Ainda mais furioso (e colorido) do que seu antecessor, Rage 2 chega em um ano repleto de shooters com mundo aberto: Crackdown 3, The Division 2, e até mesmo Far Cry New Dawn podem se encaixar nessa categoria.

Com gameplay bastante prazeroso e uma história que não chega a engatar, o mundo pós-apocalíptico do Ermo consegue divertir por boas horas.

Antes de tudo, é bom deixar claro que não é necessário ter jogado o primeiro Rage para entender o que está acontecendo naquele universo; o vilão General Cross, líder da Autoridade que já havia aparecido no jogo anterior, resume a história logo na primeira cutscene do jogo.

Depois do discurso de Cross, o jogador pode escolher se quer jogar como um homem ou mulher (decisão que é seguida por uma excelente piada, vale ressaltar), e enfim nos vemos na cidade de Vinhal, que está sendo destruída por Mutantes.

O protagonista Walker parte para o combate e consegue vestir uma armadura de Ranger, que o dá poderes sobre-humanos. Depois de derrotar os monstros, ele descobre que estava “predestinado” a vestir aquele traje, e parte em uma missão para derrotar o General Cross.

Missões principais com um jeitinho de side quest

Review Rage 2
Reprodução/Bethesda

Para conseguir se infiltrar na Autoridade e acabar com o grande vilão, é necessário conhecer três personagens chave: Antonin Kvasir, que retorna do primeiro Rage, John Marshall e Loosum Hagar, cada um responsável por uma parte do Projeto Adaga, o grande plano para matar Cross.

Após conhecê-los e realizar suas respectivas missões introdutórias, o Ermo está aberto para que o jogador explore: corridas, arenas de combate e lutas entre veículos são algumas das possibilidades oferecidas por aquele mundo.

O principal, entretanto, está em pequenas side quests que se espalham pelo mapa. Completar cada uma delas dará pontos de experiência que correspondem a Kvasir, Marshall e Hagar, e é necessário upá-los até o nível 5. Assim, novas missões principais são liberadas para conseguir completar o Projeto Adaga.

Essa mecânica acaba se tornando uma faca de dois gumes: por mais que as missões sejam simples e resolvidas com certa rapidez, elas ignoram quase completamente a história do jogo, não acrescentando quase nada ao desenvolvimento dos personagens e nem fortalecendo a trama.

Nesse e em alguns outros aspectos, Rage 2 se assemelha a Crackdown 3, que também exigia completar missões paralelas para liberar, gradualmente, cada chefão, até que se chegue ao último.

Rage, entretanto, tem apenas um grande boss, representado pelo General Cross. Todas as outras lutas de chefe são idênticas, e podem ser resolvidas com certa facilidade depois de se acostumar com as batalhas.

Assim, o enredo acaba se tornando desinteressante, e as poucas cutscenes e conversas não trazem grandes revelações ou reviravoltas para a trama. No fim das contas, o jogo conta apenas a história de um herói melhorando suas habilidades para caçar um vilão.

Mais um mundo aberto?

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Reprodução/Bethesda

Mapas extensos repletos de pequenas missões já deixaram de ser novidade há muito tempo. A fórmula tem sido repetida extensivamente pela indústria de games, com resultados que podem ser bisonhos ou excelentes.

Rage 2 está em algum lugar no meio dessa escala. Mesmo tendo uma campanha curta, a qual terminei em algo próximo de dez horas, não falta conteúdo a ser explorado no Ermo. Além das tradicionais bases inimigas, há algumas tarefas bem distintas que podem ser realizadas.

O que mais me chamou atenção são as Torres da Autoridade, construções robóticas enormes que atacam o jogador sem piedade. Apesar de serem fincadas na terra, elas possuem apenas um ponto fraco e podem ser extremamente difíceis de serem abatidas.

Outros adversários formidáveis são os comboios inimigos. Liderados por um grande caminhão, pequenos carros e motocicletas infernizam o jogador antes dele conseguir infringir dano significativo no chefão mecânicos. Caso queira desafiar algum desses, vá preparado e com bastante munição.

Ainda no campo dos veículos, é possível disputar divertidas corridas, que aparecem tanto em lugares aleatórios do mapa quanto em uma arena especialmente dedicada a isso.

Mesmo com tanto conteúdo, ainda é um desafio para a id Software dar uma identidade própria ao Ermo. A única característica realmente distintiva em sua aparência e ambiente está nos detalhes rosa choque, que aparecem com muita frequência em todos os cenários.

As cidades são exceção nesse defeito, transmitindo com maestria a aura de uma cidade hiper-tecnológica, mas que sofre com o cenário pós-apocalíptico. No campo aberto, os locais são bastante genéricos. Por mais que os belos gráficos, cenários variados e uma paleta de cores interessante estejam ali, um “ecossistema” como o de Horizon Zero Dawn passa longe de existir em Rage 2.

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Reprodução/Bethesda

Habilidades e itens sem fim

Atributos e habilidades são um ponto levemente confuso em Rage 2. Para melhorar sua vida e seu dano com armas, por exemplo, é preciso a ir uma loja específica. Upgrades de armas, habilidades e veículos que você já possui são feitos no próprio menu principal, pressionando o touch pad do PlayStation 4.

Dizendo assim, até parece simples, mas cada tipo de atributo precisa de itens específicos para receber melhorias. Entre Aceleradores de Nanotritos e Pontos de Projeto, às vezes é difícil lembrar do que você precisava para obter ou melhorar uma nova skill.

Tudo piora com o menu extremamente mal-otimizado, onde a maioria dos upgrades é feito. Dividido em abas, ele funciona perfeitamente quando o jogador se mantém na mesma seção; ao trocar entre as abas, entretanto, o jogo trava por um tempo considerável. Esse erro, que sofri tanto no PS4 quanto no PS4 Pro, é o suficiente para irritar qualquer pessoa que só queria melhorar uma skill.

Sangue, miolos e membros para todos os lados

O combate é onde o jogo brilha com a maior força: existe uma variedade considerável de poderes, itens e armas que podem ser combinados das maneiras mais criativas possíveis - novamente, de um jeito bastante similar a Crackdown 3, com a diferença de Rage ter batalhas um pouco mais equilibradas, sem apelar para hordas gigantescas como o exclusivo da Microsoft.

Em meio aos tiroteios, o maior destaque vai para a Escopeta, que é adquirida logo no início do jogo. Seguindo a tônica de shooters clássicos como Doom e Duke Nukem, a arma realmente destroça seus inimigos, e é certamente a mais divertida de ser usada.

É difícil explicar o porquê das lutas serem tão gostosas, mas alguns pontos são bastante óbvios: Walker, seu personagem, é extremamente forte, e os inimigos realmente sentem todos os seus disparos - diferente de The Division 2, onde alguns vilões nem se mexiam ao tomar 25 headshots seguidos.

Falando em headshot, essa é outra das qualidades fáceis de serem apontadas. O som de acertar a cabeça dos mutantes é bem diferente em comparação a outras regiões do corpo, fornecendo uma ótima sensação de recompensa ao jogador.

Explodir os miolos de um mutante com sua shotgun; usar a habilidade Shatter para destruir inimigos à curta distância; decepá-los com um bumerangue feito de lâminas. Todas as opções de combates são prazerosas, de fácil acesso, e ainda mais importante: cada uma possui efeitos diferentes no corpo dos inimigos, e apesar deles serem monstros horrendos, o sentimento é de que aquele combate é genuíno.

O único problema é que o jogador eventualmente pode ficar enjoado dos intensos combates, já que não existe uma variedade tão grande de inimigos a serem abatidos. Felizmente, as missões costumam ser curtas e não transmitem esse tédio com tanta intensidade como The Division 2; ainda assim, ele surgirá em algum momento.

Rage 2 se garante inteiramente no excelente combate, sendo um jogo mediano em quase todos os outros aspectos: história, personagens e tipos de vilões. Apesar de soar repetitivo em muitos momentos, o título garante boas horas de diversão e intensidade, sem requerer que o jogador se submeta a um grind absurdo.

Para uma possível próxima iteração da franquia, vale pensar em um enredo mais elaborado, além de focar em um ambiente que seja mais interativo e transmita sua identidade própria. Mesmo com esses retoques a serem feitos, os fãs da carnificina virtual possuem um prato bem cheio em Rage 2.

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RAGE 2
  • Lançamento

    14.05.2019

  • Publicadora

    Bethesda

  • Desenvolvedora

    Avalanche Studios/id Software

  • Gênero

    Tiro

  • Testado em

    PlayStation 4

  • Plataformas

    Xbox One PlayStation 4 PC

Nota do crítico