Splatoon 2 é, ao mesmo tempo, o jogo que menos tem a cara da Nintendo no Switch, e o jogo que mais tem a cara da Nintendo. Por um lado, temos um espaço que deixa os jogadores serem criativos, experimentarem um tipo de jogabilidade rara em shooters, e se divertir com personagens e um mundo bem-humorados. Por outro, existem restrições bizarras, falhas óbvias na infraestrutura online e decisões estranhas que tem a cara da fabricante japonesa.

Ambientado num mundo cheio de personagens inspirados em criaturas marinhas, Splatoon 2 tem uma premissa simples. Você não atira balas, e sim tinta. O seu objetivo é pintar o cenário e inimigos com a sua cor, e evitar ao máximo a cor adversária. As crianças que controlamos se transformam em lulas, que podem nadar na tinta em alta velocidade, e contam com um catálogo diverso de armas que oferecem maneiras diferentes de espalhar as cores.

É fantástico, então, que o simples ato de pintar seja divertido em Splatoon 2. Como acontece em diversos jogos da Nintendo, ela acerta em cheio na mecânica-chave da jogabilidade. Seja utilizando um rifle automático, um balde, pincel ou (meu favorito) um rolo, espalhar a cor do seu time pelo cenário é sempre um ato divertido.

A variedade de armas presentes aqui não é gigantesca, mas cada uma oferece formas de jogar muito distintas, que devem agradar jogadores diferentes de formas diferentes. Algumas são excelentes para pessoas mais agressivas, outras ajudam o time a pintar o terreno com mais velocidade, outras tem um alcançe maior, e por aí vai.

A esperteza de Splatoon 2 se encontra no fato de que, além de ser a espinha dorsal do jogo, a mecânica de pintar é o objetivo principal do jogo. Tanto no modo campanha, que conta com fases bem construídas e desafios interessantes, quanto no multiplayer competitivo, que é o prato principal do cardápio, a essência da coisa se encontra na pintura. "Matar" seus adversários é importante, mas pouco adianta eliminar 10 inimigos e não morrer nenhuma vez se você não ajudar a cumprir o objetivo. Por conta disso, Splatoon 2 se torna acessível e amigável. Você sempre sente que está contribuindo e progredindo.

Splatoon 2 é, ao mesmo tempo, o jogo que mais e menos tem a cara da Nintendo

Pintar o terreno é a principal forma de ganhar o jogo, seja no tradicional Turf War ou algum modo diferente que tem outros objetivos. Essa também é a maneira de progredir individualmente em cada partida. É fazendo isso que você desbloqueia os especiais, e essa é a principal forma de obter mais pontos. Qualquer pessoa consegue fazer uma diferença em Splatoon 2, mas há mecânicas suficientes no jogo para recompensar aqueles que sabem se posiciionar, aprendem as rotas mais rápidas e utilizam os poderes com inteligência.

Splatoon 2 jamais será um jogo de tiro profundo como um Battlefield, mas essa não é a proposta dele. A Nintendo está trabalhando com uma mecânica simples e construindo tudo ao redor dela. Os desenvolvedores encontraram uma fórmula divertida que pode ser usada de diversas formas.

É fácil aprender a jogar Splatoon 2, mas há muito para se pensar se você quiser dominá-lo. Felizmente, há espaço para todos os níveis de habilidade no multiplayer, e as armas e especiais estão muito bem balanceados, garantindo um equilibrio importante na jogabilidade.

As partidas competitivas de Splatoon 2 são rápidas. A Nintendo sabe que não vai demorar muito para os jogadores pintarem todo o cenário e começarem a disputar pontos chaves do mapa. Estender esse processo seria desnecessário. O ritmo do multiplayer é rápido, e você não tem muito tempo para lamentar ou comemorar um resultado antes que o próximo jogo comece.

Toda a infraestrutura online de Splatoon 2 mostra que a Nintendo ainda não entendeu 100% como funciona a internet

A principal novidade em relação ao jogo original, um queridinho dos donos de Wii U, é o Salmon Run, um modo cooperativo de ação veloz que coloca você e outros três jogadores para enfrentar cinco ondas de inimigos. Assim como o modo campanha, ele força o jogador a abraçar as diversas mecânicas de pintura de Splatoon 2. Não basta atirar, vai ser necessário usar granadas, criar espaços para nadar como lula, e trabalhar como equipe para derrotar os chefões, que por si só servem como mini desafios, já que só podem ser derrotados de maneiras bem específicas.

O problema, infelizmente, é que tudo ao redor disso deixa a desejar. Para um jogo tão focado no multiplayer, é inacreditável como a infraestrutura online de Splatoon 2 é falha. Você provavelmente já ouviu falar do problema com o chat por voz, que só pode ser feito através de um aplicativo para celular cheio de restrições (você não pode usá-lo e travar a tela do smartphone, por exemplo), o que significa que a preferência dos usuários por serviços de terceiros como Skype ou Discord vai permanecer forte.

Mas isso é o começo do problema. Aqui estão algumas das restrições desnecessárias e ausências importantes que estão presentes no multiplayer de Splatoon 2:

  • Você não pode trocar de equipamento durante ou entre partidas. É preciso sair do lobby para mudar a arma e itens de roupa.
  • Não é possível criar uma party com amigos e garantir que vocês sempre estarão no mesmo time. 
  • Como mencionado acima, não há chat por voz in-game.
  • Há sempre apenas dois mapas disponíveis em cada modo de jogo. Eles são fazem parte de um rodízio.
  • O Salmon Run, uma das principais novidades do jogo, só fica disponível em horários pré-determinados pela Nintendo.

Toda a infraestrutura online de Splatoon 2 mostra que a Nintendo ainda não entendeu 100% como funciona a internet, e nem jogos que dependem dela. Para cada passo pra frente - cada jogador pode usar suas habilidades artísticas para criar uma mensagem que aparece acima de sua cabeça no hub do jogo, e é impressionante ver as criações divertidas e bem trabalhadas que surgem disso - a Big N dá dois passos para trás.

É frustrante, especialmente porque o núcleo do gameplay de Splatoon 2 é bom demais. A jogabilidade de momento-a-momento, aquilo que você faz quando está dentro das partidas ou missões da campanha e cooperativo, é simples, mas nunca rasa. É fácil de entender, de começar a jogar, mas há detalhes recompensadores para aqueles que se dedicarem a aprender e decorar os pormenores que fazem a diferença no encontro com adversários.

Mas o ciclo que engloba isso tudo, os momentos entre as partidas, a frustração quando tentamos jogar com amigos, parece algo atrasado. Algo que não deveria estar num jogo lançado em 2017, num dos principais consoles da atualidade.

Eu amo ter Splatoon 2 no meu Switch. Ele é perfeito quando eu não estou com a cabeça de enfrentar uma shrine difícil em The Legend of Zelda: Breath of the Wild ou não estou com outras pessoas para nos divertirmos em 1-2 Switch. O visual é lindo, a personalidade é enorme, a jogabilidade é ótima, mas há problemas demais para ignorar. O resultado final ainda é positivo e ele é uma ótima adição ao console da Nintendo, mas mostra, mais do que nunca, os pontos onde a gigante dos games está atrás de suas competidoras.

Nota do crítico