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25 anos de Super Mario RPG, o encontro histórico entre Mario e Final Fantasy
Parceria entre Nintendo e Square permitiu que Mario pulasse para outro gênero
Este 9 de março de 2021 é data de dar os parabéns aos 25 anos de Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars, que chegou às lojas do Japão nesse dia em 1996.
A primeira aventura do encanador no gênero RPG é também uma das mais queridas por muita gente por uma infinidade de razões, mas possivelmente por ter ajudado a consolidar o amor pelos JRPGs para uma geração em que o acesso a jogos no Brasil era ainda mais difícil e dominado pelos jogos de plataforma.
Ainda que Mario RPG tenha sido lançado quase um ano após Chrono Trigger, possivelmente um dos melhores RPGs japoneses já feitos, no Brasil dos anos 90 a realidade para se ter acesso a jogos novos dependia de alguns atributos como sorte, carisma, destreza, mas principalmente contatos.
Em uma época em que jogar videogames quase te colocava como um pária da sociedade, mesmo entre os mais jovens, era essencial ter a sorte da sua cidade possuir uma locadora grande o suficiente para conseguir jogos recentes e destreza para conseguir alugar os lançamentos que quase nunca estavam disponíveis; caso você tivesse os contatos certos - aquele primo rico ou aquele amigo que o tio trabalha na Nintendo -, ainda era preciso passar num teste de carisma para convencer o amiguinho a trocar ou emprestar os jogos.
Por isso, diante de todo esse cenário, não era trivial ter acesso a clássicos como o próprio Chrono Trigger, Breath of Fire, Fire Emblem, Mother ou Mana.

Esses e outros jogos eram raros, nem todo mundo tinha ou sequer sabia da existência, mesmo nas locadoras, quando algum JRPG estava disponível ficava sempre num canto empoeirado e para ser apresentado ao jogo você precisava ser assíduo a ponto do cara do outro lado do balcão te passar essa quest como sinal de confiança no seu talento.
Mario RPG, antes de ser RPG, já era Mario! A marca de peso era um chamariz até para a sua avó, que não sabia o que significava RPG, mas sabia que você jogava Mario, e fui justamente esse apelo popular que levou a Nintendo, sob a produção do próprio Shigeru Miyamoto, a fechar a parceria com a Square, já veterana no gênero, para dar ao personagem da casa a sua chance de se aventurar em um RPG pela primeira vez.
Com uma narrativa diferente da convencional, o jogo começa com a mesma premissa de salvar a princesa Peach das garras do vilão Bowser. Mas, no meio do processo uma espada gigante e viva cai do céu, quebrando a Estrada das Estrelas, espalhando sete de seus fragmentos pelo mundo e ainda estragando não apenas o casamento de Bowser com Peach, mas a missão de resgate, jogando Bowser, Mario e Peach cada um para um lugar diferente.
O desenrolar leva Mario a se unir com Peach e Bowser novamente, agora em trégua e servindo como aliados por uma causa maior: tentar encontrar os sete fragmentos da Estrada das Estrelas e derrotar a espada Exor!

Apesar de ser essencialmente um RPG japonês, o jogo possui uma exploração de mapas similar àquela já conhecida dos jogos de Mario, com fases em pontos do mapa que o jogador pode retornar se quiser para explorar novamente, evoluir o nível dos membros do grupo, buscar por itens ou equipamentos melhores, mas o ponto alto e mais cativante é de longe a forma como toda a aventura é contada.
O humor domina a narrativa desde o início, com piadas mais óbvias como “chain reaction”, logo ao final da primeira luta quando Mário ataca uma corrente, “chain”, para derrubar Bowser, até piadas mais elaboradas quando Toad, em seu primeiro diálogo reclama do “gelo” de Mário ao não responder suas perguntas, fazendo referência aos protagonistas silenciosos, marca registrada diversos títulos tanto da Nintendo quanto da Square.
Além disso, Legend of the Seven Stars usa e abusa das referências a jogos de diversos estúdios como Legend of Zelda e Metroid, da própria Nintendo, F-Zero, Star Fox, inúmeras referências à série Final Fantasy, os Axem Rangers, claramente referência aos Power Rangers que haviam estreado o gênero Super Sentai no ocidente apenas três anos antes. Outra referência bem mais sutil é seu próprio subtítulo, que homenageia o card game e RPG Legend of the Five Rings (Lenda dos Cinco Anéis), inspirado no romance de Musashi Miyamoto, Livro dos Cinco Anéis.

Super Mario RPG, além de tudo impressionava pelos gráficos com sprites pré renderizados e animações e cenários em perspectiva angulada que combinados emulavam a sensação de um jogo 3D, algo que só foi se tornar uma realidade para a Nintendo mais tarde naquele mesmo ano com o lançamento do Nintendo 64.
Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars foi um pot-pourri muito bem humorado que uniu elementos chaves de humor, narrativa, mecânicas de outros formatos, referências e até mesmo quebra da quarta parede quando um personagem sopra da tela um dos botões do controle do SNES, inutilizando aquela função para o jogador.
O jogo foi extremamente bem recebido tanto pela crítica especializada quanto pelo público, tendo vendido quase 1,5 milhões de cópias no Japão e mais de 200 mil cópias nos EUA apenas em seu primeiro mês, além de ter sido o jogo mais alugado dos EUA por quatorze semanas consecutivas.
No fim, o game acabou nunca tendo uma sequência própria, já que foi nessa época que o relacionamento entre a Nintendo e a Square se desfez com o lançamento do N64, que por ainda utilizar cartuchos como mídia fez a publisher japonesa levar seus games - incluindo um certo Final Fantasy VII - para a Sony e o PlayStation. Mas, apesar de não ter uma continuação direta, Legend of the Seven Stars estabeleceu diversos conceitos que foram aproveitados principalmente por Paper Mario, tanto em alguns elementos de gameplay quanto no uso irreverente de textos espirituosos e referências bem colocadas.
Como a maioria dos jogos da Nintendo, Super Mario RPG não é considerado abandonware então, a não ser que você tenha o cartucho e um sistema para rodá-lo ou um Wii U com o jogo no Virtual Console, não é possível reviver essa aventura legalmente, mas sempre fica a esperança que em algum momento o título chegue a biblioteca do SNES do Switch Online.
E para quem quiser algo parecido, Paper Mario: The Origami King saiu para o Nintendo Switch ano passado e traz muito do bom humor herdado da obra prima que nasceu 25 anos atrás pelas mãos da Square e concretizando os planos de Miyamoto de levar seu personagem a transitar entre os diversos gêneros da indústria de jogos.