A série Metro começou de forma relativamente humilde, baseada no livro Metro 2033 de Dmitry Glukhovsky e desenvolvida por uma equipe formada de veteranos dos clássicos cult S.T.A.L.K.E.R.

Inicialmente focada em um terror mais fechado e claustrofóbico, ao explorar as ruínas do metrô de Moscou após um holocausto nuclear, a franquia foi se expandindo e ganhando influência, primeiro com a sequência Last Light, depois com as remasterizações de Metro Redux, e finalmente chegando a Metro Exodus, que prefere deixar os túneis escuros de lado em favor de um mundo aberto não menos hostil.

E, apesar de ainda sofrer com problemas de perfomance como seus predecessores, e algumas decisões de design um tanto esquisitas, Exodus expande o mundo da série de maneira excelente, apresentando regiões novas e curiosas do pós-apocalipse russo, e conseguindo manter uma ambientação tensa e hostil mesmo em grandes espaços abertos.

Metro Exodus é uma sequência direta tanto de Last Light quanto do livro Metro 2035, de Glukhovsky, e coloca o jogador novamente na pele do protagonista Artyom, que após descobrir que o resto da humanidade sobreviveu à guerra nuclear fora de Moscou, pretende deixar o metrô e procurar um novo lugar com sua esposa, Anna.

Nos primeiros capítulos, Artyom consegue seu desejo - embora certamente não da forma que esperava -, e parte de Moscou a bordo do trem Aurora, junto não só de Anna como também Miller, seu oficial superior e sogro, e membros da Ordem dos Espartanos, as forças de elite do metrô.

Em busca de um novo lar, não só para si como também para os sobreviventes de Moscou, Artyom e a tripulação do Aurora partem em uma jornada que os leva aos mais diferentes locais do território russo - que também sofreram com os efeitos das bombas nucleares.

A mudança mais significativa de Metro Exodus é justamente, como dito antes, é a implementação de áreas mais abertas. Embora ainda mantenha uma estrutura narrativa relativamente linear, separada em capítulos, o jogador agora tem chance de explorar não apenas regiões urbanas e fechadas, como também grandes áreas selvagens.

De uma área rural tomada por um culto anti-eletricidade, passando pelo "Mar-virou-Sertão" Cáspio, e uma região florestal, o game não só mostra mais sobre o que aconteceu com o mundo além dos limites de Moscou, como também dá oportunidade aos desenvolvedores de usar a criatividade de seus tempos de S.T.A.L.K.E.R.

O mundo aberto muda certos elementos, mas ele continua tão letal - se não mais - do que no subterrâneo de Moscou. Durante a travessia, Artyom e seus companheiros são atacados por legiões de monstros - muitos antigos, e alguns novos -, bandidos, canibais, escravocratas e outros tipos de loucos que sobreviveram e formaram sociedades no pós-apocalipse.

Como nos jogos anteriores, recursos são difíceis de se encontrar, e jogadores são encorajados a explorar o mapa em busca de materiais para a fabricação de itens essenciais, de balas e itens de cura até limpeza de armas e conserto de equipamento.

Metro Exodus é muito mais um jogo de sobrevivência do que um shooter tradicional - o que é preferível, já que as mecânicas de tiro são funcionais, mas não particularmente memoráveis. Há uma boa variedade de armas, e a habilidade de modificações é surpreendentemente rica e capaz de alterar radicalmente elementos de diferentes armas, mas a sensação e impacto delas não chama atenção em relação a outros jogos de tiro.

De qualquer forma, o jogo permite - e, até certo ponto, encoraja - uma jogabilidade mais furtiva, podendo derrubar inimigos de forma não-letal, ou oferecendo silenciadores para as mais diversas armas, o que facilita este aspecto do combate.

(Admito, porém, que parte disso possa ser pelo fato de ter jogado o game em um console - que não é necessariamente minha plataforma ideal para este tipo de jogo)

Em compensação, a ambientação do game é incrível, sempre reforçando a hostilidade do mundo ao seu redor, e procurando deixar o jogador atento (ou paranoico) de que sempre pode haver alguém ou alguma coisa à espreita. Os gráficos e especialmente a qualidade do áudio ajudam nisso, trazendo um mundo mais vivo - e perigoso - ao seu redor.

A 4A Games também acertou ao diversificar as diferentes regiões no jogo, e sua exploração: o Volga requer travessias de barco e traz presença de inimigos aquáticos, enquanto o Cáspio é um pequeno mundo de Mad Max, com o jogador controlando uma kombi retrabalhada para caçar petroleiros escravagistas.

Continuando a noção de que Metro Exodus é um jogo muito mais expansivo, há uma atenção significativa dada aos personagens secundários do game.

A narrativa central ainda dá um foco maior em Artyom, Anna e Miller, mas os soldados da Ordem dos Espartanos e sobreviventes encontrados pelo caminho trazem suas próprias perspectivas e, em alguns casos, até arcos nas diferentes regiões, cuja conclusão depende das ações do jogador.

Estes personagens podem não ter um grande nível de profundidade - especialmente comparados a Miller e Anna -, mas ajudam a trazer mais riqueza ao mundo e a odisseia de Artyom, especialmente nos momentos mais leves e calmos, quando o Aurora viaja de um destino ao outro.

Isto impacta até mesmo o final do game, já que, como nos anteriores, a conclusão da narrativa tem base nas ações do jogador durante a história, e a relação de Artyom com seus companheiros é um dos principais fatores para isso.

Apesar de trazer uma excelente ambientação, um dos maiores tropeços de Metro Exodus são os diversos bugs e problemas de performance do game no lançamento.

Jogando em um PlayStation 4 original, é possível ver em vários momentos que o hardware luta para manter o game em uma taxa de quadros estável, especialmente quando há muitos elementos aparecendo na tela ao mesmo tempo. Também foram vários os momentos de ficar preso na geometria do ambiente e ver inimigos travando e agindo de forma bizarra.

Além disso, há certas decisões de design um tanto questionáveis, especialmente em relação aos saves, que só são divididos entre um automático e um manual rápido pelo jogador, que deleta o anterior ao criar o novo arquivo.

Em certo momento, por exemplo, fui forçado a voltar um save manual feito 20 minutos antes, por não ter estocado o equipamento correto para a missão. Caso tivesse feito um save depois disso, é provável que minhas chances de avançar no game seriam muito mais difíceis, talvez até impossível.

Mesmo com todos estes problemas, Metro Exodus ainda foi uma grande experiência, conseguindo trazer elementos de mundo aberto sem perder os elementos de suspense e horror dos games anteriores, e balancear estes momentos de tensão com outros de calmaria e tranquilidade, dando chance ao jogador de respirar e conhecer mais sobre este universo e seus personagens.

Metro Exodus está disponível para PC, PS4 e Xbox One.

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Metro Exodus
  • Publicadora

    Deep Silver

  • Desenvolvedora

    4A Games

  • Censura

    18 anos

  • Gênero

    Ação

  • Testado em

    PlayStation 4

  • Plataformas

    PlayStation 4 Xbox One PC

Nota do crítico