Mad Max não é ruim como diversas adaptações do cinema aos games. O título da Avalanche Studios, na verdade, se destaca nesse quesito, pois tem qualidade superior a maioria de seus semelhantes. Por outro lado, se comparado a outros jogos do gênero de mundo aberto, no qual se encaixa, fica abaixo da média. Apesar do mapa extenso e das boas batalhas de veículos, as missões espalhadas por infinitas horas de jogatina são repetitivas e tornam a Terra Devastada em um deserto cheio de miragens e possibilidades iguais.

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O título consegue se situar dentro da franquia sem parecer uma sequência ou uma introdução a tudo que é visto no cinema. As roupas de Max lembram Mel Gibson, o vilão tem um quê de Immortan Joe e os carros são idênticos aos modelos produzidos por George Miller - ainda assim, essa parte carrega consigo uma originalidade digna de uma bela produção derivada de uma franquia. Toda a direção de arte, da construção das paisagens até a montagem dos veículos, são pontos positivos de Mad Max, que escorrega em outros pontos deste mesmo quesito.

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Um deles é a composição das fortalezas, os acampamentos espalhados pela Terra Devastada. Eles são dominados pelos servos do vilão Scrotus e precisam ser recuperados por Max, caso ele queira derrotá-lo e ter seu carro, o Interceptor, de volta. O jogo inteiro consiste em invadir esses locais e fazer melhorias no veículo (peças existem aos montes), em Max (tem habilidades de defesa, ataque, etc) e nas fortalezas aliadas - elas concedem 'sucata', a moeda do jogo, e outros benefícios de vigilância como descobrir minas e avistar inimigos a uma distância maior.  

É uma maneira boa de misturar as missões principais com as paralelas. O problema é que grande parte delas são iguais - assim, a narrativa fica confusa e o jogo se torna enfadonho com rapidez. Com variações mínimas, a mecânica de dominação destes locais consiste em derrubar defesas, uma luta corpo-a-corpo e a destruição do chefe. A exploração, algo que deveria ser natural e inerente ao gênero de mundo aberto, se torna obrigatório e repetitivo. O desafio de encontrar uma luta diferente, com estratégias diferentes, não existe em Mad Max - do início ao fim, tudo é sobre a memória muscular adquirida nas primeiras horas de jogo.

A história e as lutas de Max

Os filmes de Mad Max sempre usaram o protagonista para explorar diferentes gêneros do cinema, sem, necessariamente, ter o personagem principal como o centro da trama. Em uma nova mídia, a franquia acerta ao colocá-lo mais no centro do que nunca, mas esquece de dar um foco na narrativa da história. Max lembra do passado (tem memórias da filha e esposa), procura um local para descansar, mas nada disso é mostrado o com afinco pelo roteiro - muito menos pelo gameplay, totalmente voltado para o combates e personalização. Caso a diversão de vagar pelo deserto e destruir acampamentos fosse gratificante o suficiente para esquecer, ou ao menos deixar a história de lado, tudo bem, mas não é o que acontece. A narrativa do jogo é tão meio boca quanto sua veia de exploração.

E apesar de não trazer boas missões, Mad Max dá muitas possibilidades de combinação aos carros. Os amantes de veículos poderão passar algumas horas desbloqueando os atributos de cada um deles e montando o elemento necessário para destruir inimigos com maior facilidade. Existem modelos mais modestos, caminhonetes gigantes e até verdadeiros tanques de guerra. Com sorte, muitos deles podem ser encontrados vagando pela Terra Devastada, controlados por servos de Scrotus - estes, os melhores (e únicos) eventos aleatórios do jogo.

O mundo aberto de Mad Max, como vários outros, apresenta inúmeros bugs. Os problemas de colisão e física são os menos frequentes e é raro atrapalharem a experiência. Os sumiços repentinos, porém, acabam com qualquer sensação de satisfação que o jogo dá. Imagine passar minutos em uma perseguição e, de repente, todas as moedas e itens deixados pelo inimigo somem no deserto. Esse, infelizmente, é um fato recorrente na Terra Devastada de Mad Max.

Se há algo neste jogo que pode ser levado em conta são as batalhas de carros. Bem construídas da trilha sonora à física, estes embates é o que fazem a jogatina se estender mais que o normal. Os pesos e a velocidade diferem bastante os veículos, tornando o game algo realmente divertido por alguns minutos. É como se fosse um Burnout no deserto, regido por um heavy metal de qualidade e explosões que lembram o balé apocalíptico de George Miller. Mesmo que existam falhas na inteligência artificial dos inimigos, as perseguições entregam a diversão esperada de um título baseado na franquia.

Mad Max é mais um a ver necessidade de 'mundo aberto' em tudo, como se isso fosse garantia de entretenimento. O belo deserto australiano construído pela Avalanche Studios se torna vazio, não pelo caos que o construiu, mas pelas inúmeras missões iguais espalhadas por quilômetros de estrada e areia. E por mais que a viagem por estas trilhas tenham disputas acirradas entre humanos e mutantes, faltam muitas ferramentas e cuidado para este ser um trabalho de evidência - principalmente em um ano com The Witcher 3: Wild Hunt, Batman: Arkham Knight e Metal Gear Solid V: The Phantom Pain.

Nota do crítico