Quando a Codemasters assumiu a bronca de desenvolver os jogos oficiais da Fórmula 1, há 9 anos, foi como um sonho que se tornava realidade. Depois de um período de vacas magras entre os anos 2000 e 2010, a categoria encontrou na desenvolvedora britânica uma parceira ideal: em plena forma, o estúdio tinha emplacado o excelente GRID no gênero de corrida há pouco tempo. Recebemos jogos com ótimos gráficos, jogabilidade democrática e alguns mimos, como os carros clássicos de F1 2013.

No entanto, em 2015, a Codemasters fez uma manobra arriscada: mudou a engine e criou um novo jogo praticamente do zero, com uma física melhor, gráficos mais trabalhados… Só que com bem menos conteúdo que seus antecessores – algo esperado para um verdadeiro “reboot”. Foi o primeiro passo de uma jornada que, ano após ano, vem entregando uma experiência cada vez mais rica da Fórmula 1. Uma experiência digna daquela que é a maior categoria do esporte automotor.

O plano da empresa para a série é muito perspicaz: em vez de colocar todas as melhorias em um jogo apenas, as inovações são liberadas a cada novo jogo, como num conta-gotas, mas na medida certa: nunca para mais, nunca para menos – e sempre com algo relevante.

Crédito: Divulgação/Codemasters

F1 2016 trouxe a mesma base sólida de seu antecessor, mas nos introduziu a um novo modo carreira tão imersivo que é hoje uma referência no gênero, ensinando o jogador a pilotar melhor e fazendo isso de forma orgânica e didática, sem forçar nada, e fazendo você sentir um pouquinho do que é ser, de fato, um piloto de Fórmula 1. Um ano depois, em F1 2017 veio a possibilidade de gerir as melhorias dos carros e outras atualizações técnicas, além de recuperar os carros clássicos e integrá-los de forma sutil ao modo carreira.

Em seguida, F1 2018 inovou com entrevistas no modo carreira que influenciavam sua reputação com seu time, cutscenes mais elaboradas, novos programas de treino, tudo em nome da imersão e de tornar a experiência a mais rica e densa possível.

Agora, cá estamos, em 2019. Um novo jogo da série acaba de ser lançado e, depois de me perguntar sobre o que os desenvolvedores iam inventar para superar o título do ano passado, me vejo dizendo, mais uma vez: F1 2019 é a melhor experiência da Fórmula 1 que temos – pelo menos por enquanto – e agora você confere o porquê.

F1 2019
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Entre Ayrton Senna, Alain Prost e… Você mesmo

Antes de abordar qualquer aspecto técnico de F1 2019, é válido apontar que os desenvolvedores fizeram questão de exaltar a riqueza histórica da Fórmula 1 e, para nós brasileiros, isso vem como um baita de um tributo: na edição Legends, o game traz um conteúdo extra com ninguém mais, ninguém menos que Ayrton Senna e Alain Prost.

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Além de ídolo nacional, Senna foi uma das figuras mais importantes da história da Fórmula 1 e também um dos protagonistas daquela que é tida como uma das maiores rivalidades da categoria até hoje. Entre o fim dos anos 1980 e o início dos anos 1990, o arrojo, a coragem e a personalidade forte do brasileiro entraram em conflito direto com a técnica impecável e quase didática de Prost – que, merecidamente, foi apelidado de “Le Professeur”. Depois de um fim de campeonato polêmico em 89, quando os dois pilotos dividiam o box da McLaren, o francês foi para a Ferrari, e foi aí que a rivalidade entre ele e Senna atingiu seu ápice.

É justamente essa temporada que, de forma bastante superficial e simples, é retratada em F1 2019. Você pode entrar na pele de Senna ou de Prost e, claro, enfrenta seu rival direto na pista, em oito desafios nos mesmos moldes já vistos em jogos anteriores, com objetivos que variam entre fazer um certo número de ultrapassagens e percorrer uma determinada distância em um tempo limitado.

Além dos desafios, você pode pilotar a mítica McLaren MP4/5B, com seu motor V10 da Honda, ou se deleitar com o maravilhoso som do V12 da Ferrari 641 de Prost. Itens cosméticos para o seu piloto (mais sobre isso abaixo!) e pinturas para o modo multiplayer inspiradas nas duas lendas também fazem parte do pacote.

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Apesar de ser uma excelente adição ao jogo, é válido dizer também que foi uma baita de uma oportunidade perdida pela Codemasters: a riqueza histórica do embate entre Senna e Prost merecia ser retratada com mais detalhes. Bastava alguns vídeos curtos entre os desafios, ou até mesmo textos, e teria passado a sensação de que o conteúdo (que é uma DLC) carece da densidade que merece.

Ainda assim, é inegável que bate um saudosismo gostoso em ver as duas lendas disputando espaço na pista mais uma vez, mesmo que de forma virtual.

Ter a oportunidade de caçar a Ferrari de Prost ou de sentir na pele a sensação de olhar no retrovisor e ver a combinação da McLaren e do capacete amarelo de Senna te perseguindo são experiências especiais que a Codemasters, mesmo sem a profundidade merecida, nos presenteou – e que qualquer um que se diz fã de Fórmula 1 merece ter.

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Além de viver o passado da categoria, no entanto, existe algo ainda mais especial em F1 2019: a possibilidade de trilhar a sua própria história.

Eu, piloto de... F2?

Pois é: uma das maiores novidades de F1 2019 é a adição da Fórmula 2 (também conhecida como F2), tanto em formato de campeonato, como parte de um prólogo muito bem-vindo do modo carreira, que ficou ainda mais imersivo e oferece uma experiência mais completa do que nos games anteriores.

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Depois de criado o seu personagem e dado início a sua carreira, você escolhe em qual equipe da F2 você gostaria de começar e qual academia de pilotos gostaria de fazer parte, para garantir que seu futuro esteja encaminhado na Fórmula 1. Aí é que a coisa fica interessante: pelos próximos 40 e tantos minutos (mais ou menos), você se vê fazendo parte de uma narrativa bem interessante para dar início à sua história.

Na primeira corrida, seu carro apresenta problemas mecânicos e sua equipe ordena que você deixe seu companheiro de equipe te ultrapassar. No entanto, seu carro recupera o desempenho e cabe a você decidir se vai obedecer ou não – e, dependendo do que escolher, mudam também os comentários dos narradores e a cutscene após a corrida.

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Como optei por não abrir caminho para meu companheiro de equipe, Lukas Weber, sobrou pra mim lidar com o rapaz bem irritado na área dos boxes. Aí entra um terceiro elemento na história: Devon Butler, um carinha cheio de si e um tanto arrogante (pra não dizer babaca). Na segunda corrida do prólogo, o próprio Butler bate no bico do seu carro, obrigando você a fazer uma parada de emergência e, consequentemente, uma corrida de recuperação.

No total, três corridas compõem o prólogo, e a relação do jogador com Butler e Weber serve de pano de fundo para dar início ao modo carreira, uma vez que essa rivalidade é levada também para o grid da Fórmula 1.

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Essa narrativa, mesmo que bastante básica, é uma excelente forma de começar as coisas, introduzindo o jogador aos novos conteúdos de forma mais criativa e contribuindo para o efeito de imersão que já era muito bom nos títulos anteriores. Falando nisso, a agente Emma, o engenheiro Jeff e a jornalista Claire também retornam de F1 2018 – e exatamente da mesma forma, diga-se de passagem, com os mesmos diálogos, mesmos visuais e praticamente as mesmas animações.

Voltando ao grid, uma das coisas que causaram uma pequena estranheza no início é que seu rival e seu companheiro de equipe, assim como você, ocupam os lugares de outros pilotos reais. No meu caso, Butler tomou o lugar de Valtteri Bottas na Mercedes e Weber se tornou o companheiro de equipe de Max Verstappen na Red Bull, eliminando o novato Pierre Gasly.

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Isso deu abertura para outra movimentação muito requisitada pelos fãs: a transição de pilotos reais entre as equipes, antes impedida por questões contratuais. Isso significa que, sim, é possível ver um Lewis Hamilton eventualmente pilotando uma Williams ou um Lando Norris numa Renault, o que é bizarro na mesma medida que é legal (ou seja: muito).

É válido apontar, no entanto, que toda aquela profundidade narrativa morre assim que o prólogo acaba: sua relação com Weber e Butler se restringe a e-mails enviados por Emma transcrevendo as mesmas entrevistas quase sempre e também com você respondendo incessantemente às perguntas da Claire sobre como é dividir o grid ou o pódio com seu ex-companheiro de equipe e seu rival.

Confesso que eu esperava um pouco mais: queria que toda essa história de ordens de equipe – algo bastante presente na Fórmula 1 atual – e tudo mais fosse algo que durasse toda a temporada. Ia ser muito legal se acontecesse algo tipo, sei lá, vingar o Charles Leclerc de verdade e sair na mão com o Vettel virtual porque me recusei a ceder a posição pra ele. Infelizmente, nada disso acontece.

O máximo que pode acontecer, em termos de eventos aleatórios que dão uma chacoalhada no andamento da sua temporada, são as corridas especiais com os carros clássicos e as mudanças de regulamento que obrigam uma revisão da sua estratégia de melhorias. Isso não faz com que o modo carreira deixe de ser absurdamente bom, mas cria a expectativa por algo que não vai além da primeira hora de jogo no modo carreira.

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O restante da estrutura do modo, no entanto, permanece exatamente como vimos em F1 2018: você dispõe de três sessões de treinos livres para botar em prática os planos de treinamento para ganhar pontos de pesquisa e desenvolvimento.

Esses planos envolvem aclimatação de pista, que permite a você se familiarizar com o traçado ideal e identificar seus pontos de mais dificuldade no percurso; programas de gestão de pneus, combustível e do ERS (Energy Recovery System, falaremos sobre ele na parte de jogabilidade); treino com acerto para classificação e, então, teste de estratégia de corrida.

O bacana é que essas atividades tornam os treinos livres em algo muito relevante para o jogador, pois ele ensina na prática como você pode ser mais rápido. Se você joga no controle, o exercício de gerenciamento do consumo de pneus é uma verdadeira aula de como ter inputs mais precisos e vale cada segundo investido.

O treino para a classificação, por sua vez, te faz colocar em prática tudo o que você treinou exaustivamente antes para ser cada vez mais rápido. É uma estrutura muito coesa e que ajuda a desenvolver habilidades não apenas no F1 2019, mas em qualquer jogo de corrida.

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São essas coisas que fazem com que o modo carreira, introduzido há 3 anos na franquia F1, seja uma referência não só em jogos de corrida, mas em games de esporte como um todo.

A importância da engenharia

Além de se desenvolver enquanto piloto, os planos de treinamento e objetivos de treino em F1 2019 rendem pontos de P&D (pesquisa e desenvolvimento), que são utilizados para obter melhorias para o carro de sua equipe.

São quatro categorias: durabilidade, potência, aerodinâmica e chassis, cada uma delas contando com uma cadeia de upgrades possíveis. É muito importante desenvolver seu carro para se manter competitivo ao longo da temporada. Caso você tenha dúvidas sobre qual melhoria fazer, existe uma função que recomenda algo de acordo com a quantidade de pontos disponíveis – algo que é muito bem-vindo, especialmente para jogadores novatos.

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É importante, no entanto, ficar de olho nos componentes do seu veículo. Peças desgastadas podem quebrar e acabar com sua corrida. Isso exige que você faça um bom gerenciamento do seu equipamento para que ele dure a temporada toda: troque muitas peças e você pode acabar sendo punido.

O seu contrato com a equipe é revisto de forma mais frequente e ajuda a definir expectativas, bônus de pontos de pesquisa e desenvolvimento, redução no tempo de produção de melhorias para o carro e maior eficiência nos pit stops.

Tudo isso cria um ecossistema de evolução bastante interessante e que permite que você crie situações como fazer uma equipe pequena se tornar campeã e dá um senso de propósito muito forte ao jogo e que, aliado às características dinâmicas do modo carreira, deve ser o suficiente para entreter você durante muito tempo.

Relação saudável dentro e fora das pistas

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Outro aspecto muito bacana e que é herdado de F1 2018 são as entrevistas. A jornalista Claire acompanha de perto seu desenvolvimento e o andamento da sua temporada, mas suas conversas com ela são mais do que apenas declarações: suas respostas podem moldar a sua reputação com sua equipe e também com os times que desenvolvem peças para o seu carro.

Elogie a força do motor e você verá o custo das melhorias nessa parte serem reduzidos e as chances de as peças falharem diminuírem. Fale que o carro está complicado e sua reputação com a equipe pode cair e resultar numa demissão, ou seja engraçadinho e veja seu status de carisma crescer e render alguns pontos com outros times que valorizam esse tipo de comportamento – afinal de contas, pilotos carismáticos são ótimos para dar visibilidade aos patrocinadores.

Embora seja uma parte importante do seu progresso no modo carreira, tenha em mente que as entrevistas podem se tornar repetitivas depois de um tempo. Nada que estrague a experiência, mas é algo que acaba roubando sua atenção em alguns momentos.

Outro aspecto relativamente negativo é que, herdando diretamente as animações e diálogos do jogo anterior, F1 2019 acaba repetindo os mesmos erros quando se trata da localização das falas de Claire. Algumas linhas de diálogo ficam totalmente fora de sincronia com a animação e volta e meia ela se bate com o gênero escolhido pelo jogador, referindo-se como “ele” quando o jogador está, na realidade, com uma personagem mulher.

Mais uma vez: não é algo que arruine e grandeza do modo carreira do jogo, mas são pequenos detalhes que deixam evidente que ainda falta polimento para poder considerar F1 2019 como um jogo perfeito.

Competitivo e estiloso, conectado ou não

Crédito: Divulgação/Codemasters

Nem só de modo carreira o F1 2019 vive, e a nova cara dos menus principais ajudam muito o jogador a encontrar outros modos de jogo. Há a possibilidade de participar de campeonatos simples com os pilotos da temporada atual da Fórmula 1 ou do grid de 2018 da Fórmula 2 (com a temporada 2019 a caminho em uma atualização), além de campeonatos clássicos e outras modalidades propostas pelo jogo com propostas diferentes, como o torneio disputado exclusivamente em percursos europeus ou em pistas clássicas com carros antigos.

Falando nos clássicos, F1 2019 traz desde os clássicos da década de 70, como a Lotus pilotada por Emerson Fittipaldi até, pela primeira vez, três modelos de um mesmo ano, com a McLaren MP4-25 e a Ferrari F10 se juntando ao Red Bull RB6, todos de 2010. Ao todo, são 22 veículos clássicos disponíveis, sendo quatro deles parte da edição especial do jogo.

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Por se tratar de uma versão de acesso antecipado, não pude conferir como a parte do online está funcionando, mas a Codemasters já revelou em streams com desenvolvedores o sistema de eventos periódicos e, talvez o mais interessante, a função de ligas. Você poderá criar sua própria liga online, ranqueada ou não, com sistema de pontuação, calendário pré-determinado e outras ferramentas que vão auxiliar na organização de eventos online.

Isso está diretamente ligado a outra novidade do F1 2019 que é a superlicença: ela vai manter o registro das atividades online do jogador. A pontualidade em corridas em ligas nas quais você está inscrito e um sistema de graduação de acordo com seu comportamento em pista podem ser acompanhados por você e por outros jogadores nesse perfil que é colocado como a sua “carteira de piloto virtual”.

O sistema ainda não pode ser testado, mas levando em consideração o impacto que o F1 Esports Series teve nos últimos dois anos e o esforço colocado pela Codemasters no competitivo online, não será surpresa se a funcionalidade acabar se tornando um dos principais atrativos do jogo.

Isso, inclusive, acabou puxando outra coisa muito bacana em F1 2019: a customização de carros e do personagem – mas trouxe também outra não tão legal, que são microtransações. É possível adquirir e customizar pinturas de times fictícios (com patrocinadores imaginários e tudo), macacões, luvas e capacetes, alguns com moedas in-game e outros exclusivamente com dinheiro de verdade. É um detalhe, mas é algo bem legal para dar uma cara mais pessoal para o ambiente competitivo online e torná-lo mais atrativo.

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Mudanças sutis, grande diferença

Entrando rapidamente nos aspectos mais técnicos de F1 2019, fica evidente que o jogo herdou muita coisa do F1 2018, o que significa que ele é naturalmente muito fluido e realmente bonito. No entanto, é válido apontar que, embora não tenha apresentado um salto enorme no quesito visual, ele trouxe, sim, diversas melhorias.

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A maior parte delas está concentrada nos detalhes, tanto no carro quanto fora dele. Os pneus agora contam com efeito que mostra bem a banda de rodagem mais gasta por conta da cambagem, enquanto a porção externa permanece brilhosa e “nova” – e, acredite, isso faz toda a diferença.

Principalmente porque uma das coisas que mais chama a atenção é o novo efeito de iluminação e oclusão de ambiente que a Codemasters adotou no novo game: as pistas noturnas, como é o caso do Bahrein, Singapura e Yas Marina, que foram amplamente utilizadas nos materiais pré-lançamento, estão absurdamente realistas, ao ponto de ser genuinamente confuso distinguir se o que é visto é um jogo ou um replay de verdade.

Crédito: Divulgação/Codemasters

Uma vez que a situação “dentro da pista” estava bem encaminhada, os desenvolvedores optaram por cuidar do lado de fora. Os cenários estão mais detalhados e ricos, contando com mais ainda mais detalhes.

Construções, pessoas e objetos ao redor da pista foram retrabalhados para apresentar um nível maior de realidade em vez de texturas lavadas, com a própria Codemasters divulgando comparativos que deixam bem evidentes as mudanças.

Um dos pontos que ainda deixa um pouquinho a desejar aqui, como sempre, são os personagens fora das pistas. Agora presença ainda mais constante na jogatina, fica claro que os pilotos, principalmente, mereciam um pouquinho mais de atenção e capricho para ficarem menos com um aspecto “bonecão de cera”.

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Em termos de performance, F1 2019 não apresenta uma perda notável de qualidade e roda a saudáveis 60 quadros por segundo nos consoles, com algumas quedas acontecendo de forma muito pontual.

O desafio dos mil dedos

A jogabilidade permanece intocada e deriva diretamente do que era sentido em F1 2018. Para os jogadores que vão embarcar pela primeira vez em F1 2019, as assistências vão ter uma importância sumária: embora o game se enquadre na categoria dos “simcades” (ou semi-sims), jogá-lo no controle exige um pouco de paciência e prática – principalmente para aqueles que vão encarar o desafio no PS4, já que o DS4 não é, nem de longe, o melhor controle para o gênero de corrida.

A complexidade dos bólidos atuais da F1 se reflete na jogabilidade: durante suas corridas, esteja preparado para fazer o gerenciamento da mistura de combustível e do ERS, o Energy Recovery System, que armazena energia gerada em frenagens e na rolagem inercial do veículo – que, em outras palavras, serve para você andar mais rápido.

Caso você esteja com dificuldades para olhar para tudo isso, existem assistências que controlam o ERS de forma automática, mas a opção de tornar a experiência mais “real” e desafiadora está sempre lá e vale lembrar que os carros antigos não contam com esse sistema, oferecendo uma pilotagem mais visceral e exigindo um cuidado maior na tocada.

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O título conta com uma ampla gama de customizações possíveis para que você consiga adaptar os controles e o comportamento do carro ao seu estilo, o que pode ser bem útil caso você se bata muito com a configuração nativa do jogo. Quem tiver um volante à disposição, como sempre, vai poder ter o “plus” da experiência, uma vez que a sensação de pilotagem continua bastante agradável e é um aspecto no qual o game realmente brilha.

O som agradável dos motores...

Um dos grandes destaques dos trabalhos recentes da Codemasters foi justamente a parte de áudio. DiRT Rally 2.0 brilhou nesse aspecto e F1 2019 não fica muito atrás: os motores V6 turbo contam com sons distintos dependendo do carro que você está pilotando e, tirando opiniões pessoais sobre como os carros atuais soam, a qualidade sonora do jogo é excelente.

Para os saudosistas, basta pegar um dos carros clássicos e se esbaldar nas diferentes sinfonias emitidas pelos motores V8, V10, V12 e Flat-12, os grandes favoritos de boa parte dos fãs. Os carros do início dos anos 2000, particularmente, continuam sendo os mais belos.

Os recém-chegados F2, também com seus motores V6 turbo, não fazem feio e acompanham o mesmo nível de qualidade sonora dos demais veículos.

Crédito: Divulgação/Codemasters

...mas nem tão agradável das vozes

O problema, no entanto, começa quando você resolve usar o áudio em português para os diálogos. Como já citado, a jornalista Claire sofre com um sério problema de falta de sincronia e confusão com a forma como se refere ao jogador. Outros personagens com quem você fala constantemente também acabam tendo linhas de diálogo que parecem um pouco deslocadas e artificiais.

Esse problema já era presente nos games anteriores e, dado que muita coisa foi reciclada nessa parte, não é de se espantar que os problemas persistam. Embora não chegue a arruinar a experiência, a falta de polimento nesse aspecto pode deixar os fãs brasileiros torcendo por um pouquinho mais de capricho nos próximos jogos da série.

Mais uma vez, a experiência definitiva em games da Fórmula 1

Assim como vem acontecendo desde 2016, F1 2019 se aproxima cada vez mais da excelência em termos de experiência imersiva em um jogo de corrida. A Codemasters vem dando, ano após ano, passos muito sólidos com os títulos da série e trazendo novidades relevantes para os fãs.

Quando me perguntei, no ano passado, o que os desenvolvedores iriam trazer de novidades para manter a evolução da franquia acontecendo, nunca iria imaginar que finalmente veríamos a Fórmula 2 no jogo e, mais ainda, sendo usada no modo carreira como forma de construir uma narrativa.

No entanto, ao mesmo tempo que isso foi uma surpresa agradável, a novidade também criou expectativas e deixou claro que a Codemasters acabou deixando passar algumas oportunidades de explorar melhor os novos conteúdos que ela trouxe – algo que possivelmente deve ser explorado, gota a gota, em jogos futuros.

F1 2019 mantém tudo que seus antecessores fizeram de bom e complementa isso de forma magistral, deixando claro o potencial que pode ser explorado tanto no online quanto no offline.

Ainda falta polidez e um pouquinho mais de capricho para que o jogo seja considerado perfeito, mas não há dúvidas de que o que temos agora não é apenas uma obra-prima do gênero de corrida, mas, com um dos modos carreira mais coesos e bem estruturados já visto, é um jogo que deve ser considerado referência para os games de esporte como um todo.

No fim, se você é fã da Fórmula 1 ou se só te faltava um jogo de corrida na coleção, F1 2019 pode muito bem ser a sua melhor escolha para este ano.

Nota do crítico