Começamos com um caso que, mesmo tendo sido um dos lançamentos mais terríveis da indústria, terminou em uma história de redenção. No Man's Sky ficou mundialmente conhecido quando apareceu na conferência do PlayStation, na E3 de 2014. Esse projeto era uma produção da Hello Games, um time pequeno de desenvolvedores independentes que era liderado pelo mais experiente Sean Murray, que já tinha trabalhado na EA.
A Sony estava ajudando na divulgação do game, que seria exclusivo temporário do PS4, mas a função de porta-voz acabou caindo no colo do Sean Murray, que, em entrevista após entrevista, fazia promessas ambiciosas sobre os recursos de No Man's Sky. O jogo traria um imenso universo gerado processualmente com elementos de sobrevivência e numa estética de ficção científica. Grandes batalhas espaciais, naves que fariam manobras, animais que interagiriam entre si, inúmeros sistemas pra se explorar e um suposto elemento multiplayer que nunca ficou lá muito claro como funcionaria.
No Man’s Sky vendeu mais de 800 mil cópias no Steam no lançamento e foi o segundo maior lançamento do PS4 até aquele momento. Mas de cara as pessoas perceberam que poucas das coisas prometidas estavam na versão final do game. O universo parecia bem vazio e a campanha era repetitiva, sem variedade e curta. Sem contar que ela era recheada de problemas técnicos como crashs e bugs.
As expectativas geradas até ali faziam fãs e jornalistas tratarem o projeto como um possível Jogo do Ano e, consequentemente, a reação geral foi muito, muito negativa quando ele saiu. Do dia para a noite, Sean Murray, a Hello Games e No Man’s Sky se tornaram sinônimos de enganação e decepção, com inúmeros vídeos e tópicos em fóruns criticando o jogo e os criadores.
Felizmente, em vez de pegar o dinheiro e partir para outro projeto, o time decidiu sumir dos holofotes por meses e consertar No Man’s Sky. De 2016 a 2020, a Hello Games lançou uma dúzia de atualizações gratuitas que adicionaram a maior parte daquilo que havia sido prometido originalmente e mais um pouco. Nova história, veículos, construção de base, exploração aquática, visão em terceira pessoa, mechas, crossplay, upgrade para os novos consoles e o tão esperado multiplayer.
Por pelo menos três anos, Sean Murray e a equipe estiveram na lista de estúdios mais odiados e desmoralizados da comunidade. Mas, felizmente, eles reconquistaram a confiança dos fãs com esse trabalho após o lançamento. No Man’s Sky recebeu da imprensa e do público resenhas atualizadas muito positivas e até ganhou o prêmio de Melhor Jogo Contínuo no The Game Awards de 2020 — para a surpresa de Sean Murray, que tinha tanta certeza que perderia para Fortnite que quase se engasgou com a cerveja.