Titanfall é um jogo de paradoxos. Possívelmente o FPS mais influente da atual geração de consoles, o título não fez tanto sucesso quando foi lançado, em 2014, mas desde então seus conceitos são usados a rodo por Call of Duty, o maior nome do gênero na atualidade. Há quem considere o game da Respawn o “verdadeiro” CoD, já que o estúdio, você sabe, é formado por Vince Zampella e Jason West, os grandes nomes por trás do sucesso da franquia da Activision.

O que falta para esta franquia explodir em sucesso de público, como todos esperavam, então? Em Titanfall 2, o estúdio californiano busca as respostas atendendo aos desejos dos fãs. Já que o primeiro Titanfall foi duramente criticado por ser uma experiência dedicada ao multiplayer, tome uma campanha single-player para o segundo. E que campanha.

A sinopse e os primeiros minutos podem não ser muito animadores, com seu clima militaresco genérico, mas Titanfall 2 tem um dos melhores modos single-player dos últimos cinco anos no gênero de tiro. A história, que você confere por completo na nossa maratona destacada abaixo, merece o elogio principalmente por suas fases, que figuram facilmente entre as melhores que você jogará atualmente na geração de PS4 e Xbox One.

Vínculo inquebrável

Para o single-player, a Respawn parece ter se inspirado na Valve, em uma trama que rapidamente foge da história de soldado padrão para se tornar um conto de sobrevivência no qual as circustâncias adversas aumentam de forma exponencial. Na história, que põe um grupo de rebeldes contra a tirana organização IMC, o soldado de baixa patente Jack Cooper e o titã BT são os únicos sobreviventes de uma missão mal-sucedida. Juntos, eles precisam sobreviver a um planeta infestado de inimigos e vidas de forma hostis.

A envolvente narrativa deixa de lado as grandes e icônicas cenas de ação tão características de Call of Duty para criar fases brilhantemente elaboradas - novamente, em uma influência que parece vir da desenvolvedora de Half-Life -, que fazem não apenas uso pleno do sistema de movimentação como também nos surpreendem com mecânicas inesperadas.

Um segmento do início para a metade do jogo chama a atenção. A primeira fase se passa em uma linha de produção de casas pré-prontas na qual a perspectiva da câmera e a movimentação passam da horizontal para a vertical frequentemente, criando ótimos desafios de corridas na parede e pulos duplos.

Em seguida, chegamos a um centro de pesquisas e tomamos posse de um artefato de viagem no tempo. Para passar, é preciso se alternar constantemente entre o passado e o presente, com algumas arenas contendo inimigos em ambos os períodos temporais. O frenesi de alternar-se entre uma luta contra dinossauros alienígenas e robôs-zumbis no presente e um combate contra soldados e titãs no passado faz deste mapa um dos melhores que já joguei em um game de tiro.

A dublagem nacional de Titanfall 2 também é um ponto de destaque. Anunciada em julho, a localização em português surpreende com uma ótima química entre os dubladores de Jack Cooper e do robô BT. É também, uma grande evolução para a Electronic Arts e sua distribuidora no Brasil, a WB Games, que, somadas á também boa localização de Battlefield 1, mal lembram a empresa que, no ano passado, escalou cantores para bombar as vendas de seus jogos.

Multiplayer refinado

O multiplayer de Titanfall 2 causou certa preocupação por conta de um teste técnico realizado em agosto deste ano. Entretanto, o produto final mal lembra a versão que foi disponibilizada aos jogadores, já que é muito mais refinada e balanceada.

No multiplayer, duas grandes mudanças marcam a dinâmica dos combates: a introdução de baterias para recuperar a vida dos titãs e o gancho de movimentação dos pilotos, que, no mínimo garante um balanceamento melhor entre estes dois métodos de jogar. A troca pode decepcionar quem gostava do aspecto empoderador de trazer um robô gigante ao campo de batalha, mas, de modo geral, é positiva.

Os mapas, mais abertos do que os de seu antecessor, também são uma mudança nítida. Embora nem todos eles funcionem tão bem - Latífúndio, uma espécie de “Overgrown” de Titanfall, com seus campos abertos e propícios a franco-atiradores, é um destes casos -, a maioria continua a oferecer boas opções de deslocamento verticais e, assim, aproveita bem as habilidades dos Pilotos.

O sistema de multiplayer não foge da estrutura consagrada pela Respawn em Modern Warfare, quando, vale lembrar, seus integrantes ainda eram parte da Infinity Ward. Pilotos, titãs e armas tem níveis diferentes, e você pode configurar loadouts para os soldados e para os robôs, com maiores variações, do bruto e incendiário Scorcher ao espetacular Ronin, com sua espada gigante.

Exaustão, o principal modo de jogo, oferece boas opções até para quem não é muito familiarizado com jogos de tiro, já que coloca inimigos controlados pelo computador ao lado dos jogadores em cada time. Matar um soldado controlado pela IA dá um ponto e eliminar um jogador dá 5 - é preciso acumular 400 para vencer. Com soldados e titãs menores, este modo dá o melhor exemplo da guerra caótica proposta por Titanfall 2.

Recompensa, outro modo alardeado como novidade e apresentado no teste técnico, é uma espécie de Dominação às avessas, já que você precisa acumular dinheiro eliminando inimigos e, durante um período específico da partida, correr até um ponto para “depositar” o que conseguiu juntar.

Com uma sequência que melhora todos os aspectos de seu antecessor, a Respawn acerta em cheio, mas, mais uma vez, não deve ter sucesso à altura da qualidade de seu jogo - em grande parte, por conta da data de lançamento do game, prensado entre os dois maiores nomes do gênero, Battlefield 1 e Call of Duty: Infinite Warfare. Titanfall 2 é o melhor jogo de 2016 que ninguém vai jogar. Mas, se puder, dê uma chance.

Titanfall 2 está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC (Origin). O jogo foi testado em um PlayStation 4. Clique no nome das plataformas para conferir seu preço nas versões digitais.

Nota do crítico