Prometendo mais conteúdo e continuar a saga de Sora em Kingdom Hearts 3, a DLC Re Mind já está disponível para PlayStation 4 e chega no dia 25 de fevereiro para Xbox One. Funcionando quase como um Final Mix do jogo original, a expansão atinge algumas expectativas dos fãs, mas peca em momentos de repetitividade.

Antes de falar de Re Mind propriamente dita, é relevante explicar o que são os Final Mix. Desde o primeiro Kingdom Hearts, a Square Enix produz uma versão mais completa do game, trazendo conteúdos extras e, via de regra, um chefe e um final secreto; a esse segundo jogo, dava-se o nome de Final Mix.

Considerando esse aspecto, é possível dizer que houve uma evolução na franquia: os jogadores não precisam pagar por outro jogo completo para poder experimentar os conteúdos extra, basta adquirir a DLC. Ainda assim, algumas das decisões para a expansão são bem questionáveis.

Reconstruindo o final

Sem entrar em muitos detalhes, a primeira parte de Re Mind serve justamente para se aprofundar no arco final de Kingdom Hearts 3. Toda a sequência do Cemitério de Keyblades é reencenada, com uma ou outra cutscene extra.

Por ter revisitado o game no começo de janeiro, senti apenas uma carga pesadíssima de repetitividade nessa sequência. Ver as mesmas cutscenes mais uma vez não é das sensações mais agradáveis, ainda mais em um game que possui tanto foco narrativo e tira o controle das mãos do jogador em muitos trechos.

Por outro lado, reviver as batalhas na maratona final de chefões é interessante, já que há a possibilidade de se controlar outros personagens durante elas: Roxas, Riku, Aqua e Kairi estão disponíveis em algumas dessas lutas, e dão um desafogo para a repetição desse trecho do game.

É importante destacar a presença de Kairi entre os personagens jogáveis: esquecida no churrasco pelo roteiro do game original, ela ganha certo protagonismo em Re Mind, tendo o gameplay mais agradável entre os Guardiões da Luz que são controláveis na DLC. Trazendo elementos como lançar sua Keyblade na direção dos inimigos, a garota consegue demonstrar os resultados de seus treinos intensos - algo que KH3 sequer chega a arranhar.

No mais, a reconstrução do arco Cemitério de Keyblades ainda reserva alguns momentos épicos para os jogadores, os quais não irei comentar a fundo para não estragar a experiência.

Apesar, novamente, da repetitividade, o primeiro trecho da DLC consegue manter o tom intenso que existia no encerramento do jogo original.

Desafios, finalmente

Uma das grandes ausências do jogo original eram as batalhas difíceis. Mesmo o chefão secreto era bastante tranquilo de se lidar, principalmente com Sora no nível máximo. Claro, isso não chega a ser um problema, mas Re Mind preenche bem essa lacuna com lutas que darão bastante trabalho ao jogador.

A maioria delas se concentra no segundo trecho da expansão, onde Sora precisa enfrentar mais uma vez os membros da nova Organização XIII. O reencontro com Master Xehanort e, principalmente, a batalha contra Xion irão dar nos nervos de qualquer jogador que estava acostumado a spammar o botão de ataque (como eu).

Como de praxe, há ainda um boss secreto, que certamente entra para a lista de inimigos mais desafiadores da franquia, junto do Lingering Will e da Mysterious Figure. O vilão muda completamente o estilo de jogo adotado até então, fazendo uma transição que flerta com aspectos de Dark Souls e cia.

Para superá-lo, será necessário memorizar golpes e os momentos certos de atacar. Nada de amassar o botão de ataque nessa batalha; é essencial manter a calma e tentar estar um passo à frente dos movimentos do adversário, sempre se preparando para defender seu próximo golpe.

Essa mudança brusca na jogabilidade pode entrar para o hall de discussões sobre games terem um “modo fácil”. Claro, a franquia Kingdom Hearts tem opções de dificuldade desde sempre, mas confesso que sofri bastante com o inimigo mesmo estando na dificuldade Standard, apenas a terceira mais difícil - ou segunda mais fácil, como preferir.

Portanto, é no mínimo questionável a decisão de ter um boss tão difícil naquele que é o game mais fácil da franquia. De qualquer forma, caso você desista da luta, o YouTube está sempre aí para mostrar o que acontece depois de vencê-la.

Ah, tem aquele jogo do crossover, né?

Sim, Kingdom Hearts surgiu com um grande crossover entre várias edições de Final Fantasy com os mundos da Disney. Por cima disso, havia alguns personagens originais que faziam a história andar. Com a franquia totalmente consolidada, fica cada vez mais claro que Cloud e seus amigos não possuem mais espaço na aventura de Sora.

Por motivos de fan service e malabarismos de roteiro, o diretor Tetsuya Nomura deu um jeito de encaixar Leon, Yuffie, Cid e Aerith no segundo trecho da DLC. Infelizmente para os saudosistas da série, a necessidade desses personagens no enredo beira o inútil, e poderia ter sido resolvida de várias maneiras com os próprios personagens da série.

Precisava mesmo ser uma DLC?

Considerando a tradição das edições Final Mix, faz algum sentido que Re Mind seja um conteúdo vendido à parte, e não gratuito. Ainda assim, há ressalvas nesse sentido.

O Final Mix + de Kingdom Hearts 2, por exemplo, trazia uma das sequências mais legais da série na Cavern of Remembrance. Desafiadora, a caverna requer que o jogador eleve o nível das formas alternativas de Sora; ao seu final, estavam os treze confrontos contra membros da Organization XIII.

Dito isso, também vale lembrar que essa versão do game ainda mantinha o caráter de exploração, permitindo que o jogador visitasse os outros mundos do jogo enquanto explorava a caverna e outros conteúdos extras.

Em Re Mind, isso é completamente capado: aumente todos os atributos de Sora que puder antes de entrar na DLC; depois disso, sua exploração e liberdade dentro do game será severamente limitada.

Dito isso, e considerando que Re Mind traz algo próximo de dez horas de conteúdo novo, dependendo da sua dificuldade em superar os chefões, é possível dizer que a expansão faz algum sentido, mas seu preço de R$ 90 é bem acima do aceitável.

No fim das contas, Re Mind cumpre o que promete em trazer conteúdo extra e dar ainda mais indícios do que está vindo no futuro da série. Infelizmente, isso não compensa totalmente a ausência de exploração e a repetitividade, e apesar de acabar de uma maneira impressionante, a DLC como um todo tem gosto agridoce.

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Kingdom Hearts 3
  • Lançamento

    29.01.2019

  • Publicadora

    Square Enix

  • Desenvolvedora

    Square Enix

  • Gênero

    Action RPG

  • Testado em

    PlayStation 4

  • Plataformas

    PlayStation 4 Xbox One

Nota do crítico