Acredite se quiser: mesmo fazendo parte da colossal franquia One Piece, o novo jogo da marca não é apenas para fãs. Recebendo a tocha de seu predecessor direto - um dos melhores jogos do estilo Warriors (ou Musou) já criados -, Pirate Warriors 4 traz combates ainda mais fluidos e satisfatórios, e pode até mesmo servir como porta de entrada para o maravilhoso mundo da pirataria do bem concebido por Eiichiro Oda.

Atravessar milhares de inimigos como uma faca corta a manteiga é mais divertido aqui até mesmo do que em esforços recentes da série Dynasty Warriors - que criou o curioso estilo de ação em que o difícil não é derrotar os inimigos, mas sim saber quais inimigos derrotar em cada determinado momento das longas batalhas.

Infelizmente, Pirate Warriors 4 ainda fica preso a muitas das amarras que limitam o potencial do gênero desde os tempos do PlayStation 2, principalmente no que diz respeito à maneira como as histórias são contadas dentro do jogo: truncada e nem um pouco envolvente.

Divulgação/Bandai Namco Games

Em uma recriação surpreendentemente apta das grandes batalhas que acontecem dentro do universo de One Piece, o jogo mistura exércitos de milhares de guerreiros fracotes com alguns poucos indivíduos com poderes extraordinários. Monkey D. Luffy e companhia são armas de destruição em massa ambulantes, capazes de varrer centenas de soldadinhos com um único golpe.

Com exceção dos momentos em que você é obrigado a enfrentar generais inimigos, que têm poderes similares aos seus, derrotar oponentes é muito fácil. Fácil demais, diriam fãs de jogos mais tradicionais de ação. Mas não é esse o ponto: como todo bom Musou, Pirate Warriors 4 é na verdade um jogo de estratégia, no qual o objetivo é conquistar territórios e cumprir missões nos momentos certos.

Nas batalhas finais do jogo ou na dificuldade mais alta, Pirate Warriors 4 é um jogo muito desafiador e envolvente. Se você deixar um inimigo reconquistar um território do qual você já tinha se apossado, por exemplo, outros guerreiros poderosos podem surgir no campo de batalha e atrapalhar (ou adiar) seus planos. A graça está em otimizar suas ações para vencer o relógio e pontuar o máximo possível, cumprindo objetivos paralelos além dos obrigatórios.

Naturalmente, se o que você quer do jogo é a sensação de invencibilidade, os modos de dificuldade mais fáceis estão lá para seu deleite.

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Com mudanças que aceleram muito o ritmo dos combates, Pirate Warriors 4 tem mecânicas que precisam se tornar o padrão para todos os outros títulos Musou daqui para frente.

Agora, todos os personagens jogáveis têm acesso a botões de pulo e investida. O de pulo garante acesso aos novos ataques aéreos, que permitem ao jogador continuar desferindo porrada mesmo quando estiver no ar. Já o de investida serve para cancelar qualquer animação antes de seu término, como em um jogo de luta, de maneira que seja possível combinar diferentes sequências de ataques em rápida sucessão.

O resultado é o Musou mais veloz e divertido dos últimos anos. Com experimentação suficiente, é possível descobrir sequências praticamente intermináveis de ataques que deixam seus inimigos sem reação. A sensação de poder é enorme, mas não barata, já que ela cobra a coordenação para realizar e cancelar ataques nos momentos certos.

No lugar de uma única barra de especial, os personagens têm acesso a uma seleção de quatro barras de especial distintas, cada uma correspondendo a uma habilidade diferente. As barras são preenchidas na medida em que você desfere ou recebe dano. A novidade cria espaço para estratégias diferentes, permitindo que jogadores, por exemplo, 'economizem' energia para utilizar certas habilidades apenas nos momentos que forem mais propícios.

A soma de todas essas novidades amplifica a diversidade presente entre os mais de 40 personagens jogáveis do game. Cada um deles tem habilidades completamente diferentes do próximo, e todos são retratados com enorme carinho com base na história original. Alguns dos heróis e vilões, como Carrot e Big Mom, tem até mesmo acesso a transformações temporárias que mudam completamente sua movimentação e ataques.

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Como já é costume no gênero, porém, Pirate Warriors 4 obriga os jogadores a sofrer com um entediante modo história antes de abrir as porteiras para as fases mais complexas e divertidas.

Neste capítulo da série, alguns arcos específicos da jornada de Luffy e companhia são recontados em detalhes, enquanto outros são ignorados completamente. Há um claro desequilíbrio na maneira como o conteúdo de história foi selecionado, o que torna impossível para leigos entender o que está acontecendo, e deixa veteranos lamentando tudo o que foi cortado.

Mas o real problema do modo história (chamado Log Dramático) é a maneira como ele obriga os jogadores a controlar apenas três personagens na maior parte de suas missões - no caso, Luffy, Zoro e Sanji. É algo que oculta uma das maiores forças do game: a variedade existente entre as dezenas de personagens jogáveis, que em muitos casos são desbloqueados apenas após o cumprimento de objetivos neste modo específico.

Em termos de narrativa, jogadores brasileiros sofrem ainda mais que o resto por conta da tosca "tradução" para o português do Brasil. As aspas estão ali de propósito já que a Bandai Namco não se importou em finalizar o que se propôs a fazer, deixando várias frases e termos ainda em espanhol no meio da tradução para o português. Às vezes, personagens mudam do português para o espanhol no meio de uma única conversa.

A total falta de revisão da tradução PT-BR torna-se ainda mais evidente quando surgem inconsistências até mesmo no uso de termos próprios do universo de One Piece. Em uma batalha em Sabaody, por exemplo, personagens se referem aos "Dragões Celestiais" com o termo traduzido em um instante, apenas para chamá-los de "Tenryuubito", do original em japonês, no quadro de diálogo seguinte.

Divulgação/Bandai Namco Games

Pirate Warriors 4 seria um jogo muito melhor se abraçasse de vez o modo Log do Tesouro, no qual ocorrem embates fantasiosos que não fazem o menor sentido para a trama da série. Aqui, vale tudo: aliados lutando entre si, inimigos mortais criando tréguas, e por aí vai.

No Log do Tesouro, todos os personagens podem ser selecionados, os objetivos são muito mais criativos, e até mesmo as conversas entre os guerreiros são mais proveitosas, já que pessoas que nunca se encontrariam de verdade no mundo de One Piece têm a chance de interagir.

É neste modo também que estão algumas das batalhas mais difíceis e envolventes do jogo, como as de conquista completa de território, ou as de acúmulo de recompensas, na qual até quatro jogadores podem competir online para ver quem consegue mais dinheiro derrotando piratas procurados pelo governo.

One Piece: Pirate Warriors 4 é um dos melhores jogos de seu tipo. Ele não apenas melhora em muito a mecânica clássica de combate como também, no processo, acaba mostrando que há espaço para evolução em todos os aspectos do gênero. Com sorte, uma eventual sequência saberá deixar para trás o resto dos problemas e limitações que a tradição de Musou ainda nos força goela abaixo.

One Piece: Pirate Warriors 4 já está disponível para PlayStation 4, Nintendo Switch, Xbox One e PC.

Nota do crítico