Desde que os rumores de que a Sony estava fazendo uma remake do primeiro The Last of Us estouraram, a internet não sossegou. Afinal, "por que refazer um jogo que envelheceu tão bem?" "Por que esses esforços não são direcionados a desenvolver novas propriedades intelectuais ou mesmo jogos mais antigos que realmente precisam de um remake?" As críticas têm sido das mais variadas.

Mas foi inevitável. O fato é que The Last of Us foi recriado com gráficos atuais e vários aperfeiçoamentos pensando na nova geração do PlayStation. E o resultado é, sem dúvida, a melhor versão do jogo, mas que não é indispensável para quem já jogou a remasterização de PS4.

Do que se trata The Last of Us e por que é tão popular?

Joel e Ellie são pegos na chuva.

Para as poucas pessoas lendo essa review que não jogaram a obra magna do estúdio Naughty Dog, vamos contextualizar. The Last of Us é um jogo pós-apocalíptico com elementos de tiro em terceira pessoa, furtividade e sobrevivência. E essa popularidade toda que ele alcançou não é à toa.

O game foi um marco na indústria na categoria narrativa, e conta uma história emocionante com roteiro, atuação e direção impecáveis. Os personagens realmente são críveis e agem e reagem como pessoas de verdade.

Você acompanha o contrabandista de meia idade Joel. 20 anos antes, ele viu uma pandemia, causada por um tipo de fungo zumbi, matar mais da metade da população mundial e destruir a sociedade organizada e a sua família.

E agora ele acabou se envolvendo em um trabalho que consiste em levar uma adolescente até um grupo de rebeldes. Mas para isso os dois precisam cruzar metade do país e sobreviver a vários perigos, como humanos assassinos e monstros infectados. Para não entregar spoilers, vamos encerrar a descrição por aqui.

As melhorias visuais do remake

Ellie frustrada na nova versão.

Durante minhas primeiras horas jogando The Last of Us - Part I, eu tive a sensação de que a melhoria visual dessa nova versão tinha sido mínima, quase insignificante.

Até que, após alguns capítulos, fiz uma pausa e abri The Last of Us Remastered, o relançamento de 2014 para o PlayStation 4. Foi aí que fui lembrado de que às vezes temos memórias sobre um jogo antigo que são muito mais gentis do que o verdadeiro visual do game.

O remake é inegavelmente mais bonito. Não apenas nas cenas não interativas, mas em absolutamente tudo. É importante lembrar que, apesar de usar a mesma forma do original, esse é um jogo refeito do zero com a tecnologia da sequência, The Last of Us - Part II, que foi lançada em 2020.

Quanto aos melhoramentos gráficos, os rostos foram remodelados e estão mais fotorrealistas e próximos dos atores que interpretaram esses personagens. O mesmo vale para as animações faciais, que casam muito melhor com as falas; e as animações corporais, que são mais naturais durante o combate e a movimentação. Uma adição sutil é que as cenas agora fazem uma transição imediata e sem cortes para a parte jogável.

Os ambientes têm a mesma proporção de tamanho e design de level do game original, mas foram refeitos com muito mais elementos na tela, mais texturas, melhor iluminação e esse conjunto provoca uma sensação maior de grandeza. Além disso, alguns cenários são destrutíveis e a maior parte dos vidros, como parabrisas de carros ou vidraças de lojas, agora podem ser destruídos – herança de The Last of Us - Part II.

Novos recursos técnicos de imagem e som

Joel e Ellie num cenário escuro.

Por ser um jogo “novo”, o remake é pesado de rodar. É preciso fazer a escolha pelo modo de qualidade gráfica, com resolução 4K nativa e 40 quadros por segundo; ou pelo modo desempenho, com 4K escalonado e 60 fps.

Felizmente, o PS5 conta com suporte a VRR, que é a taxa de atualização variável. Jogar no modo de qualidade gráfica com VRR me entregou a experiência mais equilibrada, apesar de alguns engasgos na taxa de quadros em cenários mais cheios de elementos. Essa é minha recomendação para você extrair o melhor desse jogo, caso você tenha uma TV com esse recurso. E o mesmo vale para o HDR (grande alcance dinâmico), que faz uma bela diferença no contraste e na vibração das cores.

Por falar em vibração, The Last of Us - Part I faz bom uso do controle DualSense. A resposta tátil deixa os combates mais intensos, emulando o impacto de socos e armas recarregando na sua mão. Melhor ainda são os gatilhos adaptáveis, transmitindo tensão para os seus dedos a cada tiro ou flechada. Eu sei que a essa altura isso não é mais novidade, mas não deixa de me impressionar como jogos feitos pelo PlayStation Studios têm entregado ótimas experiências com esses recursos.

O áudio 3D é outra firula de última geração que dá um tempero no jogo. Foi a primeira vez que eu joguei um game por horas usando esse sistema e dá pra dizer que é uma camada extra de imersão muito bem-vinda pra quem quer ter a melhor experiência. É possível ouvir inimigos como se eles estivessem, de fato, no seu ambiente.

Modificações sutis

Ellie no menu de personalização.

Na questão de modificações de gameplay, para o bem ou para o mal, o remake é extremamente fiel à versão original. Tão fiel que até os itens e colecionáveis ficam nos mesmos lugares dos cenários.

A narrativa usa exatamente o mesmo áudio e captura de movimentos feitos para o lançamento original e não traz grandes alterações no gameplay do jogo de 2013. Ou seja, não existem no remake de The Last of Us - Part I as adições de mecânicas da Parte II.

O Joel não pode pular ou se arrastar no chão, os inimigos não tem cachorros e não existem cenários com grama alta ou quebra-cabeças com cordas. Dito isso, mudanças sutis vindas da sequência foram implementadas e apenas os maiores fãs devem perceber.

  • Menus e interface do usuário foram reformulados. Agora a UI é mais concisa e elegante;
  • Quando você pega um objeto ou diário, a visão fica em primeira pessoa com zoom;
  • As bancadas foram refeitas e exibem animações detalhadas enquanto você faz modificações das armas;
  • As caixas de ferramentas deixaram de ser ícones e realmente entregam novas ferramentas do seu inventário;
  • Os cofres agora pedem que você realmente coloque a combinação manualmente.

A Naughty Dog diz que aperfeiçoou a inteligência artificial de inimigos e aliados. A verdade que inimigos agora parecem flanquear mais, mas eu ainda experimentei daqueles momentos que te tiram da imersão, quando você está escondido, a Ellie fica na frente de um caçador e mesmo assim ele não vê ambos.

Outra coisa relevante é que rolou um “retcon de gameplay” com os espreitadores, os stalkers — aqueles infectados de nível 2. Antes eles só corriam em círculos até te atacar e agora eles têm o mesmo comportamento dos stalkers da Part II. Eles se escondem e são mais desafiadores, se diferenciando melhor dos infectados corredores.

E, respondendo a dúvida de muitos que jogaram a sequência: sim, eles mudaram a cor da roupa do cirurgião no fim do jogo para bater com a cor que aparece na cena em The Last of Us - Part II. Era verde e agora é azul.

Extras e desbloqueáveis

Ellie e Joel dando risada.

E os modos extras, como ficaram? A expansão Left Behind, focada na Ellie, segue separada da campanha principal, mas recebeu o mesmo tratamento de reconstrução do jogo base. Inclusive, um detalhe bobo, mas legal é que agora você pode realmente compartilhar suas fotos da cabine nas redes sociais.

No entanto, o remake não oferece o multiplayer de Facções, que existia no original e na remasterização e que era bem legal. Será que o tal jogo multiplayer que a Naughty Dog está fazendo vai ser integrado a esse jogo no futuro? Não se sabe. De qualquer forma, é a única desvantagem desta versão em relação à anterior: só existe campanha para um jogador.

Outros bônus já existentes foram vastamente expandidos, como o modo fotografia, a galeria de artes conceituais, filtros de renderização e roupas alternativas. Poderia ter opções de skins mais interessantes, mas pelo menos tem o Joel da sequência e alguns visuais pras armas pra quem terminar o jogo.

Entre as novidades, foram incluídos modos de morte permanente, modo para speedrunners e também miniaturas 3D dos personagens, como aquelas de Resident Evil. Na seção de bastidores dos extras, existem quatro podcasts oficiais em inglês e os documentários de making of do jogo original e de Left Behind, que já existem no YouTube, agora podem ser assistidos no menu do jogo com legendas em português.

Localização e acessibilidade

Conversa de Joel com um dos irmãos.

Falando em tradução, a localização de voz em português, parece ser exatamente a mesma do lançamento original, que não era das piores. A sincronia labial é falha, mas pelo menos o problema da mixagem da época, que trazia as falas dos personagens em volumes todos desregulados, aparentemente foi corrigido.

Já as legendas, foram refeitas — ou pelo menos passaram por uma revisão. Mas existem ainda alguns erros. Não é uma tradução de todo ruim, mas acaba generalizando demais algumas falas e mudando o sentido e o impacto de certos diálogos.

A parte boa é que a formatação das legendas não apenas é altamente personalizável, mas The Last of Us - Part I também conta com um sistema robusto de acessibilidade.

As opções permitem mudança nos controles, dão auxílios visuais, tentam acabar com os enjoos de quem tem problemas com a movimentação e até, pela primeira vez em jogo da Sony, contam com leitor de tela. O recurso também está disponível em português e descreve em áudio os menus, com inteligência artificial, e também cenas pré-renderizadas com uma locutora de verdade.

Considerações finais

Joel olha para o horizonte.

É muito difícil avaliar o relançamento de um game que é considerado por muitos uma obra prima. Afinal, o que deve ser avaliado? O novo estado em que o game se encontra ou que o relançamento trouxe de novo?

Este remake é a versão definitiva de The Last of Us. Com ele, os planos da Sony parecem ser de alcançar o novo público que vai procurar o jogo por causa da série de TV, além de ter um produto visualmente atraente para lançar pela primeira vez no PC — caso você não saiba, tem uma versão para computadores foi prometida para o futuro.

Mas o preço cheio de 70 dólares desse relançamento — 350 reais na PS Store e cerca de 290 no varejo durante a produção desse texto — me impede de recomendar essa compra para todo mundo. Mesmo sendo refeito do zero, ele não traz novidades o suficiente que justifiquem.

Não existe nenhuma cena ou missão novas, não tem documentos adicionais ou novidades que contenham mais sobre esse universo. Então se você já tem a remasterização, você não precisa do remake. Eu apenas recomendo essa compra se você só teve acesso à versão do PS3, que tem resolução e taxa de quadros muito ultrapassadas; se você for um grande fã que não pode deixar passar nada relacionado à franquia; ou, essencialmente, se você nunca jogou The Last of Us antes. Do contrário, espere por uma promoção.

Exceto pela ausência do multiplayer, não existe absolutamente nada que o remake de The Last of Us faça pior do que o original ou da sua remasterização. É uma versão superior em todas as esferas. Muito mais bonita, melhor de jogar, com recursos técnicos de última geração, novos extras e que é totalmente fiel ao original. Mas, alguns vão dizer, fiel até demais.

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The Last of Us Part I
  • Lançamento

    02.10.2022

  • Publicadora

    PlayStation

  • Desenvolvedora

    Naughty Dog

  • Censura

    18 anos

  • Gênero

    Ação, aventura, terror de sobrevivência

  • Plataformas

    PlayStation 5 PC

Nota do crítico