O que esperar da Nintendo em 2017
Com a chegada do Switch, os olhos da indústria estão na Big N
A Nintendo entrou em 2016 cheia de perguntas. Como seria sua entrada no mundo de games mobile? O que diabos é o NX? 365 dias depois, nós obtivemos muita respostas. Com Super Mario Run, a empresa teve a melhor estreia possível nos smartphones. Já o anúncio do Nintendo Switch - sua nova plataforma - colocou os olhos da indústria de volta na Big N, que pode retornar com tudo ao mercado de consoles depois de anos complicados com o Wii U.

A questão Switch
Mas o ano novo trouxe mais dúvidas. Agora que os holofotes voltaram para as terras de Super Mario e The Legend of Zelda, a expectativa para saber como será a chegada do Switch é enorme. A Nintendo agendou uma apresentação para o dia 13 de janeiro, às 1h30 (Brasília), e lá falará do preço, data de lançamento e jogos que estarão no console. Vai ser o primeiro momento em que entenderemos os planos da empresa para 2017. Com o Switch, um híbrido entre console e portátil, a Nintendo tem um conceito novo e arriscado nas mãos.
Por um lado, o Switch junta o melhor de dois mundos. Imagine comprar uma máquina e ter nela as atrações de console de mesa - como um RPG de mundo aberto enorme feito Skyrim - e títulos que tradicionalmente ficam nos portáteis, como Pokémon. Para isso funcionar, a Nintendo precisa apostar com tudo no conceito. Não é possível repetir os erros do Wii U, onde a tela do Gamepad foi mal aproveitada. Se o Switch virar um hub central com Mario, Zelda, Animal Crossing e todas as franquias que movimentaram as vendas do DS, Game Boy, SNES e companhia, então há uma clara razão para comprar o produto.
Isso requer da fabricante total foco na sua nova plataforma. Ela provavelmente continuará a lançar alguns jogos para o 3DS, e The Legend of Zelda: Breath of the Wild ainda vai sair no Wii U, mas é um erro considerar o Switch como "o console" e manter o 3DS como "o portátil", por exemplo. O Switch precisa ser o local para onde donos de ambos sistemas antigos irão se quiserem comprar um novo dispositivo, um encontro das duas estradas, o melhor de dois mundos. Vender seu novo videogame como o centro de todas as coisas Nintendo, o hub para todos os grandes títulos da gigante japonesa. É uma estratégia certeira. A mensagem é simples de ser transmitida, mas não deixa de ser um ótimo ponto de venda.
Não é uma corrida de 100m, é uma maratona
Ao que tudo indica, o catálogo de títulos no lançamento do Switch estará entre os melhores da história da Nintendo. Um novo Super Mario 3D, The Legend of Zelda: Breath of the Wild e Mario Kart são alguns dos trunfos da Big N que devem estar disponíveis junto com novo console em março deste ano. Se combinarmos isso com jogos de outras publishers como Skyrim, NBA 2K e Beyond Good and Evil, temos uma ótima coleção de atrativos para o novo sistema, mas isso não basta. O Wii U teve um bom catálogo na sua chegada, até o PlayStation Vita teve. O que mata plataformas, entretanto, é quando as novidades desaparecem nos meses seguintes. Especialmente no priemiro ano de vida do Switch, é importante para a Nintendo manter uma boa quantidade de games vindo.
Imagine que três ou quatro meses depois do lançamento do Switch, em julho, quando a indústria dos games fica quieta, a Nintendo lance o suposto Pokémon Stars - suposta terceira versão de Pokémon Sun/Moon - trazendo de volta uma de suas maiores franquias para os consoles de mesa, e ao mesmo tempo, mantendo-a num ambiente onde aqueles que querem jogar no avião, trem ou fora de casa ainda podem fazer isso. É uma jogada simples, mas que só pode acontecer se a Big N estiver disposta a quebrar os seus paradigmas. Pokémon, que em 2016 voltou ao topo das coisas mais populares do mundo, não pode ser mantida como uma série exclusiva do DS. Os "50% console de mesa" do Switch não podem ser um impedimento para a chegada de Pikachu e cia.
Quanto mais a Nintendo unir suas forças, mais certeza ela terá de que o Switch está seguro. Mas infelizmente, se a história nos ensinou algo, é que depender apenas de suas franquias não vende mais consoles - pergunte ao Wii U. Há dezenas de desenvolvedoras e publishers listadas como parte do grupo de empresas que está desenvolvendo games para a nova plataforma, e elas serão mais importantes do que nunca. Sim, o Switch não precisa ser tão poderoso quanto o PS4 ou o Xbox One para dar certo, mas a Nintendo não pode dispensar o caminho que o resto da indústria está tomando achando que seu nome, sozinho, será suficiente - mais uma vez, pergunte ao Wii U.
O Switch precisa ser uma casa para games de outras publishers. O primeiro passo para atrair essas empresas é ter um bom pontapé inicial. Uma vez que elas estejam no barco, é preciso mantê-las ali. O público de Call of Duty nunca vai ver o Switch como sua principal plataforma, mas se um fã dos shooters da Activision estiver considerando comprar a plataforma da Nintendo, saber que ele também poderá jogar seu jogo de tiro favorito lá pode fazer a diferença na hora da venda. O mesmo vale para Battlefront 2, o novo Assassin's Creed, FIFA 18 ou até mesmo Marvel vs. Capcom Infinite.

Manter o ecossistema de um console vivo requer muitas coisas. Uma infraestrutura online - com elementos sociais, conquistas/troféus e comunidades - e uma boa quantidade exclusivos são incrivelmente importantes para fazer isso, mas algo que a Nintendo deve ter aprendido, e que será chave para o sucesso do Switch, é a presença de um catálogo variado e constantemente atualizado de games. Do contrário, entraremos na velha situação paradoxal de "o console não vende porque não tem novos jogos, e não tem novos jogos porque não vende."
Mobile é poder
Já foi provado que o mercado mobile não é o futuro dos games. Para cada jogo que faz sucesso na App Store, há 10,000 que caem direto no esquecimento. Mas a Nintendo tem a vantagem de... bem, ser a Nintendo. Basta colocar o nome "Mario" ou "Pokémon" em algo, e as vendas começam a aparecer. Muitas pessoas - incluindo as crianças que cresceram com o Nintendo 64, Game Boy e DS - jogam no celular, mesmo que só de forma casual. E poucas empresas sacam tanto de "casual" quanto a Big N, que acertou em cheio transformando Super Mario em um corredor infinito com Super Mario Run - um dos 10 apps mais baixados no iPhone em 2016.
Em 2017, a empresa deve lançar pelo menos mais dois títulos para smartphones - um Animal Crossing e um Fire Emblem. Continuar a investir nesse ecossistema é uma aposta certeira e segura para a Nintendo. Uma âncora nos tempos de incerteza. Se ela continuar a criar experiências completas, que não parecem um free-to-play caça-níquel, e trazer jogos com sistemas que fazem sentidos no ambiente mobile, os downloads continuarão a acontecer. Animal Crossing e Fire Emblem não são Mario, mas agora a fabricante está posicionada como uma grande competidora no universo dos celulares e tablets. É só não tropeçar.
Tanto no mobile quanto nos consoles, a Nintendo tem todas as cartas que precisa para vencer. Nenhuma empresa tem tantas franquias e personagens conhecidos. Nenhum nome vem com tanto peso e é tão reconhecível quanto o dela. A grande pergunta de 2017, então, é: será que Tatsumi Kimishima, Reggie Fils-Aimé e companhia sabem aproveitar tudo isso, ou em meados de 2018 já estaremos conversando sobre as chances de Mario sair no PS4 e Xbox One?
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Na série de artigos "O que esperar" vamos falar sobre as expectativas e desafios que Sony, Microsoft e Nintendo enfrentarão em 2017. Clique no nome das empresas para ler mais.