Em 2016, o estúdio Gust realizou uma enquete questionando fãs a respeito de qual série de mangá eles gostariam de ver adaptados para um RPG. Hunter x Hunter ficou em segundo lugar, atrás de Fairy Tail. Ainda que os produtores do game jurem de pés juntos que o resultado da enquete não foi o que decidiu o rumo da produção, o RPG de Fairy Tail hoje é uma realidade.

E como um enorme fã de Hunter x Hunter, o resultado final do projeto me deixa com inveja de quem é fã de Fairy Tail.

Construído sobre os mesmos alicerces que erguem a série Atelier, do mesmo estúdio, o jogo de Fairy Tail é um RPG por turnos com ambição e orçamento modestos, mas que foi feito com muito esmero por um time que claramente tem amor à obra original.

Fairy Tail
Divulgação/Koei Tecmo Games

A história da franquia Fairy Tail, criada pelo mangaka Hiro Mashima, gira em torno da guilda homônima de feiticeiros. O jovem mago Natsu Dragneel e seus companheiros exploram um mundo místico, cumprindo missões para fortalecer o nome de sua guilda e transformá-la em uma referência conhecida por todos os cantos.

Ainda que alguém como eu, que tenho apenas um nível básico de familiaridade com a obra original, consiga aproveitar o jogo, o RPG é explicitamente destinado àqueles que já são seguidores da obra.

Como a trama do game adapta os eventos dos arcos 13 a 18 do mangá, após os confrontos na Ilha Tenrou, pouco tempo é gasto com apresentações de personagens e conceitos. O jogo presume que o jogador já conhece elementos como quais poderes cada herói tem e as relações entre os diferentes membros da guilda. Com um pouquinho de paciência, dá para entender o que está acontecendo, então isto não chega a ser um problema - mas a escolha do time de desenvolvimento prova que o público-alvo não é o marinheiro de primeira viagem.

Isso significa que o jogo está mais preocupado em oferecer fanservice (com menos de duas horas as roupas de banho já aparecem) e criar situações inusitadas com os personagens da série, do que em recontar em detalhes a trama do mangá.

Fairy Tail
Divulgação/Koei Tecmo Games

Quando o jogo começa, a guilda Fairy Tail já não tem mais o respeito da população. Como seus principais membros ficaram longe da atividade por sete longos anos, a organização praticamente deixou de existir.

Cabe ao jogador, então, assumir o controle de Natsu, Lucy, Gray, Erza e outros membros da guilda, cumprindo missões diversas à pedido de clientes. Cada objetivo cumprido rende pontos de fama, ajudando a organização a subir no ranking das melhores guildas da região.

A fórmula de jogo é simples e, em grande parte, muito repetitiva. As missões costumam envolver a eliminação de monstros ou a coleta de itens específicos, e raramente oferecem algum tipo de novidade. As surpresas moram mais para o lado das missões de personagens - histórias paralelas centradas em alguns membros da guilda, que costumam obrigar o jogador a utilizar personagens específicos no cumprimento de objetivos. Elas costumam ser mais desafiadoras e envolventes, já que montar uma equipe apenas com os magos mais fortes não é uma opção.

Fairy Tail
Divulgação/Koei Tecmo Games

Mas se a variedade de missões em Fairy Tail deixa a desejar, o game compensa com o foco no sistema de batalhas.

Durante as lutas, os inimigos do grupo ficam dispostos em uma malha quadriculada de 3 por 3. Na medida que evolui os magos, o jogador ganha acesso a feitiços que afetam diferentes áreas desta malha - algo que permite, por exemplo, que certos ataques atinjam dois ou mais oponentes de uma só vez. Há ainda magias que servem para reposicionar inimigos no tabuleiro, que podem ser usadas a seu favor.

Como na obra original e em RPGs para celulares, cada membro da guilda utiliza magias de um elemento específico, tendo vantagens e desvantagens que o jogador precisa levar em conta quando é hora de montar a equipe para enfrentar um determinado tipo de monstro. É um sistema que faz bem ao jogo por premiar o jogador que aproveita todos os personagens ao seu dispôr, em vez de privilegiar apenas um ou outro herói ao longo de toda a jornada.

Por fim, é importante mencionar as animações de combate: mesmo com o orçamento claramente apertado, a Gust conseguiu encontrar uma maneira de retratar com grande detalhe os diferentes poderes mágicos dos heróis e vilões da série.

Fairy Tail
Divulgação/Koei Tecmo Games

Em entrevistas que precederam o lançamento do jogo de Fairy Tail, produtores afirmaram ter interesse em transformar o game em uma franquia, que continuará adaptando o popular mangá para mais títulos. Se esse é mesmo o plano, o game que já temos em mãos é uma fundação respeitável para o que está por vir.

Fairy Tail pode não ser a mais impressionante adaptação de um mangá para o videogame, mas certamente é uma das mais divertidas e ambiciosas dos últimos anos. Poucos são os títulos do estilo que ousam pisar fora do campo dos games de luta 3D genéricos, e Fairy Tail merece elogios por ser um deles.

O jogo já está disponível para PlayStation 4, Nintendo Switch e PC.

Nota do crítico