Quando os jogadores conheceram Nemesis, lá em 1999, a arma biológica logo se tornou o monstro favorito dos fãs de Resident Evil. Veloz, forte e insistente, a criatura perseguia Jill Valentine durante a maior parte do tempo, o que levou aos melhores momentos de desespero possíveis no PlayStation original.

Na época, não havia como imaginar que, um dia, veríamos Nemesis novamente em um jogo completamente novo; uma recriação que se permitiu fazer uma série de alterações em relação ao material original. Muitas dessas mudanças, inclusive, foram positivas, como o comportamento do antes odiado Carlos Oliveira.

Carlos em Resident Evil 3 Remake.

Contudo, outros aspectos acabaram sendo consideravelmente prejudicados. A participação de Nemesis, por exemplo, se tornou muito menos marcante (já que Raccoon City parece ter sido encolhida no Remake), a Torre do Relógio deixou de existir e Nemesis deixou de contar com algumas formas icônicas do original.

A sensação é de que a versão clássica de Nemesis passava mais tempo perseguindo Jill. Ele também era mais intimidador, já que existiam menos armadilhas disponíveis nos cenários. E aquelas saudosas decisões (lembra?), por mais que fossem absolutamente descartáveis, ajudavam a deixar o jogador desesperado diante da criatura.

Mr. X em Resident Evil 2.

Durante o período que precedeu o lançamento da recriação do segundo Resident Evil, Mr. X dominou as redes sociais. Após a chegada do jogo, a quantidade de memes só aumentou. Um movimento similar ocorreu antes do lançamento de Resident Evil Village, quando Lady Dimitrescu foi revelada. Enquanto isso, o impacto de Nemesis nas redes sociais foi muito menor, ao menos na minha bolha.

Olhando para números divulgados pela própria Capcom, a questão da popularidade volta a chamar atenção. Conforme revelado pela empresa, Resident Evil 2 Remake vendeu 8.6 milhões de unidades, estando muito acima de Village (4.5 milhões de unidades) e da recriação de Resident Evil 3 (4.4 milhões de unidades).

Lady Dimitrescu e filha em Village.

Sucesso comercial não é sinônimo de qualidade, como a indústria fonográfica nos ensinou há décadas. Ainda assim, é chocante que exista uma diferença de vendas tão pequena entre a nova versão de Resident Evil 3 e a original, que chegou a 3.5 milhões de unidades. Se fosse possível computar os números de cópias piratas vendidas, talvez descobríssemos até mesmo que o Remake não chegou perto das vendas do clássico.

Resident Evil 3 Remake também se destacou negativamente entre os críticos, ficando com uma média mais baixa, no Metacritic, do que Resident Evil Village, Resident Evil 7 e Resident Evil 2 Remake. Obviamente, isso não se deve apenas à maneira como Nemesis foi mal utilizado, mas esse aspecto com certeza influenciou as análises.

Nemesis em Resident Evil 3.

Por mais óbvio que pareça para quem jogou apenas os remakes, essa realidade em que Mr. X superou Nemesis jamais teria passado pela cabeça dos jogadores nos anos 1990 e início dos anos 2000. Houve um período em que o perseguidor de Leon e Claire era tratado como nada mais do que um Nemesis simplificado; um protótipo daquele que viria a ser o verdadeiro grande inimigo da série.

Esse sentimento, nas recriações, já não faz mais sentido. Os passos estrondosos de Mr. X na delegacia intimidam muito mais do que a mira falha de Nemesis com a bazuca. O silêncio inquietante do Tirano gigante contribui muito mais para o desespero dos jogadores do que os gemidos de "S.T.A.R.S." Ambientes fechados sem iluminação alguma são muito mais propícios para engrandecer uma figura vilanesca do que cidades relativamente abertas pelas quais podemos correr tranquilamente.

Nemesis clássico.

De muitas maneiras, Mr. X se tornou uma figura mais relevante e assustadora do que Nemesis na nova era de Resident Evil. Isso não é, necessariamente, bom ou ruim. É apenas um fato inesperado. Com meus 10 ou 12 anos, jamais teria me passado pela cabeça que essa possibilidade sequer existia.