Review: South Park: A Fenda que Abunda Força
Versão brasileira, Kagaro Nakasa
Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades. Com grandes peidos, vêm grandes desastres. Você acaba de entender toda a premissa de South Park: A Fenda que Abunda Força.
Não tem como ficar surpreso em saber que o guardião de South Park se chama o Sentinela Peidorrento. Inclusive, é até normal para quem conhece o programa que faz tanto sucesso por muitos cantos do planeta. E, depois de alguns anos fora dos videogames, a cidade voltou em um RPG que pula da aventura medieval para o universo dos super-heróis em questão de segundos — tudo pela vontade de Cartman e seus amigos em trocar de brincadeira.
É uma transição e tanto, mas jogamos do começo ao fim o novo game da franquia para saber se a essência e a diversão continuam vivos em meio ao festival de odores e bizarrices.
Mais um dia em South Park
Ser um aspirante a herói é sempre uma jornada recheada de descobertas. Isso não seria diferente para o Novato de South Park — ou seja, você — quando se junta ao grupo de super-heróis de Cartman em busca de um gato desaparecido. Como um iniciante, você desbloqueia seus poderes em diferentes classes e aos poucos se envolve em várias missões pela cidade, caçando uma teia de crimes que vai crescendo exponencialmente.
South Park: A Fenda que Abunda Força busca importar o seriado de uma forma interativa e, acima de tudo, mantendo a diversão e os aspectos icônicos. Para reforçar isso, o visual é idêntico à série assim como no jogo anterior. O humor ácido está presente constantemente durante a aventura, desde o momento de escolher a dificuldade e ver que isso corresponde à cor de pele do seu personagem. Então, é bom saber que sua experiência estará sujeita ao sarcasmo típico envolvendo a política, o racismo, a religião, as nacionalidades, os costumes norte-americanos, a sexualidade e muito mais.
Mas nem tudo por lá inclui gotas de ácido. O próprio jogo constrói uma narrativa divertida em torno da “Guerra Civil” que dividiu os heróis de South Park em dois grupos diferentes. E referências à Marvel e DC rolam soltas nessa brincadeira, inclusive usando seriados e temporadas na Netflix como parte de toda a ironia. Tudo isso rende boas gargalhadas durante a jogatina.
Claro que, como um bom RPG, parte da graça é conhecer o mundo e evoluir conforme atinge o máximo de objetivos possíveis. O jogo não falha neste ponto, oferecendo uma diversidade de “caçadas” que resultam em pontos de experiência valiosos para o seu personagem. E, assim, você segue por uma série de minigames para “batizar” o maior número de privadas possíveis, tirar selfies para ser um novo “influencer” na cidade e procurar por quadros de romance entre garotos (sim, você busca por "yaoi" durante o jogo). Coisas que acontecem em South Park.
Combate divertido e customização abundante
South Park busca a simplicidade dos RPGs para construir um sistema dinâmico e fácil de aprender. Dentro das batalhas, você tem a disposição de três poderes básicos e um supremo em seu personagem, além de mais três aliados. A movimentação é tática e por turnos — como se você estivesse jogando Final Fantasy Tactics na rua da sua casa.
Na área de personalização, as opções são vastas. É possível ser um mago com magias elementais e depois mesclar sua configuração com os dispositivos de um inventor. Ou, mais ao fim, usar um velocista que depois ganha golpes de brutalista e uma pitada de ciborgue. Porque não?
Ainda neste ponto, a evolução desbloqueia sequências de DNA e espaços para colocar artefatos em seu personagem, aumentando os atributos básicos da equipe e permitindo realçar a especialização do seu personagem. Suas habilidades são porradeiras? Então faça seu herói dar muito dano com socos na cara e ao bater em obstáculos.
Há também um sistema de criação de itens que reforça a personalização: a criação de fantasias. Há trajes para todos os gostos, assim como há possibilidade de criar o herói do seu jeito preferido.
Mas vale citar que, se Boogerman transformou a jornada do herói de Campbell em um festival de pura nojeira, foi o Novato de South Park que revirou essa narrativa com uma especialização na área dos fedores. Durante a aventura, o protagonista aos poucos descobre que seus peidos são mais do que apenas gases que deixam as pessoas desconfortáveis — eles podem até mesmo influenciar nas linhas delicadas do tempo-espaço. Sabe, acontece quando você come algo que não cai muito bem no seu intestino.
E tudo isso desbloqueia novas ações dentro e fora de combate. Ao navegar por South Park, ele permite entrar em áreas inacessíveis e resolver enigmas, incentivando um novo passeio pela cidade para finalizar suas missões. Dentro das batalhas, ele libera poderes novos como parar o turno de um oponente.
Os chefes usam e abusam das mecânicas para desafiar estratégias, e isso é perfeito para você adaptar constantemente suas ações e até mesmo a formação de aliados e de magias. Um dos exemplos recorrentes são elementos do cenário que ignoram o seu turno para testar a rapidez das suas jogadas. E, além disso, espere pelos tipos mais chatos no meio do caminho — estou falando de você, Timothy!
Uma mistura das mais divertidas
South Park: A Fenda que Abunda Força continua seguindo as premissas da série e é um jogo que se renova e expande constantemente. Em um momento, você está se defendendo de um grupo de caipiras que não aceitam as suas escolhas de gênero, religião ou sexualidade. No outro, está nos fundos de uma igreja combatendo padres pedófilos. Não é um game de fácil digestão, mas o seriado nunca economizou no ácido para te dar um pequeno nó no estômago.
Se você não conhece a série, A Fenda que Abunda Força é um RPG que se mantém com uma proposta única e sólida.
A renovação atinge a aventura em seus outros aspectos, constantemente trazendo novos inimigos, desafios, missões e poderes. Como um RPG, o jogo se supera em não entrar em um círculo de repetições a menos que esteja em uma “quest” pessoal de evoluir seu personagem — e, mesmo dessa forma, você pode equilibrar as batalhas repetitivas com as missões inacabadas por South Park.
Durante toda a aventura, o único ponto técnico negativo que marcou presença foi a perda de sincronia entre as falas em português e a ação desenrolando na tela em algumas ocasiões. Outros bugs pequenos apareceram, principalmente envolvendo a saída de lacaios invocados, mas nada disso foi suficiente para prejudicar uma aventura que se manteve envolvente por mais de 20 horas de diversão.
Para quem conhece o seriado, o jogo é uma expansão que cultiva simplicidade e facilidade, mas tudo mantendo suas raízes bem firmes em South Park. A dublagem, inclusive, busca se aproximar da original com todos os palavrões correndo soltos nos diálogos entre os personagens. Mesmo assim, é um aspecto que pode desapontar os fãs de longa data.
Se você não conhece a série, A Fenda que Abunda Força é um RPG que se mantém com uma proposta única e sólida. O jogo não aposta muito no "fator replay" e talvez decepcione outros jogadores com poucos objetivos depois de finalizado. Mas este é um título que, quando olhado para trás, reflete uma aventura divertida com uma progressão agradável para você ser um herói e entrar aos poucos no mundo louco de South Park.
South Park: A Fenda que Abunda Força está disponível no PlayStation 4, Xbox One e PC. O jogo foi testado numa unidade do PlayStation 4 original. Clique no nome da plataforma para ver o preço da versão digital do jogo em cada uma.