I Am Setsuna | Crítica
Inspirado por clássicos, JRPG da Square Enix é uma experiência agradável
Quando você começa I Am Setsuna, é impossível não perceber o que a desenvolvedora Tokyo RPG Factory está tentando fazer. Esse time foi criado com um propósito simples e ele fica claro nos primeiros minutos do jogo. A ideia aqui é recriar a jogabilidade e sentimentos dos RPGs japoneses clássicos, e Setsuna não esconde sua inspiração. Pelo contrário: ele as usa com orgulho.

A perspectiva da câmera, especialmente no mapa geral, evoca os JRPGs do primeiro PlayStation. O sistema de combate é totalmente Chronno Trigger, e a história tem uma pegada clássica de Final Fantasy, particularmente Final Fantasy X. Endir, personagem que controlamos, é um mercenário contratado para matar Setsuna, uma jovem de uma pequena vila numa ilha coberta de neve.
Quando ele chega lá, Endir descobre que ela na verdade é o "sacrifício", a pessoa que oferece a vida para apaziguar os monstros quando eles começam a invadir e destruir as cidades dos humanos. A crise está pior do que nunca, e então Setsuna é enviada para sua morte. Diante disso, Endir decide que não vale a pena matá-la e acompanha a garota na penosa jornada.

Esta jornada compõe a parte principal do jogo. Ao longo dela, Endir e Setsuna encontram diversos personagens que se encaixam bem no que você espera de um JRPG clássico. Eles oferecem uma variedade interessante de personalidades e histórias pessoais que se ligam de uma forma ou outra ao enredo principal.
Conforme o tempo passa, a verdadeira natureza dos monstros e do que está acontecendo vai ficando mais clara, e os protagonistas descobrem segredos perigosos dentro do mundo. É uma narrativa dentro do que fãs do gênero estão acostumados, mas personagens divertidos e momentos que mostram uma bela sensibilidade por parte dos desenvolvedores pontuam toda a experiência e tornam a campanha agradável de se jogar.

Agradável é provavelmente a melhor forma de descrever I Am Setsuna. Esse sentimento se propaga em quase todos os aspectos do jogo. O combate flui bem - especialmente contra chefões - e você pode fazer combinações devastadoras se aprender bem a usar combos e posicionamento, mas ele raramente é desafiador.
A parte mais interessante é quando, a exemplo de Chrono Trigger, o jogo permite combinar personagens para um ataque especial. Com isso, a Tokyo RPG Factory incentiva a ideia de experimentar com trios diferentes de personagens no grupo. Combinar fulano com sicrano pode resultar num ataque único, ou numa magia que nenhuma outra dupla pode fazer. Isso não significa uma mudança grandiosa na dinâmica, mas é divertido conseguir fazer algo diferente.
A trilha sonora de Tomoki Miyoshi (Soulcalibur V), composta apenas de piano, não é fantástica, mas ela sempre deixa um clima tranquilo no ar enquanto você joga. Ainda seria melhor algo com mais variedade - afinal, se Setsuna quer ser um JRPG clássico, uma trilha sonora boa é obrigatória - mas há melodias bonitas nas músicas e você vai se encontrar assobiando algumas delas depois de um certo tempo.
Os próprios sistemas do jogo não querem deixar você com dor de cabeça e são bem simples. Ao contrário do combate, entretanto, isso é um problema. A progressão em I Am Setsuna é rasa demais. Subir de nível apenas aumenta o HP e MP do personagem, e vencer nas batalhas não dá dinheiro - você ganha itens que pode vender, mas é estranho a Tokyo RPG Factory ter adicionado um passo a mais no processo de conseguir dinheiro. Não há muitas opções de customização.
Você pode adquirir armas e materiais que permitem o uso de magia, mas tudo é muito básico. Não há nada de novo, de interessante ou diferente nos sistemas e você se encontrará repetindo o mesmo processo de batalhar, vender, comprar e equipar inúmeras vezes sem que nada traga um sentimento de real mudança na dinâmica da jogabilidade. É verdade que boa parte disso é o propósito do jogo, de ser algo tranquilo e acessível, mas nesse ponto específico, isso se torna mais uma fraqueza do que qualidade.
I Am Setsuna tem quase todos os elementos de um JRPG clássico. Entretanto, seu maior defeito está na parte visual. Os gráficos em si, os modelos de personagens e animações durante o combate são legais, mas todo cenário do jogo é uma variação na ideia de neve ou gelo. É compreensível que isso aconteça quando levamos em consideração que a história se passa num ambiente gelado, mas a falta de variedade cansa um pouco. Um jogo grande tende a ser repetitivo em alguns aspectos, mas esse é o que mais fica claro, infelizmente.
No geral, I Am Setsuna é uma experiência agradável que vai deixar os fãs de JRPG felizes. Ele não é um ótimo jogo ou algo que vai se tornar memorável, mas as 20-25 horas que levam para terminar a história são recheadas de momentos engraçados, emocionantes e dificilmente vão te deixar irritados. Para alguém que ama Final Fantasy e Chrono Trigger, a Tokyo RPG Factory criou, essencialmente, uma massagem de relaxamento.
I Am Setsuna está disponível para PlayStation 4, PC (Steam) e PlayStation Vita. O jogo foi testado em um PlayStation 4. Clique no nome das plataformas para conferir o preço nas versões digitais.