Ao primeiro contato, parece apenas mais um jogo criado às pressas para não perder a onda do cinema. E aparências não enganam. X-Men: The Official Game, interlúdio entre o segundo e o terceiro filme da série mutante, não deve ter vida longa nos videogames.

Mesmo porque o jogo é curtíssimo. Situa o luto de Wolverine por Jean Grey, as visões que Noturno ainda tem com o telepata Jason, a preparação de Homem de Gelo para se tornar efetivo no exército de Xavier, mostra que Stryker ainda tinha trunfos guardados debaixo do Lago Alkali na forma de Sentinelas, e só.

A própria apresentação reforça a impressão de produto descartável. Os vídeos não são as tradicionais renderizações em três dimensões. São, na verdade, desenhos estáticos que se movem como se estivessem boiando na tela. Fera aparece discursando num evento governamental, mas sua boca não se mexe. Os rostos, por conta desse efeito vintage, são idênticos aos de Hugh Jackman, Halle Berry e Patrick Stewart, mas a sensação de trabalho apressado e solução meia-boca não se dissipa.

Mas o que importa mesmo é a ação. Um jogo minimamente decente precisa oferecer, antes de mais nada, variação e desafio. Coisa que a primeira missão tutorial (aquela que ensina, na prática, a usar os botões) com Wolverine, criada dentro da Sala de Perigo, não oferta. Soldados vão se acumulando e o joystick do PlayStation 2 pede água depois que o mesmo botão de ataque é pressionado freneticamente. O desafio é nulo, os combos não têm variação marcante.

O título oferece a chance de controlar, ainda, os citados Homem de Gelo e Noturno. Ao primeiro são reservadas as clássicas missões tipo corrida contra o tempo. Controla-se Bobby Drake em sua pose clássica, surfando em cima de um raio de gelo, o que dá ao personagem as características de um jogo de avião. Acelerar, frear, girar em 180º, disparar mísseis de gelo ou raios localizados - a gama de possibilidades é animadora. Mais adiante, porém, o perfil pouco eclético das missões (apagar os rojões de Pyro, fugir de Sentinelas e pouco mais que isso) transforma as manobras em uma repetição enjoativa, em todos os sentidos.

É possível que o azulão germânico tenha sido incluído em X-Men: The Official Game como prêmio de consolação - o personagem demanda efeitos visuais caros e não foi incluído no terceiro filme. Sendo assim, até que ele se defende com dignidade no PS2. Suas missões são as mais agradáveis de jogar, por conta da organização bastante intuitiva dos botões, que aproveita todo o potencial dos poderes de teletransporte do mutante sem complicar a jogabilidade. Sumir deixando rastros de fumaça, ressurgir nas costas de um oponente e aplicar combos ligeiros em pleno ar é, ainda que aos poucos canse, uma delícia.

Essa sensação se dá, também, porque o jogo com Noturno desenrola muito rapidamente, com deslocamentos e golpes ligeiros. Fica a certeza: o restante de jogo é inferior justamente por ser arrastado. Wolverine é o que se dá pior no saldo. Precisa lutar com Dentes-de-Sabre e Lady Deathstrike duas vezes cada, no meio derrubar uma infinidade de oponentes sem personalidade, e no fim das contas parece que não se avançou um só passo em sua história dentro do jogo, ou mesmo dentro da saga inteira.

Custa ousar mais no roteiro? Ou mais simples: custa incluir mais fases e mais personagens relevantes? Enfrentar o mesmo vilão mais de uma vez não é exatamente a experiência mais arrebatadora do mundo dos games.

Há casos de jogos com pouca margem de manobra no lado da história, como Warriors, que compensam com atrativos extra-narrativa. Minijogos, personagens escondidos, tudo destravável de acordo com os avanços no jogo. O que X-Men: The Official Game esconde? Míseras três missões na Sala de Perigo (que depois de vencidas não dão mais nada) e duas versões alternativas de uniformes. E só.

É ou não é coisa de jogo feito nas coxas?