Dolmen é um marco na história da indústria brasileira de jogos. Do detalhamento na construção de mundo até os combates à la soulslike, o Massive Work Studio entregou um épico multiversal digno de orgulho.

Nem tudo será tão evidente a princípio. Tal qual jogos da From Software ou mesmo clássicos do horror de sobrevivência, o universo de Dolmen é minuciosamente apresentado ao jogador por meio de extensos, mas raramente desinteressantes, textos.

A preocupação com apresentar uma realidade com regras próprias e dramas únicos é admirável. Chega a ser curioso, aliás, que o jogo, no qual diferentes universos entram em choque, trate do assunto multiverso ao mesmo tempo em que outras mídias começam a explorar esse conceito — a Marvel, por exemplo.

Corpos pendurados.
Massive Work Studio/Prime Matter.

Evidentemente, não são todos os jogadores que terão paciência para ler e ouvir tudo sobre a história de Dolmen. Para essas pessoas, provavelmente, a narrativa pode parecer um tanto vaga.

Pense que, pelo menos, o jogo está totalmente localizado em português do Brasil, obviamente. Aliás, a dublagem ficou ótima. Então, é sempre bom ouvir o que os personagens têm a dizer.

De qualquer forma, a jogabilidade tende a compensar pelo alto nível de disposição exigido do jogador em relação à história.

Alienígena de Dolmen.
Massive Work Studio/Prime Matter.

Combates intensos nos quais um golpe sofrido pode diminuir mais de um terço da saúde. Inimigos que pegam o personagem do jogador desprevenido pelas costas. Verdadeiros abismos nos quais podemos cair ao desviar de uma investida. Dolmen nós desafia constantemente — e o faz com classe.

Determinados aspectos ainda mereciam uma revisão de balanceamento, é verdade. Perder 20% da velocidade após ser atingido uma ou duas vezes, por exemplo, talvez seja demais em um jogo no qual até criaturas básicas podem causar muito dano. Ainda assim, tentar de novo e de novo, ou simplesmente acertar nas esquivas, pode ser remédio suficiente para os mais habilidosos, ágeis ou sortudos.

Muito mais divertido do que se perguntar quão cedo você vai morrer é criar novas armas após coletar os itens necessários. Mesmo que existam classes prontas para o jogador escolher desde o início, é possível gastar pontos de experiência para melhorar determinados atributos e, se necessário, transformar um especialista em energia em um especialista em força ou o que for.

Nave de Dolmen.
Massive Work Studio/Prime Matter.

Existe um sistema de energia bastante peculiar de Dolmen que consiste em ativar uma crosta elemental em torno do personagem. Essa mecânica, assim como atirar ou se curar, exige a utilização de energia, que funciona como magia funcionária em RPGs medievais.

Poder escolher livremente entre os tipos de dano elemental é fundamental para que alcancemos os melhores resultados na hora de enfrentar oponentes poderosos. Em alguns casos, infelizmente, você pode sentir que apenas a cor do golpe mudou e quais informações aparecem na tela. A adição de efeitos visuais mais criativos relacionados a fogo ou gelo, por exemplo, cairia muito bem. Mesmo assim, funciona bem o bastante agora você sentir que algo mudou no personagem.

Inclusive, a opção de alternar entre armas de combate físico e armas de combate a distância (nosso querido rifle) traz um dinamismo fundamental ao combate. Perdi a conta de quantas vezes atrai certos inimigos com tiros para eliminá-los na base da espadada em um lugar seguro, onde ele estivesse longe dos amigos.

Deserto de Dolmen.
Massive Work Studio/Prime Matter.

Nos tiroteios, aliás, nada era mais satisfatório do que usar o escudo na hora certa para terminar de eliminar um oponente apenas revidando os tiros direcionados ao protagonista.

A liberdade na personalização das habilidades do protagonista é um ponto muito forte. Dolmen é bem generoso na recompensa por derrotar as criaturas que surgem a todo momento. Então, pouco tempo caçando inimigos menores em áreas estratégicas podem ser bem úteis na hora de enfrentar um chefão. O nível de dificuldade não chega a ser tão próximo do de um Elden Ring da vida, por exemplo, mas é elevado o bastante para entreter todo tipo de jogador e passar aquela sensação de vitória ao separarmos um golpe inimigo com perfeição ou simplesmente superarmos uma criatura poderosa.

Dos humanoides às criaturas que se aproximam de insetos, Dolmen acerta na maior parte do design de inimigos. Os do segundo e terceiro atos, especificamente, são maravilhosos. Existe um ser da parte final do jogo que luta girando uma espécie de corda brilhante usada tanto para ataque quanto defesa. Esse inimigo, assim como os alienígenas espadachins do deserto, estão entre os melhores que vi durante todo o ano.

Corredor sombrio de Dolmen.
Massive Work Studio/Prime Matter.

Com certeza um jogo de maior duração nos permitiria ver ainda mais facetas do talento da Massive Work Studio aplicado ao visual, mas isso terá de ficar para a próxima.

Ex já que citamos visual, vamos aos gráficos.

De forma geral, Dolmen tem uma atmosfera incrível. Muitas vezes, o jogo brinca com o terror e passa um sentimento semelhante ao de Dead Space, seja pela ambientação ou pelos efeitos sonoros e a trilha, absolutamente adequados para ficção científica.

Menu de Dolmen.
Massive Work Studio/Prime Matter.

As texturas, entretanto, ainda mais em uma realidade na qual já existem os consoles de nova geração, podem parecer um pouco datadas. Eu diria que remetem ao período da virada da geração PS3/Xbox 360 para PS4/Xbox One. Está longe de ser um jogo feio, mas certas paisagens são excessivamente simples. O mesmo vale para NPCs que encontramos ao longo da jornada e até mesmo os inimigos do primeiro ato.

Chefões, por outro lado, ainda que oscilem bastante, são majoritariamente memoráveis. O personagem que enfrentamos ao final da segunda parte do jogo, aliás, é sensacional. Essa luta está entre as mais desafiadoras do título e justamente por isso pode acabar se tornando uma das favoritas de muitos jogadores.

Quando olhamos para a interface dos menus, seja para alterar as cores do protagonista ou mudar o equipamento dele, é difícil não ter a sensação de que esses elementos se mantiveram inalterados desde alguma antiga demo.

Estatísticas de Dolmen.
Massive Work Studio/Prime Matter.

A distribuição das informações, a falta de automatização em alguns comandos (como na hora de selecionar as vantagens desejadas para determinados equipamentos). Tudo, em termos de interface, poderia ser um pouco mais caprichado.

Contudo, uma vez equipados com nossas armas favoritas e equipamentos desejados, a diversão é certa. Tal qual o desafio, vale reforçar.

Dolmen é um dos projetos mais ambiciosos na história da indústria brasileira de jogos. A detalhada construção narrativa, os combates desafiadores, as possibilidades de personalização de habilidade. É difícil não parar de jogar querendo um pouco mais. Depois de anos trabalhando no título, o Massive Work Studio pode se orgulhar do resultado alcançado. Não faltam motivos para se animar com o futuro.

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Dolmen
  • Lançamento

    20.05.2022

  • Publicadora

    Prime Matter

  • Desenvolvedora

    Massive Work Studio

  • Censura

    14 anos

  • Gênero

    Ação e Aventura

  • Testado em

    PlayStation 5

Nota do crítico