Certas experiências dos games são criadas com tantas amarras de hardware que, infelizmente, ficam reféns do tempo. É o triste caso de Hotel Dusk: Room 215, de Nintendo DS, um point-and-click ímpar que todo fã de jogos investigativos deveria conhecer.

Feito sob medida, Hotel Dusk faz uso brilhante dos recursos do portátil, proporcionando investigação interativa como poucas outras. Não bastasse isso, a história deixa um impacto duradouro no jogador, com um mistério de estrutura complexa e personagens cativantes.

Imagem de Hotel Dusk Room 215
Cing/Nintendo

Com a chegada de Another Code, outro jogo de mistério da Cing, ao Switch neste mês na forma de uma coletânea remasterizada, é impossível não desejar o mesmo tratamento e sobrevida para Hotel Dusk e sua sequência, The Last Window.

Feito sob medida para o DS

Imagem de Hotel Dusk Room 215
Cing/Nintendo

Lançado em 2007, Hotel Dusk acompanha o ex-detetive Kyle Hyde, que deixou as forças armadas após um acontecimento traumático com seu parceiro de investigação, Brian Bradley. 

Agora um representante comercial, Kyle segue em busca de Brian, o qual acredita ter sobrevivido ao acidente. A investigação leva o ex-detetive a se hospedar no Hotel Dusk, um motel degradado cujos atuais hóspedes estão interligados por uma trama criminosa oculta.  

Imagem de Hotel Dusk Room 215
Nintendo/Cing

Lembro-me de ser conquistada pelo trailer do jogo, que demonstrava quão imersiva é a investigação de Hotel Dusk. A começar pelo fato que, para jogar, é preciso segurar o DS na vertical, como se estivesse lendo um livro. 

Devido a tela de toque, é possível, literalmente, “apontar e clicar” para interagir com os cenários. Também é possível escrever, a próprio punho, anotações das descobertas que fizer no decorrer da trama. 

Imagem de Hotel Dusk Room 215
Cing/Nintendo

Isso sem falar em outros usos engenhosos do portátil, como o puzzle que demanda que o jogador feche o Nintendo DS para virar um objeto de cabeça para baixo. Trata-se de um quebra-cabeça que, ao fechar o videogame, é transportado da tela de cima para a debaixo, revelando a mensagem oculta no verso das peças. 

Trama brilhante

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Cing/Nintendo

A interatividade do portátil permite que a imersão transborde para fora da tela para fisgar o jogador no mistério. Amplificando esse puxão está a história, escrita com brilhantismo suficiente para tornar as últimas horas de jogatina quase impossíveis de se interromper.   

A trama se enraíza nas interações com os demais hóspedes, sendo que cada um deles esconde uma pista importante para o mistério principal. Porém, antes de desvendar essas pistas por meio de interrogatório, o jogador precisa se intrometer bastante na vida alheia. 

Imagem de Hotel Dusk Room 215
Cing/Nintendo

Chega a ser um pouco desconfortável o quão enxerido Kyle é, revirando os quartos dos outros e fazendo perguntas indelicadas. Isso porque as histórias de origem de cada personagem parecem, à primeira vista, totalmente irrelevantes para a investigação principal. 

Imagine, então, o quanto tudo fica intrigante quando, pouco a pouco, fica nítido que todas as histórias estão interligadas. As revelações são entregues em ritmo exponencial até alcançar a conclusão arrebatadora que coloca todas as peças no lugar de forma satisfatória. 

Imagem de Hotel Dusk Room 215
Cing/Nintendo

O impacto duradouro deixado no jogador também se deve ao fato que todos os personagens são cativantes de sobra, uma impressão conquistada pelas histórias trágicas e motivações relacionáveis de cada um.  

Adicione todos esses méritos ao belo estilo de arte que imita rabiscos de grafite, a trilha sonora melancólica e puzzles engenhosos e terá dimensão de quão ímpar é Hotel Dusk. 

Imagem de Hotel Dusk Room 215
Cing/Nintendo

Uma chance de sobrevida 

De fato, o tipo específico de interatividade do jogo torna difícil um port para a geração atual – ao menos, sem comprometer a experiência original. 

Imagem de Hotel Dusk Room 215
Cing/Nintendo

Porém, a chegada de Another Code: Recollection pode apresentar uma solução palpável. Afinal, o time responsável pela remasterização – ainda não revelado – enfrentou desafio similar. 

Lançado em 2005, o Another Code original também fazia uso da interatividade do DS. E, de uma forma ou de outra, isso conseguiu ser adaptado para as capacidades do Switch

Imagem de Hotel Dusk Room 215
Cing/Nintendo

Até o anúncio de Recollection, as chances de sobrevida para os jogos da Cing eram quase nulas. Afinal, a desenvolvedora declarou falência em 2010 e, por isso, acreditava-se que os títulos da empresa estavam fadados ao limbo.

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Ainda não se sabe qual é o estúdio responsável pela remasterização de Another Code mas, seja lá qual for, resta torcer para que haja meios suficientes para que a próxima aposta do time seja um port de Hotel Dusk. Afinal, mais pessoas merecem passar por essa experiência, da forma mais próxima da original possível.   


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