Ryse: Son of Rome não é o desastre anunciado por muitos antes do lançamento, tampouco é o melhor exemplo da potência do Xbox One. O novo jogo da Crytek é o marco do surgimento da nova geração de consoles com ótimos gráficos e uma série de mecânicas consagradas repetidas à exaustão.

As poucas horas de campanha evidenciam defeitos e virtudes do jogo de forma bem clara, a ponto de esclarecer o intuito de seu desenvolvimento - um deslumbre visual e sonoro. Por isso, Ryse está no limbo entre ser uma demonstração e um jogo completo. A primeira tarefa é cumprida, a segunda nem tanto.

Algumas ruínas da Roma Antiga

Ao escolher Roma como o lugar de seu primeiro jogo de Xbox One, a Crytek consegue não só agregar a curiosidade dos jogadores quanto à história do local, como incluir cenários reconhecidos e de beleza indiscutível. O Coliseu, os palácios e as fortalezas do antigo império servem como um bom exemplo da capacidade de processamento do console. Além das suntuosas construções e rostos bem definidos, a desenvolvedora não economiza nos efeitos e luz e partículas.

Tão impressionante quanto as armaduras e o constante uso da luz solar no jogo são os inúmeros objetos que flutuam na tela a todo o tempo. Dentro de um campo de batalha, a poeira dos destroços povoam todo o ambiente; o mesmo ocorre com as flores nas poucas fases situadas em florestas e com as labaredas na aldeia bárbara - de longe, o lugar mais impressionante de Ryse. Ainda que impressione pelos detalhes nos locais escolhidos, a Crytek pouco varia os ambientes do jogo, assim como os modelos de personagem e armas.

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Uma guerra de soldados e bárbaros

O maior defeito de Ryse é a repetição exaustiva de suas mecânicas. Nenhuma delas, aliás, é inédita. Todas são trazidas de outros jogos em terceira pessoa consagrados, seja Assassins's Creed, Batman: Arkham Asylum ou God of War. A execução de todas elas é feita com êxito, mas as lutas se tornam enfadonhas quando há pouca variação de golpes ou evolução real no combate. Após a primeira dezena de finalização em câmera-lenta a novidade se vai. Em um título onde a luta corpo-a-corpo é o centro da diversão, a pífia variação torna a jogatina tão automática quanto os famigerados Quick Time Events.

Durante os oito capítulos que compõem a campanha principal, Ryse se agarra em alguns conceitos de jogabilidade simplórios - alguns deles se mostram interessantes, mas perdem o frescor após tantas aparições. Um exemplo é a barricada que Mário faz com seus comandados. De início, a proposta de se esgueirar em uma fortaleza inimiga ao estilo 300 dá ideias ótimas para a evolução do combate. No entanto, a Crytek se limita a um avanço de campo e algumas flechadas para dominar o território em todas as vezes que propõe a barricada. E esse mesmo tipo de abordagem é feita com as catapultas, arco-e-flechas e qualquer variação do hack'n'slash inicial. Nada evolui, somente se repete.

Apenas o começo

A história de Ryse: Son of Rome é outro indício de sua proposta de demonstração. A trajetória de Mário é contada de forma tão superifical quanto grandiosa - os cenários e os momentos pelo qual o militar passa são feitos para mostrar a grandiosidade de uma vida dedicada à Roma. A forma canastra como trata o relacionamento de Mário com o pai, núcleo de toda a história, não deixa que exista envolvimento entre jogador e personagem. No fim, a ligação proposta pelo game é apenas visual e momentânea, como um blockbuster repleto de efeitos especiais e desprovido de emoção duradoura.

Com este jogo, a parceria da Microsoft com a Crytek obtem êxito quando o assunto é impressionar pelos gráficos. Ryse chama atenção de leigos e experientes em poucos segundos, nenhum jogo até hoje conseguiu replicar tão bem o ambiente de guerra romano como ele. Por outro lado, bastam alguns minutos com o controle para notar que o título não passa de um produto com ótima embalagem, mas de conteúdo com pouco valor. Assim como boa parte dos títulos iniciais, a novidade se atém ao visual. Resta esperar, afinal, a nova geração acaba de sair do forno.

Nota do crítico