Fazia muito tempo que eu não jogava Madden. Se não me engano, a última edição do jogo que comprei e joguei por um tempo considerável foi Madden NFL 16, que tinha Odell Beckham Jr. na capa.

Dito isso, você pode me perguntar por que eu fui o escolhido pra escrever o Review deste jogo, e eu lhe explico da maneira mais simples possível: mesmo tão atrasado, eu ainda sou o membro da redação com maior proximidade ao futebol americano e também o que está mais habituado ao jogo da EA Sports.

Enfim, Madden NFL 21 é bem mais fluido do que eu esperava, trazendo poucas novidades no gameplay mas focando seus esforços em dar uma boa experiência de campo ao jogador, com inteligência artificial precisa e comandos cujas explicações são bem fáceis de ser encontradas pelo game.

Não é só com trincheiras que se faz uma defesa

Desde sempre gostei de controlar os pass rushers em Madden. Furar o bloqueio da linha ofensiva para conseguir um sack ou forçar um passe errado parecia mais divertido do que manter uma zona do campo marcada ou sair correndo atrás do WR adversário. Madden NFL 21 potencializa essa diversão, com novos comandos que aprofundam esse aspecto.

Há uma variedade considerável de movimentos que os jogadores de pass rush conseguem realizar, todos acessíveis com uma rápida mexida no analógico direito. Rodar para cima do OL, usar o bull rush ou simplesmente afastar os braços adversários utilizando suas próprias mãos estão entre as opções disponíveis.

Dando um pouco mais de desafio ao sistema, o jogador precisa saber quando gastar cada um desses movimentos, pois há uma espécie de barra de energia determinando quantos “golpes” ele ainda tem para executar. Além disso, os OLs adversários se acostumam às movimentações e saberão counterá-las, tal qual um Cavaleiro do Zodíaco, que não recebe o mesmo ataque duas vezes.

Ainda assim, quando me permiti arriscar na secundária, a sensação foi bem positiva: a marcação homem a homem é facilitada por alguns comandos, e é bem mais prazerosa do que a em zona. A variedade de comandos não é tão grande, mas ainda há algumas cartas na manga do DB, como cobertura em pressão e as clássicas opções de atacar a bola ou optar por um tackle conservador.

Inveje-me, Le’Veon Bell

O ataque não muda muito em questões de comandos: as possibilidades são praticamente as mesmas que já existem há algum tempo, ainda mais com recursos como RPO e Read Option consolidadas na liga.

O grande destaque ofensivo é mesmo a responsividade dos controles e de seus companheiros de equipe. Não foram poucas as vezes que, como o próprio Le’Veon Bell fazia em seu auge, consegui aplicar dribles rápidos antes mesmo de adentrar as trincheiras com meu RB. Em situações de campo aberto, idem; fintas rápidas e giros são gostosos de serem executados.

Ainda sobre o campo aberto, é notável o esforço de seus companheiros de time para bloquear os adversários, mesmo com o seu jogador já tendo ganhado uma boa quantidade de jardas. Felizmente, é quase impossível culpar seu OT por uma corrida que deu errado. Normalmente ele está bem posicionado, e essas jogadas são definidas pela batalha entre bloqueador e defensor - tal qual na vida real.

Sem muitas novidades no jogo aéreo. Sinto apenas que a fuga do pocket, seja para escapar do sack ou iniciar uma corrida com o QB, está bem polida, colocando toda a mobilidade de Russell Wilson e Lamar Jackson em suas mãos.

Ainda sobre gameplay como um todo, o Superstar X Factor é um recurso bizarramente quebrado e que pode ganhar um jogo sozinho. As habilidades de super-herói aplicadas aos jogadores são, por vezes, muito fortes e uma mão na roda pra quem as possui.

Fica o questionamento de como levar partidas competitivas a sério quando os jogadores possuem “trapaças” quase infalíveis à sua disposição, colocando o Madden em uma chata dualidade entre simulador e arcade.

O próprio jogo faz essa diferenciação, perguntando qual dos “modos” o jogador prefere, mas mesmo no modo de simulação há elementos que se aproximam do arcade.

Franchise quarterback… ou wide receiver… ou running back

Provavelmente a atualização mais parruda do game em relação a suas edições anteriores foi no modo Face of the Franchise, que mistura tons de Rumo ao Estrelato com o Jornada de FIFA. Monte seu próprio personagem e escolha o time que ele irá representar no Ensino Médio, e então assuma o controle daquilo que será uma carreira de sucesso.

Ironicamente, o maior peso narrativo da história está no início da trajetória do herói. Seu personagem necessariamente terá grande talento atlético, e não demorará muito para ameaçar a titularidade do QB de sua escola, o brilhante Tommy Matthews.

A sua relação com Tommy é cheia de idas e vindas que eventualmente definirão, por meio de diálogos, qual será a posição do seu personagem em sua carreira na NFL. Diferente dos anos anteriores, será possível escolher entre QB, WR e RB.

Os diálogos funcionam de maneira ainda mais interessante quando definem novas habilidades a serem adquiridas pelo herói: seja com o Superstar X Factor ou skills pasivas, o jogador sempre terá certeza do resultado prático de suas ações.

Infelizmente, quando as conversas não trazem nenhum efeito no gameplay em si, elas são bastante sem sal. Há até um medidor de “personalidade” que mostra o perfil com o qual seu boneco mais se alinha, mas nada que vá afetar de maneira direta a jogatina - ainda mais com o enredo, apesar de não ser ruim, passar longe de uma obra-prima.

O trecho no High School e no College é divertido e com algumas surpresas reservadas ao jogador, a única ressalva é de que seu time é extremamente apelão, e você provavelmente conseguirá dominar os adversários sem muita dificuldade - felizmente, jogos que viram passeio podem ser skipados com a funcionalidade de Super Sim, que permite assumir o controle do time apenas em momentos determinados pelo próprio jogador.

Depois disso, a trama se perde quando seu personagem se estabelece como uma estrela da NFL. Sua rivalidade com Matthews, que era um dos pontos mais instigantes no High School e no College, some quase que completamente, e você mal consegue saber se seu colega teve uma boa carreira entre os profissionais.

Mesmo a história do protagonista traz algumas incongruências, como a ameaça de perder a titularidade na temporada seguinte a uma vitória no Super Bowl. Ou então lançar para mais de 400 jardas em seu primeiro jogo no College e ainda assim ter de disputar posição.

No geral, o balanço é positivo, e o modo de jogo funciona como uma boa introdução ao futebol americano; dublagens sólidas e até uma participação de Snoop Dogg dão algum charme para o Face of the Franchise.

Ultimate Challenge Team

O early game dos Ultimate Teams são complicados tanto no FIFA quanto no Madden. O jogo de futebol faz com que o usuário dispute algumas partidas com uma equipe tenebrosa para conseguir encorpar seu elenco. O futebol americano substitui essa experiência por desafios lúdicos e funciona muito bem.

Mesmo com um time repleto de jogadores que mal tem foto em sua cartinha e possuem ratings girando em torno dos 60, os desafios são curtos e relativamente fáceis, diminuindo um pouco a chatice de se jogar o começo de qualquer Ultimate Team.

A maior ressalva aos desafios é de que nem sempre os elencos montados pelo computador são coesos: o punter Mike Palardy chegou a alinhar como RB contra a minha defesa, enquanto o QB Kirk Cousins comandou o front seven como linebacker em outra ocasião; em outras oportunidades, o kicker de ofício do time era um jogador de linha ofensiva.

Com dois dias intensamente dedicados a esse modo de jogo, consegui avançar o suficiente para garantir um bom trio de ataque, com Lamar Jackson, uma versão mais fraca de Jerry Rice e o fortíssimo RB Eddie George. Na defesa, contava com Eric Rowe e Preston Smith para segurar a barra - nada que fizesse meu time passar dos 70 de OVR e me desse confiança para me arriscar no online, mas ainda assim é uma esquadra divertida de se testar.

No fim das contas, o Ultimate Team do Madden traz uma vibe similar à do FIFA, sendo o modo de jogo destinado àqueles que preferem o grind mais intenso - ou abrir a carteira para cair no mundo das microtransações.

O jardim do modo Volta

Não foi só FIFA que teve um modo “Street” adicionado recentemente: Madden NFL 21 traz o The Yard como uma de suas novidades, com uma aura mais urbana e descontraída. Partidas 6v6 onde os atletas jogam tanto no ataque quanto na defesa são a aposta da EA para trazer um clima mais descontraído ao game.

A intenção é das mais nobres e o The Yard tem uma quantidade considerável de conteúdo a oferecer, com várias roupas diferentes para serem usadas em campo. As regras adaptadas - mais próximas do flag 5v5 do que do futebol americano convencional - também servem como ingrediente a mais para a diversão.

Ainda assim, o modo de jogo parece fadado ao mesmo destino do Volta, servindo como opção casual raramente utilizada. Fica bem claro que todo seu potencial pode ser melhor aproveitado quando se joga em galera, com um amigo assumindo o controle de cada jogador.

Madden NFL 21 não foge muito do que se espera de um jogo esportivo da EA. Pouquíssimas coisas brilham em um game que é bem sólido na maioria de seus aspectos; aqui, o mais legal está nas influências culturais do game, que vão além da aparição de Snoop Dogg e sua trilha sonora cheia de raps - letras de Eminem e a eterna entrevista de Allen Iverson são algumas das referências que consegui pescar.

Na verdade, o game é tão similar a FIFA que já é possível ver o descontentamento de sua comunidade em alguns pontos, principalmente no modo Franquia, que não recebeu nenhuma atualização em relação ao último ano. Ironicamente, o Carreira de FIFA 20 também foi rechaçado nas redes sociais no ano passado.

Caso você se interesse por futebol americano e nunca tenha se aventurado nos games da NFL, o novo Madden pode ser um bom local para se começar. Se você já possui algum dos jogos recentes da franquia e não faça questão de se atualizar com jogadores novos ou Ultimate Team, talvez seja melhor esperar por uma baixa no salgado preço de quase R$ 300.

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Madden NFL 21
Nota do crítico