegava tranquilamente ao fim do dia com 30% e com direito a consumo de vídeos ao longo do dia. A fabricante promete até 20 horas de reprodução de vídeo com uma carga.

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Apesar do carregador que vem com o Fold não ser dos mais rápidos, o smartphone tem a vantagem de aceitar carregamento sem fio rápido e ainda compartilhar sua energia com outros dispositivos apenas por aproximação.

Conclusão

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A verdade é que minha rotina foi afetada durante os testes do Galaxy Fold, e isso não tem a ver com a qualidade do produto, mas sim com o seu preço e design. É difícil pensar em sacar um celular de R$ 13.000 do bolso no meio do transporte público, ainda mais quando precisamos desdobrar a tela para responder alguma mensagem de texto, já que a tela externa dificulta muito a vida de quem quer digitar.

É claro que isso também acontece com outros celulares top de linha, como iPhones de quase R$ 10.000. A diferença aqui é que o design dobrável e a tela grande e brilhante do Fold fazem as cabeças virarem em sua direção por onde quer que ele passe. Esse sentimento de insegurança está altamente ligado ao país em que vivemos, já que dificilmente um morador de locais com menos violência urbana teria essa preocupação. Mais ainda, isso está relacionado à minha realidade, que não envolve pagar tanto dinheiro em um celular e andar de carro 100% do tempo.

A moral da história é que o Galaxy Fold é um smartphone top de linha que não deixa a desejar no quesito desempenho, câmera e tela. No entanto, desenvolvedores de apps e usuários ainda precisam se adaptar ao novo formato de telas dobráveis, e o movimento da Samsung de lançar um produto como este no mercado é louvável.

A tela plástica, que já ficou ultrapassada depois do lançamento do Galaxy Z Flip e seu vidro dobrável, ainda é algo que dá medo de estragar. Somando isso à falta de resistência à água e poeira,o Fold é um dispositivo muito frágil e que exige cuidado no manuseio. Ah, isso sem contar que você também corre o risco de desmagnetizar seus cartões se deixar tudo muito próximo na bolsa ou no bolso.

É importante ressaltar que estamos falando de um produto inovador. Ou seja, você pode ter o mesmo desempenho e câmeras com a linha Galaxy S10, mas você não vai causar o mesmo impacto de desdobrar uma tela na hora de mostrar algo para os seus amigos.

O Galaxy Fold é um produto para early adopters, aqueles que gostam de sair na frente na adoção de novas tecnologias e estar sempre antenado. E, mais do que isso, ele é para aqueles que têm muito dinheiro para gastar.

Joyce Macedo/Reprodução
Nota do crítico