22 anos atrás, Pokémon Snap ousou reimaginar os monstrinhos de bolso de uma maneira que os demais jogos e o desenho nunca haviam feito: como criaturas selvagens, vivendo na paz de seus habitats naturais, longe da interferência humana.

E por 22 anos, fãs que se apaixonaram pelo jogo de Nintendo 64 lentamente perderam as esperanças de ver a proposta revisitada com mais criaturas e os avanços dos consoles mais potentes que vieram depois.

Mas eis que chega New Pokémon Snap. Misturando monstrinhos de todas as oito gerações em percursos muito mais densos e populosos, o jogo consegue, melhor do que qualquer outro produto da história da série, retratar como seria um mundo em que os Pokémon existem de verdade.

Divulgação/Nintendo

Convocado pelo renomado Professor Mirror para investigar o mistério da inóspita região de Lental, o jogador assume o controle de um jovem aspirante a fotógrafo Pokémon. A partir de seu acampamento na ilha de Florio, o grupo – que ainda inclui os outros assistentes do Professor – deve viajar para outros pontos relevantes do arquipélago e fotografar a fauna local atrás de pistas que expliquem a existência dos Pokémon Illumina, que são capazes de brilhar sem motivo aparente.

Como no original de Nintendo 64, o jogador tira fotos a partir de um veículo autônomo, que atravessa as fases de maneira lenta, mas constante. Pokémon selvagens estão por todos os lados – andando, voando, nadando, comendo, dormindo, caçando, brincando. A missão é mirar a lente e capturar as telinhas mais estonteantes possíveis de todas essas situações, como um verdadeiro fotógrafo da vida animal.

Da segurança de seu veículo – o NEO-ONE –, o protagonista não pode ser atacado pelos monstrinhos mais agressivos. Em contrapartida, ele só consegue interagir com o ambiente ao redor de maneira limitada.

É possível, por exemplo, arremessar frutas para alimentar ou incomodar os monstrinhos, ou então tocar uma breve melodia que faz com que alguns deles comecem a dançar. O herói também pode lançar esferas chamadas Illumina Orbs, que animam os Pokémon e fazem com que eles brilhem por alguns instantes.

Apesar de parecerem frustrantes no papel, as limitações impostas por New Pokémon Snap são justamente os fatores que fazem do game recompensante.

Como o NEO-ONE está sempre em movimento, o jogador deve ser ligeiro e preciso para conseguir capturar os melhores ângulos. Caso Pokémon Snap fosse um jogo de exploração livre, sem tais limitações, o prazer de conseguir a cobiçada foto perfeita do Pikachu surfando em cima de um Mantine seria muito menor.

Isso já era verdade no Nintendo 64, mas é algo ainda mais marcante no Switch, que apresenta várias situações dignas de fotos simultâneas a qualquer momento em um percurso. Tome os primeiros instantes do primeiro percurso do game como exemplo: em questão de segundos, o jogador pode fotografar um Grookey brincando com um Pichu, uma manada de Bouffalants, um Vivillon pairando no ar, um Dodrio saltando na distância, ou Bidoofs colhendo gravetos para a construção de uma represa. Até dá para tirar fotos competentes de tudo isso em rápida sequência, mas fotos verdadeiramente boas requerem preparação e foco.

As incursões em New Pokémon Snap são instigantes porque obrigam os jogadores a constantemente fazerem pequenas escolhas e sacrifícios. Devo acompanhar este Scorbunny à espera de um clique perfeito, ou será que procurar por algum Pokémon escondido nas colinas na direção oposta é uma boa? Se você hesitar entre um e outro, pode acabar de mãos vazias. Mas tudo bem: afinal, o NEO-ONE continua progredindo, e em poucos instantes você já se depara com o próximo dilema.

É um ciclo viciante e prazeroso, que faz com que o jogador consiga repetir o mesmo percurso três, quatro, ou até mais vezes em sequência atrás de uma foto específica, sem nunca ficar frustrado.

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Os parágrafos acima descrevem a experiência básica do jogo, girando apenas em torno de situações que ocorrem de maneira espontânea ao longo dos percursos. Mas jogadores mais engenhosos também podem criar situações utilizando frutas e os demais itens - por exemplo, atraindo dois Pokémon de espécies diferentes para perto um do outro e vendo o que acontece. O resultado costuma ser surpreendente.

E este é o grande trunfo de New Pokémon Snap, especialmente para pessoas que são fãs da franquia desde seus primórdios: o fator surpresa.

Até mesmo aqueles que têm o costume de se debruçar sobre as descrições da Pokédex a respeito dos comportamentos dos monstrinhos inevitavelmente os verão interagindo com outras criaturas de uma maneira que a série nunca tinha especulado.

Longe do ‘meta’ competitivo dos RPGs de Pokémon ou de conceitos como raridade e atributos de batalha, os monstrinhos de New Pokémon Snap têm a oportunidade de brilhar em um patamar de igualdade. Cada novo Pokémon a aparecer é uma surpresa agradável, seja ele um estiloso Lycanroc ou um mero Bunnelby - da mesma maneira que, em um zoológico ou safari, pequenos saguis são tão divertidos de observar quanto os grandes predadores.

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O conceito do Pokémon Snap original já era vencedor - era de se esperar, então, que uma versão expandida e modernizada do mesmo também seria vitoriosa. Mas o jogo de Nintendo 64 era muito curto, e todos os seus segredos podiam ser desvendados em poucas horas.

Olhando com distanciamento para os novos sistemas de jogo presentes em New Pokémon Snap, fica claro que aumentar a longevidade da experiência foi um dos, senão o maior foco da equipe de desenvolvimento da Bandai Namco.

O mais importante destes sistemas é o de nível de pesquisa. A soma de todos os pontos fotográficos obtidos ao longo de um percurso é transformada em pontos de experiência, que representam a familiaridade do jogador com aquela fase específica. Na medida em que o protagonista sobe de nível, os Pokémon daquela área se tornam mais confortáveis com sua presença. Assim, quanto mais vezes você repete uma fase, mais cresce a quantidade e variedade de monstrinhos disponíveis para serem fotografados.

A sensação de encontrar uma espécie nova de Pokémon em um cenário que você já tinha explorado várias vezes antes é muito boa, e tal aparição normalmente vem acompanhada de novas interações com as criaturas que já estavam lá antes.

O novo sistema de avaliação também serve para aumentar a duração da aventura: agora, as fotos são identificadas por qualidade (bronze, prata, ouro ou diamante) e separadas por marcadores de 1 a 4 estrelas, representando a raridade do comportamento demonstrado por um determinado Pokémon na imagem.

Dessa forma, uma Photodex completa precisa de pelo menos quatro fotos de cada Pokémon, nas quais os monstrinhos aparecem fazendo coisas distintas. Não basta uma única foto boa do Kangaskhan: é preciso repetir os percursos em que ele aparece e conseguir capturar diferentes momentos de sua rotina.

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Além de serem muito mais densas, as fases de New Pokémon Snap também são maiores do que as do jogo original. O número total de cenários também é maior - mesmo sem contar as variações de percursos, que, na prática, funcionam como fases distintas no mesmo mapa. Um exemplo: o percurso da praia em Florio tem uma versão diurna e outra noturna, com aparições de Pokémon diferentes.

A lista de Pokémon que dão as caras ao longo da aventura também é muito maior do que a do jogo original, e inclui criaturas de todas as eras da série. Mais do que quantidade, porém, o que importa aqui é a qualidade das aparições: os monstrinhos não apenas aparecem, como também são integrados de maneira natural e divertida nos ambientes que eles habitam no jogo.

Na base, os membros da equipe de expedição fazem pedidos de fotos de situações específicas. São side-quests: missões que dão pistas de situações ocultas que você pode encontrar, aumentando ainda mais a vida útil do jogo.

Por fim, o jogador ainda pode compartilhar suas fotos favoritas online, além de observar fotos tiradas por outros jogadores. Uma ferramenta de edição simples permite alterar elementos das imagens, como brilho, contraste, abertura da lente, e mais, além de ser compatível com a aplicação de filtros e stickers desbloqueáveis.

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New Pokémon Snap prova que os fãs estavam certos ao longo dos anos: a fórmula do jogo original, muito diferente de todas as centenas de outros produtos da franquia, ainda tem muito a oferecer.

Ao apresentar as amadas criaturinhas sob uma ótica diferente, o jogo ressignifica o universo da franquia, deixando claro que a marca Pokémon tem muito a ganhar em expandir seus horizontes para além de meras competições de batalhas.

  • Lançamento

    30.04.2021

  • Publicadora

    Nintendo, The Pokémon Company

  • Desenvolvedora

    Bandai Namco

  • Gênero

    Aventura

  • Testado em

    Nintendo Switch

  • Plataformas

    Nintendo Switch

Nota do crítico