A Netflix tem feito algum barulho nas últimas semanas graças a O Poço, filme espanhol que tem o selo de originais da plataforma de streaming. Com cenas viscerais e uma crítica à sociedade bastante explícita, a produção conquistou milhares de espectadores pela sua temática e seu final misterioso.

Em resumo, O Poço é ambientado em uma prisão distópica. O cárcere é, literalmente, um poço dividido em vários andares, com dois prisioneiros residindo em cada um dos níveis. A grande sacada é o sistema de alimentação dos detentos: uma plataforma com comida que vai passando por cada andar.

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Apesar de disponibilizar um grande banquete para os prisioneiros que estão em níveis mais altos, a plataforma fica cada vez mais vazia conforme desce pelos andares, deixando apenas restos para quem estiver na parte inferior do poço.

O filme se desenvolve como uma grande crítica ao capitalismo e às pessoas que “estão acima” na cadeia social. Eventualmente, o espectador percebe que a única maneira de sobreviver dentro daquela prisão é colaborar com os outros andares, e não pensar apenas em seu próprio estômago.

A filosofia por trás de O Poço não é tão distante daquela mostrada no primeiro BioShock - que, por sinal, era um dos brindes da PlayStation Plus em fevereiro. O game é ambientado na cidade de Rapture, uma civilização que impõe o mínimo de restrições possíveis a seus cidadãos.

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Cientistas não precisam se preocupar com a moralidade de seus estudos, enquanto quase todos os serviços são completamente privatizados, por exemplo. O sonho liberal de um Estado realmente mínimo, sendo bem direto. Para sobreviver, é necessário pensar apenas em si mesmo, e não nas grandes consequências que suas atitudes podem causar.

Obviamente, a utopia de Rapture chega a um ponto crítico quando o ADAM demonstra seu potencial de comércio. O composto químico altera o DNA dos seres humanos, permitindo que eles obtenham habilidades como telecinese e pirocinese, e rapidamente vira um grande commodity dentro daquela sociedade.

Seguindo as tendências liberais da cidade, o consumo e a produção dessa substância não são regulamentados. Então surge Frank Fontaine, que cria uma linha de produção de ADAM e consequentemente um enorme grupo de viciados na substância. Seu grande plano é controlar esse “exército” para tomar a cidade, o que inevitavelmente leva a uma guerra civil que deixa Rapture em ruínas.

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No fim das contas, tanto BioShock quanto O Poço traçam críticas a uma sociedade que tenta se auto-regular. Enquanto a prisão vertical vê seus encarcerados de níveis baixos passando fome, Rapture é destruída pelas ambições gigantescas que foram institucionalizadas pelos comandantes da cidade.

Ainda que tenham abordagens totalmente diferentes e enredos que praticamente não conversam, ambas produções usam o conceito de altruísmo como fio condutor da história.

Andrew Ryan, a grande mente por trás de Rapture, chega a dizer que o altruísmo é “obscenidade mais insana que já se perpetuou na mente humana”. Em O Poço, o protagonista Goreng luta para que o altruísmo seja uma maneira de reparar a sociedade que está encarcerada.

Repletas de vieses políticos, ambas produções conversam bastante em seus ideais, transmitindo uma mensagem simples com enredos que prendem o espectador. O Poço está disponível no catálogo da Netflix, enquanto Bishock pode ser encontrado para PlayStation 4, Xbox One e PC; o game tem lançamento no Nintendo Switch marcado para 29 de maio.