Uncharted 3 Drake's Deception | Crítica
Nova aventura de Nathan Drake é brilhante e tecnicamente triunfal, mas ainda não alcançou seu verdadeiro potencial
Uncharted 3: Drake's Deception é um dos games mais impressionantes já feitos. A Naughty Dog conseguiu superar a beleza do capítulo anterior da série com mais uma cinematográfica aventura baseada em Indiana Jones, desta vez adicionando Lawrence da Arábia, de David Lean, à sua fonte de inspirações. A ideia é louvável: misturar a maior aventura de todos os tempos com um dos maiores épicos já realizados.
Uncharted 3 Drake's Deception

Uncharted 3 Drake's Deception

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Uncharted 3 Drake's Deception

Com tal fundação, a equipe criativa teve material de sobra para trabalhar - e entregou um produto à altura. Ainda que tenha um começo um tanto monótono, a segunda metade do game compensa cada minuto jogado. A fase do cemitério de navios é um exemplo de ótimo design de fases, com confrontos que empregam cada habilidade requerida pelo título. A variação de escalada, tiroteio empregando cobertura (em que armas devem ser variadas frequentemente) e furtividade ali é garantia de excelente diversão.
Outro elemento central às aventuras de Nathan Drake, os quebra-cabeças, porém, saem levemente prejudicados em relação ao jogo anterior. Os que o título tem são excelentes, mas definitivamente poderiam existir mais alguns. A criatividade da desenvolvedora nesse aspecto é insuperável - e esses momentos dão um teor contemplativo ao cenário e ao detalhamento do ambiente que poucos games possuem. É só nesses momentos que efetivamente paramos para apreciar a grandiosidade do trabalho da Naughty Dog.
A repetição de fases de exploração/plataforma com sequências de tiroteio, porém, é cansativa. Mais momentos como a perseguição à caravana, que quebram um pouco dessa mesmice, poderiam acontecer mais frequentemente. São segmentos que usam as mesmas ferramentas dos anteriores, mas dão a elas uma roupagem distinta e que trazem ao jogo uma dose extra de emoção, já que garantem algo inesperado, ao mesmo tempo mantendo-se fiel ao universo estabelecido.
Além da ação e dos mistérios, a diretora e roteirista Amy Hennig preocupou-se especialmente em dar uma profundidade maior aos personagens. Em meio à qualidade épica há momentos diversos dedicados à relação pai/filho de Nathan e Sully, seu mentor. O game inclusive relaciona a busca central da aventura com a origem da amizade dos dois, explorando o passado de Nathan. O problema desse foco no personagem é que, da maneira como a desenvolvedora encontrou para desenvolvê-lo, o controle do herói é removido frequentemente do jogador, dando lugar a cutscenes.
Como já havia acontecido no final do segundo game, essas animações podem ser incoerentes dentro do que foi estabelecido no jogo em si. Ora, depois de 634 mortes (sendo 364 por tiros ou explosões ao final do meu jogo de 10 horas), Nathan Drake iria mesmo demonstrar misericórdia à pessoa que o colocou em meio àquele problema todo? Minha vontade era colocar um tiro no meio dos olhos da vilã e não ver o personagem que eu controlei ao longo de 10 horas tentando ser alguém que, baseado na chacina que promoveu (quase três vezes mais mortos que Rambo IV), eu acredito que não seja.
Esses problemas seriam irrelevantes na maioria dos games, mas aqui simplesmente não é possível fazer vista grossa a eles, já que a série Uncharted é demasiadamente centrada em uma experiência cinematográfica, em que a narrativa e atuações (sempre ótimas!) são tão importantes quanto a jogabilidade.
Nada que a mecânica de jogo não compense, porém. Há boas novidades em Uncharted 3, como a possibilidade de atirar granadas de volta nos inimigos e o combate manual, que mistura eventos em tempo real com pancadaria convencional. É excelente partir para cima dos oponentes em uma situação desperada, sem balas, esmurrá-los e roubar deles as armas, para finalizar os sobreviventes. Isso dá uma nova dimensão ao combate no game, já que os inimigos estão ainda mais "inteligentes", frequentemente conseguindo flanquear Drake e seus aliados.
A diversão além da campanha para um jogador também ganhou com o acréscimo de novos modos de jogo multiplayer e partidas cooperativas, com uma história superficial, em que até três jogadores precisam se ajudar para terminar missões. A competição também retorna, com jogos para até seis pessoas divididas em duplas. Ainda que sejam bons de jogar, os módulos têm menus confusos, que induzem ao erro, especialmente no split-screen (algo que infelizmente tem se tornado cada vez mais comum nos videogames: a má arquitetura de informação no gerenciamento de partidas multijogador).
De qualquer maneira, acho difícil que alguém torne-se realmente apegado ao multiplayer de Uncharted 3 e retorne a ele por muito tempo depois que as lembranças da campanha single player evanesceram. O foco do game é mesmo na experiência cinematográfica (não é por acaso que a Naughty Dog esteja em Los Angeles, onde a influência do cinema faz-se sentir a cada esquina). Mas o jeitão de blockbuster de verão que dá a Uncharted 3: Drake's Deception seu impressionante apelo é o mesmo fator que limita seu potencial. O citado controle sequestrado em momentos determinantes atrapalha, assim como os caminhos marcados demais, em que, não raro, há apenas uma maneira de sobrepujar um desafio - e o game pacientemente espera para que você o encontre, atrasando um incêndio feroz até que isso aconteça, por exemplo (a explosão só acontecerá quando você cruzar a porta - o que tira o senso de urgência da fase).
Uncharted 3 é brilhante e tecnicamente triunfal, mas, diferente da maioria dos jogos, que alcança a excelência dentro do que se propõe por mirar baixo, poderia ser muito mais: a série tem potencial para tornar-se a experiência narrativa interativa perfeita, uma nova forma de entretenimento (a fase em que Drake vaga pelo deserto é comovente e prova de que isso é, sim, possível). Mas enquanto precisarem alternar as experiências cinematográfica e de jogo, os desenvolvedores jamais alcançarão isso. A Naughty Dog precisa livrar-se de certas amarras e ousar mais do que duas ou três novas implementações na jogabilidade de um capítulo ao outro. Uncharted 2 já havia alcançado tudo o que Uncharted 3 alcançou. Não são muitas as desenvolvedoras com o poder de mudar a indústria. É hora de sonhar mais alto.