Seria generoso dizer que as minhas espectativas por Fallout 76: Wastelanders eram baixas. Bem, nesse sentido a Bethesda quase me decepcionou desta vez.

Sou fã de longa data da franquia, desde os jogos originais até a reinvenção feita pela Bethesda a partir de Fallout 3. Não sou daqueles que desgostam das mudanças à franquia, considero Fallout 4 um ótimo RPG de ação, mesmo que distante das origens da série em muitos aspectos. Me empolguei com Fallout 76 quando o jogo foi anunciado, principalmente pelos elementos de sobrevivência.

Joguei já no primeiro dia e a decepção foi instântanea. Não pela ambientação ou mesmo pelos robôs. O jogo era horrível, cheio de falhas e mecânicas sofríveis.

Pela primeira vez na vida, me afastei de um Fallout sem ter chegado ao final. Deixei ele de lado, na espera de um caminhão de atualizações e, quem sabe, uma grande expansão que virasse o jogo, como já vi acontecer com tantos outros live games: The Division se tornou um jogo excelente lá pelo final do seu primeiro ano; Destiny 2 ganhou vida nova após a Bungie deixar o ninho da Activision; O próprio Elder Scrolls Online se firmou como um MMO de qualidade conforme ganhou conteúdo expansão depois de expansão; Falar de Final Fantasy XIV aqui seria covardia com os outros exemplos.

Durante a espera, continuei de olho no jogo, observando a comunidade que abraçou a ideia da produtora e assumiu o papel dos NPCs. Caçadores de recompensas perseguindo bullies em troca da Caps, arenas de gladiadores e até uma gangue que montou sua própria raide, ocupando uma caverna e convidando jogadores para tentarem derrotá-los.

Fallout 76/Reprodução

Li relatos no Reddit, acompanhei vídeos e por mais que, de longe, torcia pela prosperidade da comunidade, nunca me animei a voltar ao jogo pra valer. O pedágio para fazer parte daquela turma me parecia alto demais. Com a chegada de Wastelanders, decidi que era a hora. Vesti meu colant azul e dourado e mais uma vez parti para a Appalachia pós-apocalíptica.

Encontrar NPCs humanos no jogo fez diferença: o que antes era uma jornada meio fantasmagórica, interrompida de tempos em tempos por jogadores saltitantes tentando começar uma briga, agora ganhou vida. Um bar na beira da estrada, próximo da Vault 76, dá início a uma série de missões envolvendo fazendeiros, comerciantes e gangues de malfeitores, excelente para jogadores recém-chegados - ou aqueles que resolveram criar um novo personagem depois de tanto tempo afastados - sentirem um gostinho do admirável mundo novo. Para quem já está acima do nível 20, ficar cara a cara com a Overseer e receber dela a missão de buscar uma cura para os Scorched é um bem vindo recomeço.

Essa nova campanha é mais envolvente, e mesmo a jornada original ganha com a presença dos personagens humanos, inseridos aqui e ali para conversar e mostrar que não estou sozinho no que restou da civilização. Até me assustei nas primeiras vezes em que, ao entrar numa ruína em busca de itens para desmontar, outra pessoa apareceu e se encostou no balcão, esperando para bater papo - Muito melhor do que as fitas cassete com gravações e mais gravações contando uma história que aconteceu antes da minha chegada - mas não se preocupe, elas continuam todas lá.

Fallout 76/Reprodução

É até curioso que em um game online, com outras pessoas de verdade circulando pelo mesmo mapa que eu, meu espanto e satisfação seja em encontrar pessoas "virtuais", mas são elas que dão vida ao mundo do jogo. E quanto mais converso com elas, mais me envolvo com a aventura. 

O que rola em Wastelanders é o seguinte: grandes grupos de sobreviventes estão migrando para Appalachia, e eles correm o risco de contrair a praga e se tornar Scorched - um zumbi esturricado e radioativo - se você não encontrar uma cura. Também é preciso visitar as comunidades e convencer os novos habitantes de que precisam se tratar. 

Os diálogos trazem opções mais elaboradas do que em Fallout 4 e é possível escolher lados, como, por exemplo, se juntar aos raiders ao invés de ajudar os comerciantes. Você pode até ter um desses NPCs como seu companheiro de aventuras. Suas habilidades liberam novas linhas e as escolhas influenciam nos rumos da aventura. É o tipo de coisa que os fãs esperam, mas que até então, Fallout 76 ignorava por completo.

A trama é bem escrita, os personagens são interessantes e a história te leva de um canto a outro do mapa, visitando locações que antes podiam passar despercebidas. Com a chegada de novos moradores, algumas áreas foram tomadas por raiders, os bandidos clássicos de Fallout. A estação espacial caída em Appalachia deixou de ser um marco curioso na paisagem para se tornar um covil que pede para ser expurgado de malfeitores.

Crédito: Bethesda/Divulgação

Parece ótimo, mas sempre que decido entrar em ação, o jogo decepciona com as dezenas de problemas presentes desde o lançamento. O combate, por exemplo, não é nada bom. Apontar uma arma e atirar nos inimigos é simplesmente ruim, sem a responsividade de Fallout 4 ou mesmo de New Vegas.

Falhas técnicas frequentes, como travamentos, inimigos que aparecem do nada bem na sua frente, personagens que ficam presos dentro de superfícies - inclusive um chefão que derreteu para dentro do solo, impedindo a conclusão da missão - fazem com que seja preciso sair do jogo, reiniciar tudo e torcer para o erro não se repetir.

Os elementos de sobrevivência, como fome, sede e carga, continuam presentes. Poderiam ser mais elaborados? Sem dúvida. O sistema de habilidades baseado em cartas aleatórias tem lá o seu charme. O problema de Fallout 76 é tentar ser muitas coisas ao mesmo tempo e não ser bom de verdade em quase nada.

Poderia ser um RPG solo, com uma boa campanha como a de Wastelanders, construção de base e luta pela sobrevivência. Poderia ser um jogo de sobrevivência, com multiplayer online e o tiroteio de Fallout 4. Mas ele tenta ser tudo ao mesmo tempo, sem fazer o básico direito. Wastelanders traz boas histórias, mas infelizmente escritas no meio de um jogo que segue inacabado.

Se você deixou esse jogo de lado meses atrás, essa talvez seja a melhor hora para voltar a visitar Appalachia, apesar de tudo. Wastelanders não é o grande ponto de virada de Fallout 76, que continua sendo o pior game da série. Mas a nova campanha faz a experiência menos dolorosa. Mais conteúdo vem pela frente e, quem sabe da próxima vez o jogo chegue lá. Agora, se você não adquiriu Fallout 76 no passado, esse ainda não é o momento. No seu caso, o pedágio para jogar Wastelanders é alto demais.

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Fallout 76
  • Lançamento

    14.11.2018

  • Publicadora

    Bethesda

  • Desenvolvedora

    Bethesda Game Studios

  • Censura

    16 anos

  • Gênero

    RPG

  • Testado em

    Xbox One

  • Plataformas

    PlayStation 4 Xbox One PC

Nota do crítico