Pouco se espera dos primeiros games de novas gerações. Desenvolvedores ainda exploram o potencial dos novos equipamentos e normalmente as mecânicas são deixadas de lado em detrimento de terreno mais conhecido e gráficos elaborados. Killzone: Shadow Fall é mais um desses jogos, sem inovações verdadeiras e criado de forma a "cumprir tabela" para o lançamento do PlayStation 4.

Principal franquia de tiro em primeira pessoa da Sony, Killzone nunca conseguiu atrair o tipo de culto que a concorrente Microsoft obteve com Halo. Mas em um momento em que o PS4 saiu na frente, como o único sistema com um game inédito do gênero, o mínimo esperado é que ele fosse interessante o suficiente para deixar sua marca. Não é.

Killzone: Shadow Fall é abismal em sua trama. Desinteressante, arrastado, mal atuado e com uma das piores dublagens recentes nos games brasileiros. Claro que isso pouco importa para a maioria em um FPS, se a ação e as novidades entregarem o esperado. Mas o novo título da Guerilla Games fracassa também nesse sentido.

Imagino que os jogadores que pagaram 200 reais pelo jogo insistirão até o fim para extrair alguma diversão dele. Mas não fosse o preço, duvido que muitas pessoas passariam pelos angustiantes primeiros 25 minutos, que servem para explicar a história até ali e não incluem um tiro sequer. História essa que um recordatório de um parágrafo poderia suprir.

O jogador controla Lucas Kellan, jovem que viu seu pai morrer na sua frente por forças Helghan durante a invasão de sua cidade, Vekta. Ele é adotado por Thomas Sinclair, um operativo veterano "Shadow Marshal". 14 anos depois, Thomas é diretor e Lucas um novo agente, pronto para exercer sua parte na guerra.

Pra piorar, essa sequência inicial meio que já esfrega na cara toda a potência do novo motor gráfico, cheio de reflexos, flares e sobras perfeitas. A iluminação é desbundante, bem como o cenário. Mas se nos primeiros 10 minutos o game já entregou sua mão, quem ele pretende seguir impressionando?

Passado o suplício, as coisas melhoram um pouco. Há um sistema de apoio na forma de um drone, o OWL, que pode servir como transporte rápido, artilharia, escudo ou emitir um pulso de energia desorientador. Cada modo é acessado através da nova tela sensível a toques do controle DualShock 4. Somado aos sistemas de radar e adrenalina (que tornam tudo lento por alguns segundos), o drone traz alguma novidade ao combalido gênero de tiro. Pena que o design de fase e a ambientação sejam tão ruins.

Os mapas mais abertos se baseiam em uma lógica estranha: a das torres de alerta. Impeça inimigos de ligarem o alarme e você encontrará pouca resistência. O problema é que não há um sistema de furtividade para acompanhar isso - e os inimigos aparentemente enxergam quilômetros em todas as direções. A inteligência artificial é ótima para notar sua presença, na mesma proporção em que é terrível para criar estratégias de ataque ou defesa. Cada soldado se comporta quase que exatamente da mesma maneira, variando suas manobras apenas de acordo com o tipo do soldado enfrentado.

Essas torres de alarme também geram um dos grandes problemas do início do game: as hordas infinitas de inimigos. Não há como planejar ataques se naves inimigas despejam soldados a cada 2 minutos. Naves essas que desistem da caçada assim que o alarme para de tocar. Talvez a inteligência artificial dos inimigos apenas espelhe a direção de guerra dos Helghan, portanto...

E chego então ao pior e mais incompreensível sistema de checkpoints da última década nos games. Killzone: Shadow Fall baseia-se em uma lógica de checkpoints, onde ele dá os saves. Porém, cada checkpoint funciona apenas dentro da partida - tornando impossível largar o game se você não quiser jogar fora 40 minutos dentro de uma fase. É o tipo de sistema que deixa namoradas(os) loucas(os).

Ao menos os cenários são variados. Há florestas, cidades e corredores claustrofóbicos. A batalha final é até empolgante, já que dá um belo vislumbre do poder de processamento do PS4, com a tela repleta de acontecimentos, tudo iluminado com a melhor inspiração J.J. Abrams. Bonito e brilhante, Killzone: Shadow Fall é de verdade. Um espetáculo de fogos de artifício para celebrar a chegada do console novo... mas que não deixa nem o cheiro da pólvora, nem as boas memórias do evento depois.

Nota do crítico