Mesmo sem ter sido um grande sucesso quando chegou às lojas, em 2008, Mirror’s Edge deixou marcas por sua essência inovadora: um jogo em primeira pessoa em que o ponto central da jogabilidade não é uma arma de fogo, e sim a movimentação por meio do parkour. Só esse ótimo conceito já valeria um novo game e explica porque, mesmo após oito anos, a Electronic Arts dá uma nova chance à franquia com Mirror’s Edge Catalyst.

Em busca de um êxito comercial maior nessa segunda tentativa, a empresa praticamente fez um reboot, mantendo o que deu certo - o parkour em primeira pessoa e a bela direção de arte, com suas cidades assépticas e modernas -, e trocando o que menos agradou os jogadores: o fato de o título ser linear, com fases e percursos pré-estabelecidos.

Abre-se então o mapa e, com isso, a desenvolvedora DICE adota a estrutura convencional do gênero entre os títulos de alto orçamento: missões principais, secundárias e outros tipos de atividades espalhadas por aí. Na teoria, tinha tudo para dar certo. Na prática, dá muito errado porque, no gênero de mundo aberto, o cenário a ser explorado é tudo. E, em Catalyst, ele é muito pobre.

Enquanto no primeiro game cada fase surpreendia com construções elaboradas, Catalyst
faz você ir e voltar pelos mesmos lugares e, até quando varia, a sensação é de que os parapeitos, canos, escadas e blocos de concreto foram só copiados e colados de um cenário para o outro.

Menos cores, menos vida

O problema não está apenas no modo como o cenário é construído, mas também como ele é apresentado. O primeiro Mirror’s Edge funciona com uma simplicidade genial: a cor vermelha aponta para onde você deve ir. Só que, à medida que você avança, a cidade branca que sempre aparece nos materiais promocionais dá lugar a cenários de cores muito vivas, vibrantes. Procurar o vermelho, neste caso, é parte fundamental da locomoção pelas fases.

Catalyst tenta adaptar a ideia do vermelho como guia por meio de uma “visão de corredor”, mudando a cor dos objetos e indicando o caminho (que nunca é o único) por meio de uma linha rubra. O excesso de cores, nesse caso, deixaria a navegação confusa e, com isso, tome prédios brancos e paredes espelhadas. Superficialmente, a mudança é pouco perceptível, já que a estética limpa sempre foi uma marca registrada de Mirror’s Edge. Mas a falta de tonalidades acaba realçando os defeitos de seu mapa repetitivo.

A história, que poderia deixar a aventura menos tediosa, também não empolga nem funciona. Catalyst descarta a continuidade do primeiro jogo e conta a origem de Faith, colocando-a em um mundo controlado por corporações com leves críticas ao sistema capitalista atual e o 1%, com a ideia de que um grupo pequeno de famílias está no poder.

O desenrolar da aventura de Faith é tão monótono quanto os cenários, já que ninguém ao redor de Faith é cativante o suficiente para que você se importe, as missões se limitam ao básico “ir do ponto A ao ponto B, coletar itens e derrotar inimigos” do gênero de mundo aberto (o que não seria totalmente ruim, se o cenário fosse interessante), e uma das cenas do final do jogo é uma animação exibida em um de seus primeiros trailers.

Lutas horríveis

Por incrível que pareça, o pior elemento de Mirror’s Edge Catalyst não é o cenário nem a história, e sim as lutas. O game abandona o uso de armas de fogo, algo também criticado no primeiro game, em detrimento de um sistema no qual Faith só enfrenta inimgos em combate corpo-a-corpo. Assim como na construção do cenário e na história, a ideia é boa em tese, mas a execução é simplesmente desastrosa.

O combate de Catalyst se baseia em velocidade. Quando Faith corre, ela ganha uma barra de “foco” que lhe protege de balas disparadas pelo inimigo. Entretanto, a maioria esmagadora das lutas acontecem em pedaços amplos do mapa, como arenas. Quando você começa a correr, os inimigos correm atrás de você e, para acertá-los, quase sempre é preciso parar, virar na direção dos inimigos e bater. O jogo incentiva você a continuar correndo, mas para atacar você precisa parar em quase todos os casos.

Não bastasse isso, a movimentação da câmera é horrorosa, já que Faith vira em uma velocidade muito menor do que a movimentação dos inimigos (e até mesmo a sua própria). A não ser que eles estejam exatamente atrás de você, permitindo um giro em 180º, prepare-se para virar como um robô até chegar em quem você deve atacar.

Mirror’s Edge Catalyst é um jogo de boas intenções e execuções desastrosas. A EA e a DICE acertaram ao atender às justas reclamações sobre o primeiro game, mas, nessa transição, os detalhes que faziam o parkour em primeira pessoa funcionar se perderam pelo caminho. Para abrir seu mundo, a aventura de Faith perdeu sua alma.

Mirror’s Edge Catalyst está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC (Origin). O game foi testado em um Xbox One. Clique no nome das plataformas para conferir o preço do game em suas versões digitais.

Nota do crítico