Por mais que sejam temas bastante contemporâneos, depressão, suicídio e solidão são temas muito difíceis de serem abordados. Como seu próprio nome já indica, Sea of Solitude tenta abranger essas questões em uma experiência que dura pouco mais de três horas.

O game segue a jovem Kay, que possui a aparência de um pequeno monstro: olhos vermelhos e brilhantes, pelos escuros por todo corpo e pés descalços.

Por mais que tente negar, a garota se assemelha bastante aos inimigos que encontra em sua jornada; outros monstros, que atingem os pontos mais fracos da garota com suas falas, são os principais obstáculos na jogatina.

Pouco a pouco, Kay entende os problemas que a cercam e os motivos que a transformaram em um monstro. É difícil falar dos detalhes do enredo sem entregar alguns spoilers, mas, de qualquer maneira, os fatos em si não são o que diferenciam Sea of Solitude; seguindo um clichê imenso, a jornada é o mais importante para o game.

A aventura começa em um barquinho de madeira, onde uma garota brilhante e misteriosa presenteia Kay com uma luz. A bola luminosa é a mecânica principal do game, mostrando a direção a ser seguida e ajudando a interagir com uma série de elementos da jogatina.

Em seguida, somos apresentados ao primeiro monstro, que está bloqueando o caminho. Para derrotá-lo, é necessário encontrar alguns “fragmentos” de Kay e a Corrupção de dentro deles, uma espécie de fumaça escura que representa, de certa forma, os sentimentos ruins da garota.

Depois de colocar todas essas emoções em sua mochila laranja, Kay se conecta com os fragmentos e direciona raios de luz para o monstro, abrindo passagem.

Além de andar tanto a pé quanto navegar com seu barquinho, essa é uma das poucas mecânicas que Kay possui no jogo. Não há combate direto, árvore de habilidades ou coisa do tipo. No geral, basta usar a luz como guia, e o jogo tornará todo o resto bastante intuitivo; no máximo, você precisará iludir alguns inimigos para uma área iluminada ou pular com o timing correto para evitar o monstro marinho.

No geral, Sea of Solitude se propõe a ser um game mais intimista, que atinge tanto os sentimentos do jogador quanto os de Kay. Conflitos bastante simples, e que não abusam das metáforas para transmitir sua mensagem, acontecem aos montes durante o gameplay, e por mais básicos que eles pareçam, os problemas podem ser rotineiros para muitos jogadores.

Isso é reforçado com uma excelente trilha sonora, que se intensifica nos momentos corretos para acompanhar a emoção de determinadas cenas. O belíssimo visual cartunesco, que alterna entre tons de cinza e um colorido saturado, também ajuda a imergir o jogador naquele universo.

Ainda assim, o game não é uma cartilha completa para lidar com transtornos psicológicos e problemas pessoais. A própria Cornelia Geppert, designer e criadora do game, deixa isso claro logo antes do começo da jornada: Sea of Solitude é baseado em suas próprias experiências com a solidão, e pode ou não atingir os jogadores.

Com um visual extremamente agradável, Sea of Solitude pode não compensar em conteúdo, já que custa R$ 80 e pouco tem a oferecer além de suas três horas de campanha principal. De qualquer maneira, o game não deixa de ser uma boa parábola sobre problemas pessoais e solidão.

Nota do crítico