O pôr-do-sol de Seattle apresentado em inFamous: Second Son é o cartão de visitas da Sony na nova geração de consoles. Os tiroteios de Killzone: Shadow Fall, as peças de Knack e até luzes do bom Resogun podem ser desconsiderados. Em termos gráficos, esse é título que mostra do que o PlayStation 4 é capaz.

A beleza dos cenários e dos poderes do protagonista, porém, não compõem o jogo inteiro. Minutos após o impacto inicial, a Sucker Punch mostra uma aventura repleta de missões e combates repetitivos. Apesar disso, as mecânicas da série evoluem a ponto de superar a campanha. Não demora muito para perceber que é mais divertido explorar o mapa e objetivos paralelos a seguir a história de Second Son.

Preconceitos e Delsin Rowe

A história do novo inFamous não é das mais elaboradas. Delsin Rowe, o protagonista, se envolve em um acidente e recebe poderes especiais - ele consegue absorver vários tipos de energia condutora: fumaça, neon e vídeo, por exemplo. Depois de um entrave com a D.U.P., os inimigos da trama, ele parte em uma missão para salvar parte de sua comunidade, que está entre a vida e a morte devido a Augustine, a condutora líder da D.U.P..

A narrativa segue com a conhecida jornada do herói, mas se diferencia na forma como trata a discriminação. E aí não estão somente os condutores, mas nerds, dependentes químicos e índios. Todos esses estereótipos passam pela história de Rowe sem tomar a cena, mas sempre com uma mensagem sutil sobre preconceito. Os diálogos de Delsin com o irmão Reggie, por exemplo, são a representação de situações atuais, com a diferença do contexto inserido.

"Nós vamos te consertar, Delsin. Isso não é normal, vamos achar uma cura", diz Reggie em certo momento. "Só porque não é normal não quer dizer que preciso de uma cura", rebate Delsin, para segundos depois soltar uma piada. Em momentos como esse, Second Son demonstra que não se leva muito a sério, mas não ignora os conflitos de sua história. É um enredo quadrado, sim, cheio de vilões sem graça, mas que ganha força nessas horas - e muito disso se deve a Delsin.

Cole McGrath, herói dos primeiros inFamous, poderia virar easter egg da série depois desse jogo. Rowe é o maior acerto da Sucker Punch nesta mudança da franquia. Carismático e bem escrito, o personagem equilibra as brincadeiras com um senso de dever inerente ao seu caráter, independentemente das escolhas do jogador. A falta de um antagonista à altura o deixa sem grandes momentos de embate, mas Second Son está cheio de cenas feitas para o protagonista cativar o público.

Liberdade em Seattle

Controlar Delsin parece estranho de início. Ainda sem poderes, o sujeito pula de alturas consideráveis, pratica um parkour impecável e é de uma leveza difícil de compreender. Esses questionamentos somem ao chegar em Seattle, onde os poderes aparecem. Voar, escalar e enfrentar inimigos aleatórios é outro trunfo de Second Son. A falta de peso de Delsin facilita a exploração de todos os bairros da cidade e melhora as mecânicas de combate, que variam entre o stealth e o corpo-a-corpo.

Ainda que existam essas opções de abordagem nas lutas, o jogo repete quase todos os tipos de confronto. Por mais divertido que seja controlar Delsin, depois de enfrentar os mesmos soldados e chefes, essa parcela do game torna-se preguiçosa. Os inimigos finais variam pela força e pouco mais que isso. As estratégias são simplórias e acrescentam pouco à aventura - trocar de poder para poder é o mínimo que a Sucker Punch poderia fazer. Acontece, mas não na medida certa para tornar o combate seu melhor quesito.

As missões principais também seguem um padrão de qualidade parecido. Os objetivos se repetem, assim como a forma de evoluir e conhecer novas regiões. A escolha é um desperdício pelas possibilidades oferecidas pelos poderes de Delsin. Existe uma infinidade de coisas a se fazer com fogo, fumaça, luz e vídeo, mas a Sucker Punch escolheu a pior solução possível: repetir. Assim, o game fica incompleto. É preferível voar por Seattle a lutar contra o D.U.P..

inFamous: Second Son abre a geração para a Sony. Os gráficos cumprem a tarefa de impressionar e a história melhora a qualidade da série. E apesar das falhas no sistema de missões e combate, o jogo consegue entreter sem cansar ou tratar o jogador de forma displicente. Ainda não é o game para vender consoles, mas é um bom começo para os que já são donos de um PlayStation 4.