Nem de longe faço parte do seleto grupo de pessoas que consegue se divertir de verdade com jogos da franquia Souls/Born. Admiro quem consiga, pois com Dark Souls 3, na maioria das vezes me senti impotente e frustrado, com vontade de chorar e desistir de tudo. Mas, nos raros momentos em que meus esforços eram recompensados, todo o drama era esquecido e a vontade de continuar era imensa. Isso é Dark Souls.

None

Não é como se a dificuldade fosse um empecilho para impedir o jogador de se divertir. Pelo contrário. A dificuldade é como aquele professor que pegava no seu pé, todos os dias da sua vida escolar. Não o deixava escapulir um segundo sequer e você o odiava por isso. Mas no final, na hora de receber o diploma da mão dele, o mesmo com aquele olhar orgulhoso para seu pupilo, impossível não enxergá-lo com o maior respeito de todos.

Se não for iniciado na franquia, entenda logo de cara que tudo no jogo segue um padrão. O próprio tutorial já dá indicações, como quando você está andando pelo mapa inicial e segue um corredor aleatório, clica no marcador do chão e dá de cara com um "Turn Back" (retorne, numa tradução livre). Quer seguir? Ok, você pode, mas vai encontrar um monstro que talvez não esteja preparado para enfrentar. Impossível de matar? Não, mas bem difícil logo de cara.

None

Esse é o sentimento que vai guiá-lo durante todo o jogo. Se você achar que está perdido ou deu de cara com algum monstro muito forte, dê a volta e faça outro caminho. A ironia disso tudo é que, mesmo lá no começo com aquele inimigo mais forte, uma hora depois desse encontro o jogador já dá de cara com outros dois capetas mais fortes ainda. E estes estão no meio do seu caminho, como se fossem inimigos comum. A escala de dificuldade é basicamente esta, acostume-se.

Não sou um monstro do gênero, comecei minha carreira (precária) com Bloodborne e de cara já pude notar algumas diferenças (mas que são comuns na série Souls) e similaridades. A parte de criação de personagem é basicamente a mesma de todos os demais jogos da série. Cada uma das classes se apresenta com aprimoramentos específicos: mais destreza, força, vitalidade, etc. Uma constante dos jogadores e que pus à prova na minha jogatina é se arriscar a jogar com o "Deprived". Ele vem nível zero, mas carrega atributos idênticos em todas as categorias. Fica mais fácil de subir o nível uma ou outra caracterísitica da constituição do personagem, já que o status inicial é marcado em 10, um bom número se levado em conta todas as classes do jogo. Mas tenha em mente que essa classe é desprovida de armas, armaduras e qualquer auxílio inicial.

A velocidade do jogo mudou. Culpe o sucesso meio inesperado de Bloodborne, se quiser. O jogo é o mais agressivo dos Souls e instiga o jogador a ser menos cuidadoso em diversos momentos. Achei a troca interessante, pois não costumo ser do tipo paciente. Constituições como Assassino aproximam ainda mais o exclusivo da Sony do seu primo de segundo grau.

None

De novidades no combate o jogo incorporou uma posição de combate nova. Segurar a arma com as duas mãos e apertar o L2 (ou LT) aciona um ataque especial para cada arma. No entanto, ele consome uma barra de magia (PF). As magias agora consomem essa barra, e é preciso tomar cuidado para não ficar sem em momentos críticos.

O parry é uma técnica essencial para a sobrevivência em certos momentos. As esquivas funcionam muito bem, mas é que o parry consegue abrir a guarda do adversário, possibilitando um dano considerável no combate. Risco maior, recompensa maior. Um dos primeiros inimigos difíceis do jogo é um samurai com uma Uchigatana que ataca com muita velocidade. É como se ele estivesse dizendo para você "Aprenda o parry agora para não sofrer depois". É um belo treinamento, aproveite a lição.

Por falar em chefes, Dark Souls 3 conta com muitos deles. Muitos mesmo. Todos com dificuldades que variam bastante, mas com a similaridade que, em diversos momentos, o caminho até eles é mais difícil que o encontro em si. Os mid bosses do jogo fazem o jogador suar bastante e são encontrados aos montes.

O modo online segue o modus operandi dos demais. O jogador pode invadir outros jogadores e duelar por almas e honra, mas é possível ajudar aqueles que necessitam também. Neste caso, especialmente nos chefes, a dificuldade tende a diminuir drasticamente, já que a atenção do chefe da fase é dividida em duas frentes, facilitando os ataques flanqueados.

O que mais me atraiu no game foram certas montagens de cena misturadas a jogabilidade. Por exemplo, logo no começo, encontramos dois caminhos, um corredor e uma área elevada, ambas repletas de monstros. Enfrentá-los é uma opção, mas por estarmos no começo, tudo parecia indicar que o caminho estava errado e o fim próximo. Para piorar, eis que surge um dragão enorme, saído diretamente da mente criativa de George R.R. Martin, cuspindo fogo e matando todos à sua volta. O meu salvador. Mas fica a dúvida, vou ser obrigado a enfrentar esse monstro depois?

O design do jogo é algo a ser aplaudido. Monstros terríveis, ameaças visuais que plantam o terror na mente do jogador, mesmo quando ali naquele momento específico nada vai acontecer. O jogador fica atento a cada curva, cada canto do cenário, sempre esperando pelo pior. A imersão é tamanha que às vezes esquecemos de respirar. Prepare-se para um sem fim de criaturas bizarras ao seu redor.

Dark Souls 3 ensina você a vencer um obstáculo por dia. E mesmo assim, esse mesmo obstáculo pode te derrubar na próxima tela. Ele também te ensina a saborear a vitória, seja ela grande ou pequena. Todo momento de conquista no game é passível de contentamento, seja contra um chefe ou um capacho de fase que aparece mais que a tela de game over. Aproveite-o como se fosse o último.

Dark Souls 3 está disponível em versão digital para PlayStation 4, Xbox One e PC. A versão física chega ao Brasil em 15 de abril. O game foi testado em um PlayStation 4. Confira os preços do game nas páginas da PlayStation Network, Xbox Live e no Steam.

Nota do crítico