São poucos os jogos que conseguem fazer o tempo passar tão rápido quanto os da franquia Civilization e, nesse aspecto, Civilization 6 não decepciona. Com aquele que é provavelmente o jogo mais completo desde o início da franquia em 1991, a Firaxis entrega uma experiência que, além de essencial para fãs de jogos de estratégia, certamente será a responsável pela perda de muitas e muitas horas da vida dos jogadores.

Assim como nos outros jogos da série, em Civilization 6 seu objetivo é levar uma civilização desde seus primórdios até a glória no futuro, seja ela militar, religiosa, cultural ou até mesmo científica. Entretanto, apesar de manter as fundações que os veteranos já conhecem e amam, o sexto jogo da franquia traz várias novidades que mudam bastante a dinâmica de jogo.

A maior delas é o sistema de distritos, que muda radicalmente como as cidades funcionam. Até Civ 5, todos as melhorias que você efetuava em sua cidade eram efetuadas no próprio tile dela e não era necessário se preocupar tanto com planejamento a longo prazo ou o local de instalação da cidade, mas agora isso mudou.

Em Civilization 6, várias melhorias requerem um próprio tile e possuem suas próprias condições de construção (não é possível construir um aeroporto em montanhas, por exemplo) e de bônus (uma área residencial será mais vantajosa caso construída em um tile “bom”). Somando essas condições ao espaço limitado oferecido pelo mapa do jogo, é necessário se planejar desde cedo para não ter maiores problemas com falta de tiles adequados para a construção do distrito desejado nos estágios finais do jogo.

E além dos distritos, as cidades agora também possuem índices de população (é necessário certificar-se de que sua cidade possui casas o suficiente) e de comodidade, que substitui a “Felicidade” de Civilization 5 e é alcançado construindo distritos de entretenimento, maravilhas ou prédios como estádios e zoológicos.

Essas mudanças tornam o jogo bem mais interessante e complexo, já que é necessário estar frequentemente monitorando os índices de suas cidades e planejando os próximos passos relacionados a construção de distritos, diminuindo o número de turnos nos quais você não faz nada além de esperar sua próxima construção ou pesquisa ficar pronta.

Outro sistema que foi vastamente modificado foi o de governo. Aqui, as árvores de Políticas Sociais de Civilization V ficam de lado e um sistema completo de governos é introduzido. Você pode escolher entre diferentes formas de administração durante os séculos e customizá-los com cartas de políticas que dão bônus a sua civilização e são liberadas por meio da nova árvore de pesquisa de civics, que é praticamente a mesma coisa que a árvore de pesquisa mas que funciona com cultura ao invés de ciência.

Por meio deste sistema, é possível deixar cada jogo mais único, já que dois jogadores podem adotar sistemas de governo completamente diferentes mesmo estando jogando com a mesma civilização.

Artes finas

Quando Civilization 6 foi anunciado lá no começo do ano, eu não gostei muito de sua estética. O realismo de Civ 5 foi deixado de lado em prol de uma direção artística bem mais cartunesca que não agradou muitos em um primeiro momento, mas tendo agora dá para perceber que a mudança foi uma escolha acertada da Firaxis.

Sim, eu continuo achando que algumas unidades parecem ter saído diretamente de Clash of Clans ou algum outro jogo free-to-play de celular, mas deixando esse detalhe de lado, o estilo de arte novo funciona muito bem e acaba sendo bastante eficiente, facilitando em muito a leitura do mapa nas etapas finais do jogo. E quer saber? Até que o estilo cartunesco é bonitinho e cresce em você com o tempo.

E ainda falando de beleza, é impossível deixar de lado a trilha sonora de Civilization 6. A franquia já é conhecida por suas faixas épicas (“Baba Yetu”, de Civ 4, foi a primeira faixa de videogame a ganhar um Grammy) e mesmo assim é necessário destacar a qualidade do trabalho de Geoff Knorr. O destaque da trilha — fora a música tema, que foi composta por Christopher Tin, de “Baba Yetu” — são as músicas próprias de cada civilização, que evoluem por meio dos anos se tornando cada vez mais complexas e modernas, refletindo de forma sutil porém brilhante a evolução tecnológica que está ocorrendo no jogo.

Velhos conhecidos

Apesar das inúmeras melhorias, Civilization 6 ainda apresenta um clássico problema da série: a inteligência artificial inconsistente. Foram várias as vezes que um país declarou guerra comigo após mandar delegações e/ou fazer embaixadas na minha capital ou tendo um exército claramente inferior ao meu. A Rússia, por exemplo, declarou guerra contra minha civilização em dois momentos distintos e em ambos tomou uma surra de proporções bíblicas e teve que oferece todo seu dinheiro em troca de paz.

E o game até tem um sistema que deveria tornar a inteligência um pouco mais consistente, mas ele de pouco adianta e um jogador mais desatento pode nem perceber que dessa vez os líderes controlados pelo computador possuem agendas próprias.

Entretanto, dando crédito onde é merecido, apesar da inteligência artificial dos líderes inimigos ser meio decepcionante a dos bárbaros melhorou bastante e eles são bem mais agressivos e inteligentes do que antes, criando um desafio a mais nos primeiros turnos do jogo. Só é uma pena que as relações diplomáticas entre nações continuem tão superficiais e inconsistentes.

Civilization 6 até conta com alguns problemas, mas as inúmeras melhorias que o jogo traz para a fórmula da franquia fazem com que eles se tornem irrelevante no esquema geral das coisas e torna Civ 6 um excelente e completíssimo jogo.

A Firaxis já fez aquele que é o mais completo Civilization base até agora, e se continuar acertando na hora do suporte pós-lançamento pode ter um verdadeiro clássico em suas mãos.

Civilization 6 está disponível para PC e Mac. O game foi testado em um PC.

Nota do crítico