FIFA 21 talvez seja a melhor edição do game nesta geração de consoles. Trazendo novidades concretas em seus principais modos de jogo, o game finalmente tirou um pouco os olhos do Ultimate Team e conseguiu focar no Modo Carreira e em mudanças reais no gameplay.

Antes de tudo, também é necessário parabenizar o trabalho de Gustavo Villani, que está incrivelmente bem em sua estreia e deve melhorar ainda mais conforme novas falas forem gravadas para a próxima edição.

O narrador do grupo Globo coloca um abismo entre a performance de Tiago Leifert na cabine de transmissão, afinal de contas, ele é um narrador de ofício. Com muito menos piadinhas sobre a partida ser de video game, as falas de Villani valorizam sua voz marcante e dão nova cara ao jogo.

Sim, o gameplay está diferente

Em absolutamente todos os anos, alguns fãs dirão que a nova edição do FIFA não mudou nada, ou que o jogo é apenas uma versão atualizada de FIFA 17 e por aí vai. Talvez FIFA 21 chegue para quebrar esse paradigma, trazendo pelo menos três novidades inegáveis dentro de campo.

A primeira delas, e mais simples, é o Condução Ágil: segurando o R1/RB, o jogador pode facilmente executar dribles rápidos, como os de futsal, dando um fortíssimo recurso para se vencer confrontos 1x1 entre atacante e defensor.

Esse tipo de drible funciona com boa frequência e talvez seja um pouco “quebrado”, mas ainda fica atrás em efetividade quando comparado com os skills moves tradicionais, usando o analógico direito.

A segunda adição é a Corrida Criativa. Os jogadores conseguem escolher um atleta para disparar em profundidade desde o FIFA 17; neste ano, a EA incrementou a mecânica ao permitir controlar a direção em que o atleta corre. Antes, ele sempre se movimentaria para frente, ou em direção ao jogador com a posse de bola. Com as Corridas Direcionadas, é possível mandar o atleta para qualquer direção e sentido, além de também combiná-la com tabelas para ser ainda mais mortal.

Difícil de ser executada, mas com excelentes resultados, a Corrida Direcionada vem como uma das maneiras de se aumentar o skill gap entre jogadores casuais e hardcore. Esse tipo de mudança já estava nas vozes da comunidade há alguns anos, e vem tanto nisso, quanto no novo sistema de cabeceios, que obriga o usuário a mirar esse tipo de arremate.

Em terceiro está a Personalidade de Posicionamento, uma espécie de habilidade passiva de cada jogador: atacantes controlados pela CPU poderão ter maior facilidade em encontrar buracos na zaga, ou identificar uma linha de impedimento e frear sua corrida antes de entrar em posição ilegal.

Na defesa, jogadores variam entre interceptar a linha de passe ou dobrar a marcação, por exemplo. Essa mecânica é um pouco mais sutil, mas pode ser percebida ao alternar entre um time de qualidade menor e um Liverpool da vida. O saldo é bem positivo, deixando claras as vantagens que o jogador terá ao investir em atletas mais gabaritados no Ultimate Team ou Modo Carreira, por exemplo.

Dito isso, há uma certa dualidade no que diz respeito ao skill gap: a EA faz bem em adicionar um recurso fortíssimo e que apenas jogadores avançados usarão, mas erra ao misturar isso com uma ferramenta simplíssima de dribles. Ainda que as Corridas Direcionadas sejam dois passos à frente para diferenciar os jogadores, a Condução Ágil é um passo para trás.

Em outros polimentos, a EA prometeu melhorar o sistema de colisões e, até o momento, não senti grandes problemas nesse aspecto. Trombadas bizarras até acontecem, mas com uma frequência aceitável.

De maneira geral, o jogo continua sólido mecanicamente. Os pontos mais flagrantes que senti foram uma defesa menos automática e o velho problema com as divididas: ainda é necessário ganhar aproximadamente 15 divididas para finalmente retomar a posse de bola (contém leves quantidades de ironia). Também vale citar que o chute colocado de fora da área e finalizações por cobertura estão particularmente fortes.

Por fim, fica a decepção com o novo modo Competitivo, que promete uma experiência similar à de enfrentar jogadores profissionais ou de altíssimo nível. Infelizmente, senti apenas que a CPU executa um ou outro drible a mais, mas a distância para a dificuldade Lendária ou até Internacional não é tão grande assim.

O Modo Carreira mais completo até aqui

O ano é dos fãs do Carreira: o modo de jogo foi o mais alterado em FIFA 21, e todas as novidades são ótimas. Desde o primeiro trailer, era possível perceber que os técnicos finalmente poderiam observar sua equipe tal qual em uma prancheta, analisando estatísticas em tempo real.

O recurso já existia em PES e foi finalmente adicionado pela EA neste ano. Para os que preferem o aspecto de simulação no Carreira, o “futebol de botões” é um prato cheio; mesmo quem gosta de comandar sua equipe também não terá muito o que reclamar, já que é possível entrar na partida a qualquer momento e assumir o controle de seus jogadores - o jogo, inclusive, incentiva que você o faça caso seu time tenha que defender um pênalti ou tenha sofrido gols.

Outro grande reforço foi na progressão dos jogadores: o game é muito honesto sobre qual será a curva de melhora dos seus atletas, mostrando sempre quais já estão em fase descendente na carreira - e quais são os atributos que irão piorar ou melhorar com o tempo. O manager poderá focar os treinos de seus jogadores em um ou outro aspecto, atrasando ou impulsionando essas variações em sua qualidade técnica.

Por cima disso, o game ainda permite que você condicione seus jogadores a novas posições. Ao escolher trocar um VOL para MC, por exemplo, a tela mostrará o tempo estimado até que a transição esteja completa. Como é de se esperar, mudanças mais bruscas no posicionamento vêm acompanhadas de um longo período de transição; da mesma maneira, trocas mais simples são bem rápidas.

A terceira grande novidade é o gerenciamento da rotina dos jogadores: o técnico terá liberdade para escolher os dias em que seus jogadores descansam, fazem recuperação muscular e treinam, e isso tem impacto direto em três atributos do jogador: condicionamento físico, moral (que já estavam presentes em edições anteriores) e o Ritmo de Jogo, novidade do FIFA 21.

O Ritmo de Jogo é uma espécie de “setinha pra cima” do PES, mas que não é baseada em aleatoriedades: de acordo com sua rotina de treinos, o jogador estará mais ou menos pronto para a próxima partida, e isso terá impacto em sua performance no campo.

Por fim, a única alteração nas negociações é a de empréstimo com opção de compra, novidade no game.

Com tudo isso, fica claro que o Carreira de FIFA 21 é, sem dúvidas, o mais profundo que a franquia já entregou. Os fãs de simulação devem adorar as novidades trazidas pelo game, que coloca os managers em uma posição de controle absoluto sobre seu elenco; quase nada fica fora desse escopo.

Ainda assim, é importante lembrar que o processo de lançamento do Carreira no FIFA 20 foi duríssimo, com o modo repleto de bugs: campeonatos de 60 rodadas, times utilizando os reservas em grandes finais e vários outros problemas afetaram uma quantidade considerável de jogadores, que chegou a subir hashtags nas redes sociais para protestar.

Não tive esse tipo de problema no Carreira do FIFA 21, e fica a torcida para que eles tenham sido totalmente erradicados.

Volta: mais mudanças, mas ainda sem convencer

Talvez a maior decepção de FIFA 20 tenha sido o Volta: a aura de sucessor de FIFA Street ficou apenas no imaginário dos fãs, que encontraram um gameplay muito mais burocrático do que o clássico do PlayStation 2.

Em uma decisão que funciona como um Band-Aid para o corte gigantesco que existe na jogabilidade do Volta, a EA optou por incluir dribles automáticos com o botão L1/LB, dando um pouco mais de plasticidade e beleza aos lances.

A proposta é boa, mas não funciona como deveria. Fiquei surpreso com o quanto meus dribles funcionaram nas primeiras partidas do Volta, até perceber que o nível de dificuldade estava baixíssimo. Foi só ajustar a CPU para que as partidas burocráticas voltassem: o passe rápido e o contra-ataque ainda são as principais armas do futebol de rua.

Para piorar, a inteligência artificial de posicionamento é tenebrosa. Qualquer pessoa que já tenha jogado um esporte coletivo - nem precisa ser futebol - entende que a ofensiva está em invadir os espaços criados pela defesa, juntando dois marcadores para deixar um colega livre.

O modo Volta destrói esse conceito básico com personagens que se posicionam nos piores lugares possíveis. É normal ver seu ataque congestionado porque dois dos três jogadores em quadra resolveram ocupar o mesmo lugar entre os defensores, dificultando bastante qualquer tipo de avanço para o gol.

Felizmente, o Volta não é só decepções: sua campanha está bem mais curta e direto ao ponto, permitindo que o jogador complete-a ao vencer apenas sete partidas. Depois disso, ele está livre para tentar desbloquear novos craques nas Partidas em Destaque ou jogar com seus amigos no multiplayer cooperativo.

Aliás, o modo “Pro Clubs” do Volta pode ser sua melhor parte. Além de resolver os problemas de posicionamento automático, já que um humano está no controle de cada atleta, ele também reforça a aura descontraída que o futebol de rua propõe. Por enquanto, esse modo de jogo ainda deve se resumir apenas a isso: momentos de descompressão ou de jogatina com os amigos; não vejo o Volta crescendo como um modo competitivo de jogo.

Pequenas e boas alterações na galinha dos ovos de ouro

Já consolidado como uma das principais fontes de receita da EA, o Ultimate Team quase não mudou do ano passado para a edição atual. As poucas modificações, entretanto, são extremamente bem vindas.

Qualquer jogador dará um sorriso de ponta a ponta ao perceber que as cartas de Preparo Físico foram totalmente abolidas. Seu time sempre começará os jogos com a stamina máxima, e ela reduzirá normalmente de acordo com o condicionamento de cada atleta. Ao final do jogo, a barra de energia é resetada, e seu time já está pronto para a próxima.

Suspensões por cartão vermelho ainda existem, assim como as lesões que podem ser curadas por consumíveis. Esses dois pontos ainda incomodam um pouco, principalmente as contusões, mas nada que os jogadores do Ultimate Team não estejam acostumados.

Outra alteração notável é a interface do FUT como um todo: os menus foram completamente repaginados para trazer uma experiência mais intuitiva aos jogadores. É muito mais fácil acessar suas configurações de equipe ou concluir os Desafios de Montagem de Elenco, essenciais para ter sucesso no modo de jogo.

Na primeira vez que me dediquei ao Ultimate Team, sempre ficava indignado com o quão burocrático era o modo de jogo. Vários processos eram claramente mais demorados do que o necessário, e a interface repaginada é um bom passo à frente nesse sentido, sendo mais amigável para conquistar novos jogadores.

Além disso, também tivemos a adição do Co-op, que permite se juntar a um amigo para jogar Squad Battles, Division Rivals ou amistosos.

Não há muito mistério nessa novidade: ela é bem-vinda e acrescenta profundidade ao FUT; a única ressalva é a escolha de qual elenco irá disputar os jogos cooperativos. O FIFA automaticamente seleciona a esquadra do jogador que criou a sala de jogo, mas penso que seria mais simples se os usuários tivessem a opção de poder alternar as equipes mesmo depois de já terem montado seu lobby.

No mais, a EA alterou o Top 100 do Squad Battles e Division Rivals para Top 200, aumentando o espectro de jogadores que receberão recompensas generosas, e também adicionou algumas firulas de customização, como personalizar a cor das linhas em seu estádio.

O saldo de FIFA 21 é muito positivo, apesar do Volta ainda passar longe de convencer como um bom modo de jogo; outra parte negativa é o esquecimento completo do Pro Clubs, que até chegou a receber poucas novidades em FIFA 20, mas agora desapareceu completamente da lista de prioridades da EA.

Mesmo assim, o jogo convence com mudanças ótimas em seus outros modos de jogo e, novamente, com a adição de Gustavo Villani. Mesmo de olho na próxima geração, a EA Sports mostra que ainda tinha gasolina para queimar e entrega o melhor FIFA dos últimos quatro anos, no mínimo.

extras/capas/cover_qcDJEbV.jpg
FIFA 21
  • Lançamento

    06.10.2020

  • Publicadora

    EA

  • Desenvolvedora

    EA Sports

  • Gênero

    Esporte

  • Testado em

    PlayStation 4

  • Plataformas

    PlayStation 4 PC Xbox One

Nota do crítico